Comemoração e luto

Prezados amigos (as) e damais integrantes do Arquibancada,

Eu estava preparando o artigo para lembrar a data do 65º aniversário do Hexacampeonato de 1945, de forma a prestar um tributo ao legendário time do Rolo Compressor, quando fui surprendido pelo falecimento do seu último remanescente, o memorável zagueiro “Nena”, na madrugada desta quarta-feira, dia 17.

Por isso, adaptei o artigo e adicionei a bibliografia do Nena, para os mais jovens conhecerem um pouco mais do primeiro jogador colorado que participou de uma Copa do Mundo, e que, ao lado de Figueroa e Gamarra forma a defesa do sonhos de todos os tempos.

Saudações Coloradas

COMEMORAÇÃO E LUTO

65 ANOS DO HEXACAMPEONATO DO LEGENDÁRIO “ROLO COMPRESSOR”

UM TRIBUTO AO ÚLTIMO REMANESCENTE “NENA” – FALECIDO EM 17/11/2010

Nena e o Rolo Compressor em 1944 (Imagem arquivo site Milton Neves)

Entre os anos 1939 e 1946, assombrou os gramados sul-americanos um dos maiores times de futebol de todos os tempos, o legendário “Rolo Compressor”, de Ivo Wink; Alfeu e Nena; Assis, Ávila e Abigail; Tesourinha, Russinho, Vilalba, Rui e Carlitos. Uma equipe inigualável que aliava força, disciplina e técnica apuradíssima. Neste dia 18/11/2010 a torcida Colorada comemoraria os 65 anos do hexacampeonato citadino e estadual, que, juntamente com os títulos de 1947 e 1948 somaram 8 títulos na mesma década. Por outro lado, os Colorados também estão de luto pela perda do último integrante que ainda restava deste maravilhoso e inesquecível conjunto.

Nesta época, não havia torneios nacionais de clubes. O Campeonato Gaúcho era tão ou mais importante e reverenciado quanto o Mundial Interclubes de hoje. Graças a esse majestoso time que o futebol gaúcho tornou-se conhecido no centro do país, e levou o futebol brasileiro a ser respeitado na Argentina e no Uruguai, onde seguidamente o Colorado participava de amistosos e torneios internacionais.

Tesourinha, Nena e Ávila serviram ao selecionado nacional, enquanto sete integrantes do Rolo eram a base da Seleção Gaúcha. Carlitos, até hoje, é o maior goleador de toda a história do clube. Adãozinho e Nena foram considerados pela imprensa carioca os sucessores de Leônidas da Silva e Domingos da Guia. E… sobretudo, Tesourinha, para muitos que o conheceram e viram jogar, era “muito” melhor que Pelé.

Dentre as muitas lendas que circundam o Rolo e seus cavaleiros implacáveis, uma merece registro. Tesourinha era o atacante titular da Seleção Brasileira de 1950, mas se contundiu às vésperas da Copa do Mundo (realizada no Brasil), desfalcando o grupo que viria amargar o vice-campeonato para o Uruguai, em pleno Maracanã. Há os que atribuem aquela derrota à sua imprevisível ausência. Nena, o zagueiro intransponível do Rolo, estava lá, mas ficou no banco, assistindo sem nada poder fazer o Brasil ser humilhado em casa.

No ano de 1945, o Internacional conquistou o hexacampeonato estadual, após vencer o Pelotas por 3 a 1, no estádio da Timbaúva, em Porto Alegre, com público aproximado de 8.500 pessoas. O jogo decisivo do memorável hexacampeonato ocorreu no dia 18 de novembro de 1945. Ou seja, o dia 18 de novembro de 2010 marca o aniversário de 65 anos do maior título da época, tempos em que o memorável esquadrão Colorado começou a mudar a história do futebol gaúcho. Após estes títulos, o Rolo Compressor venceu ainda os campeonatos estaduais de 1947 e 1948, fechando oito títulos estaduais durante toda a década de 1940. Infelizmente, não há registros filmados desse memorável team, dele somente restando poucas fotos e os relatos passados de geração em geração dos que tiveram o privilégio de testemunhar seus feitos extraordinários, que mudaram a história do futebol gaúcho, transformando-o em referencial de talentos perante o Brasil e o mundo.

Nena era o último remanescente da formação Colorada dos anos 40. Faleceu em Goiânia, aos 87 anos de idade na madrugada de 17 de novembro de 2010. Um dia antes do aniversário de 65 anos da conquista do hexacampeonato de 1945. Nena foi um dos jogadores brasileiros mais importantes da sua época. Foi o primeiro jogador do Inter convocado para uma Copa do Mundo. Ao lado de Figueroa e Gamarra, forma a melhor zaga de todos os tempos.

NENA – A BIOGRAFIA DO ÚLTIMO CRAQUE DO ROLO COMPRESSOR

Nena com a camisa da Seleção Brasileira (Imagem arquivo site Milton Neves)

Nena começou jogando na várzea portoalegrense, no Esporte Clube Paraná, onde foi descoberto pelo técnico Ricardo Diéz e levado para o Internacional, aos 18 anos. Estreou no Inter no dia 12 de abril de 1942, na vitória de 5 a 2 sobre o São José, quando marcou seu primeiro gol. Logo firmou-se como zagueiro titular, passando a fazer parte do lendário Rolo Compressor, que ganhou oito títulos gaúchos nos anos 1940, e cuja formação clássica contava com Ivo; Alfeu e Nena; Assis, Ávila e Abigail; Tesourinha, Adãozinho, Russinho, Ruy e Carlitos. Com a camisa Colorada, foi campeão gaúcho em 1942, 1943, 1944, 1945, 1947 e 1948 com o chamado “Rolo Compressor”. Em 1952 e 1955, conquistou o Torneio Rio-São Paulo pela Portuguesa.

Nena também ficou conhecido como Parada 18, referência a um ponto de ônibus no bairro Tristeza, na zona sul de Porto Alegre, localizado em frente a uma loja de atacado muito popular na época. Segundo a propaganda da loja no rádio, nenhum passageiro do ônibus Tristeza passava da Parada 18. Segundo os torcedores do Inter, nenhum atacante adversário conseguia passar por Nena. Ele era excelente nas bolas aéreas e tinha um bom porte físico.

Em 1948, Nena foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, na Copa Rio Branco, estreando num empate em 1 a 1 com o Uruguai. Pela seleção, jogou 6 partidas (2 vitórias, 3 empates e 1 derrota). Integrou a delegação brasileira na Copa do Mundo de 1950, mas não chegou a jogar.

Em 1951, transferiu-se para a Portuguesa, onde fez parte do melhor time da Lusa de todos os tempos, jogando ao lado de craques como Júlio Botelho, Pinga e Simão, e conquistando os títulos do Torneio Rio-São Paulo de 1952 e 1955. Parou de jogar em 1958, mas ainda ficou alguns anos na Portuguesa, como auxiliar técnico.

Desde 2003, residia em Goiânia com a esposa Juraci Rodrigues Barbosa, com quem teve cinco filhos, dez netos e dois bisnetos. O vice-campeão mundial de 1950 e multi-campeão gaúcho deixou um herdeiro nos gramados: o meia Andrezinho, revelado pelo Corinthians de São Paulo no final dos anos 90 na geração de Gil, Edu e Ewerthon. Andrezinho passou também por Noroeste, Paysandu e Croatia Sesvete, da Croácia.

Faleceu na manhã do dia 17 de novembro de 2010, vítima de um câncer de pulmão, que havia sido descoberto recentemente.

Marcos Vaz – Porto Alegre/RIO GRANDE DO SUL
Colorado, segue a tua senda de vitórias!

9 thoughts on “Comemoração e luto

  1. Prezado Colorado Marcos Vaz,

    Somente hoje (23 de setembro de 2011) pude ler este teu excelente artigo sobre o Rolo Compressor.

    Embora tenha lido vários artigos sobre este maravilhoso time da história do Sport Club Internacional no passado através dos jornais (Correio do Povo, Folha da Tarde e Zero Hora) de Porto Alegre e revista Placar, o teu artigo lido daqui do outro lado mundo me fez voltar a um tempo que, apesar de não ter nascido na época, gostaria de ter conhecido.

    Muito obrigado por essa aula sobre a história do futebol.

    Saudações Coloradas,

    Wilson Pardi Junior
    Cônsul do Sport Club Internacional no Japão

  2. Parabéns pelo post e pela história reverenciada do Nena…Que Deus em sua infinita bondade receba-o em sua nova etapa de existência…Abraços…

  3. Débora e damais colorados do Arquibancada,

    Só para não deixar em aberto, quero fazer mais um esclarecimento:

    O primeiro jogador do Inter a ser convocado para a Seleção Brasileira foi o “Tesourinha” (Osmar Fortes Barcelos), para um amistoso contra o Uruguai em 14/5/44, marcando 1 dos gols da vitória de 6×1.

    Também foi de Tesourinha a honra de ser o primeiro “colorado” a participar de um torneio oficial da Seleção nacional, no Sul-Americano de 45, no qual foi eleito o melhor jogador do campeonato. Mais tarde foi Campeão do mesmo torneio em 49, sagrando-se artileiro e melhor jogador. Uma curiosidade, no Inter ele jogava de ponta direita, enquanto na seleção era um centroavante. Na época se jogasse em um esquema tático “WM”, ou seja, 3-2-2-3, no qual Tesourinha era o mais adiantado. Mais isso é matéria para um próximo “post”.

    Saudações Coloradas.

    Marcos Vaz
    marcosavaz@gmail.com

  4. Débora,

    Respondendo à tua pergunta: “Nena” (Olavo Rodrigues Barbosa, foi o primeiro colorado à participar de uma Copa do Mundo da FIFA, em 1950. Todavia, não estava sozinho. Contou com a companhia de Adãozinho (Adão Nunes Dorneles), seu companheiro do Rolo. O Brasil foi vice, ao perder para o Uruguai por 2×1, no Maracanã. Na época não havia final, era por pontos corridos, e o Brasil precisava só de um empate.

    O primeiro gaúcho, e também o primeiro de um clube do RS à vestir a camisa da Seleção Brasileira, foi Ismael Alvariza, do Brasil de Pelotas, em 1920. Mas Alvariza não disputou uma Copa do Mundo. Participou do Campeonato Sulamericano.

    O primeiro gaúcho a ter a honra de vestir uma camisa da Seleção nacional foi Moderato Wistainer, natural de Livramento. Jogou pelo 14 de Julho (Livram.), Cruzeiro de PoA, Flamengo do RJ, e terminou no Guarany de Alegrete.
    Participou da primeira Copa do Mundo, no Uruguai, em 1930. Mas nessa época, jogava no Rio de Janeiro. A Seleção Brasileira foi eliminada na 1ª fase, perdendo para Iuguslávia por 2×1, mas vencendo a Bolívia por 4×0.

    Na Copa do Mundo de 34, Luiz Luz (do Americano), representou o Rio Grande do Sul. Nesta, o Brasil foi eliminado na primera fase, perdendo para a Espanha por 3×1.

    Saudações Coloradas!

    Marcos Vaz

    1. Riquíssimas as suas informações históricas Marcos, parabéns. Aula de conhecimento da história do futebol Colorado, brasileiro e mundial.

      Abraço

  5. Marco, muito enriquecedor seu texto. Eu que nunca tinha entendido o pq “parada 18”, agora entendi! 🙂

    É um ídolo que nos deixa, mas a sua história já está imortalizada. Uma dúvida, ele foi o primeiro jogador gaúcho a participar de uma Copa ou foi apenas o 1º Colorado?

    Grande abraço

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