No Japão com Dallegrave

Dias atrás comentei que prepararia um post em homenagem a ARTHUR DALLEGRAVE. Uma figura admirável sob todos os aspectos. Pode não ter sido o mais vitorioso dirigente Colorado, mas, sem dúvida, para mim foi o mais carismático de todos.

Na última quinta, 8 de dezembro, pareceu-me o momento propício para tanto, por se tratar de um dia muito especial na minha vida, pois há exatos 5 (cinco) anos atrás embarcava para o Japão, junto com um contingente de Colorados, na esperançosa busca pela conquista do CAMPEONATO MUNDIAL FIFA, que acabou se concretizando alguns dias após. E foi nessa mesma viagem que tive a oportunidade de melhor conhecer e conviver com a pessoa especial de ARTHUR DALLEGRAVE. Embora já o conhecesse há anos, desde os tempos em que possuía uma loja de moda masculina em parceria com o irmão na Rua da Praia, quase defronte ao então famoso Café Rihan, ponto de encontro de desportistas e intelectuais.  Dentre tantos grupos e assuntos tratados havia o de futebol, com frequência por lá aparecia a figura de Dallegrave, grande conhecedor da matéria, com destaque ao seu amado S.C.INTERNACIONAL.

Quem conhecia Dallegrave podia notar nele uma pessoa sempre disposta e simpática a todos. Tinha trânsito livre em todos os locais e correntes do Clube. Era aceito por todos e a todos prestava colaboração. Durante 58 (cinqüenta e oito) anos dedicou-se ao INTER, tornando-se espécie de conselheiro-mor de diversas direções durante as últimas décadas. Desconheço em sua trajetória como torcedor, dirigente e até Presidente do INTER  desavenças com colegas e mesmo adversários.

Durante nossa estada no Keio Plaza Hotel em Tóquio, sempre era visto pelo saguão e próprios do hotel a bater papo com torcedores. De uma simplicidade incomum, jamais se furtava em compartilhar momentos com a torcida Colorada. Atencioso e solícito habitual, quando chamado parava para conversar e bater fotografias.

Lá pelo hotel, diariamente o encontrava, trocava algumas palavras, não havia muito tempo porque era uma pessoa bastante solicitada. Numa oportunidade dentro do elevador lhe perguntei: – Mestre, será que vamos conseguir passar pelo poderoso Barcelona? Ele com sorriso angelical e imensa sabedoria veio com a resposta pronta: – Meu jovem, esta é a nossa grande oportunidade. Não há outra maneira, tem que acontecer.

Pois bem, no dia 17 de dezembro de 2006, consolidada a conquista do MUNDIAL FIFA, tive a felicidade de encontrá-lo pela madrugada adentro  nos corredores do hotel. Estava acompanhado e abraçado a outros torcedores e num lampejo de felicidade veio ao meu encontro e me abraçou. Naquela noite foram inúmeros abraços que tive de torcedores  eufóricos e em êxtase pela maior conquista do Clube em sua história, mas confesso que o abraço de Dallegrave foi por demais comovente. Senti uma energia indescritível, como a dizer: daqueles abraços afetuosos como de um pai para filho e ainda ouvi as seguintes palavras: “Era a conquista que me faltava”.  A foto anexa foi batida naquele momento.

Passado o episódio, a partir de então fiquei a pensar que Dallegrave ao proferir aquelas palavras queria dizer “Missão Cumprida como Colorado”. Acho que pressentia que sua permanência aqui na terra já estava prestes a terminar, tanto que  veio a falecer menos de dois anos depois.

Partiu antes de ver seu amado colorado vencer a Sul-Americana e, por conseguinte, sagrar-se o “Campeão de Tudo”.  Também não chegou a vivenciar o Centenário do Clube porque partiu alguns meses antes. E como falei, ao que parece apenas aguardava a conquista do Mundial FIFA, simbolizada pelas suas palavras “Era o título que me faltava”.

E, ao finalizar, o gesto mais emocionante foi dado pela própria torcida em pleno Beira-Rio, dois dias após o seu falecimento, antes e durante o jogo contra o Chivas do México, na semifinal da Sul-Americana quando mais de 40 mil torcedores aplaudiram seu nome de pé e ao mesmo tempo circulava pelo estádio uma faixa com os seguintes dizeres “DALLEGRAVE ALMA DE CAMPEÃO”, e a torcida em coro a cantar sem parar “Dalle, dalle, Dallegrave”.

Foi emocionante e aí me veio na lembrança aquele inesquecível abraço no Japão.

Heleno Costi – Porto Alegre/RIO GRANDE DO SUL
Colorado é a minha paixão!