Série B – O fim do inferno está próximo

Vivemos no Purgatório nos anos 90 encerrado naquele evento do Mangueirão já no século 21, contra o Paysandu. Entramos no Paraíso entre 2006 e 2010. Infelizmente fomos tomados pela soberba que nos levou à inexorável trajetória para o Inferno. Esta foi nossa Divina Comédia, a qual espero vivenciá-la somente a parte do Paraíso, sem ter que passar sequer pelo Purgatório novamente.
Para ser completamente sincero, desde que começamos a utilizar pontos corridos no Campeonato Brasileiro e depois de alguns anos avaliando como este campeonato de desenvolve em um País com tantos times competitivos, utilizando este critério, a conclusão que se chega é que quedas dos chamados clubes grandes para a Série B são inexoráveis. Pode demorar mais ou menos. Times que não caíram ainda vão cair. Times que já caíram vão cair de novo. É uma espécie de ciclo de vida das coisas – produtos, serviços, gerações, etc. Em tese, os clubes que mais recebem dinheiro, sobretudo da TV, deveriam passar incólumes por este risco, se considerarmos, por exemplo, o que acontece com o Real Madrid e o Barcelona, para ficar apenas nestes dois, ou seja, o dinheiro pode criar uma diferença técnica entre os clubes que seria insuperável dentro das quatro linhas. Por enquanto não corremos este risco no Brasil porque, em geral, a gestão dos clubes é paupérrima, tanto intelectual quanto moralmente falando, trazendo no seu arcabouço os mesmos problemas que temos na gestão da coisa pública.
Assim sendo, é importante que os clubes se organizem de maneira a atenuar muito a recorrência destes fatos.
Muitos de nós, colorados, temos nos dedicado aqui no BAC para falarmos da necessidade do nosso Inter ter um planejamento de curto, médio e longo prazos, de maneira a criar uma base sustentável que evite que nosso clube incorra nos mesmos erros que nos meteu neste buraco e que não sigamos os exemplos do Vasco, Botafogo e Palmeiras, que se repetiram. Quando falamos em planejamento, há vários pontos a serem considerados, por isso, antes de tudo, uma instituição precisa definir sua Razão de Ser (Missão e Visão) e os Valores Culturais que serão observados por todos que lhe pertencem.
Os clubes, assim como as empresas, precisam estimar suas despesas e seus investimentos baseados em uma previsão segura de receita e não subverter esta ordem, ou seja, afrouxam do lado dos gastos e depois correm desesperadamente para cobrir buracos, quase sempre com rolagem de dívidas ou inadimplência com governos e jogadores. De novo aqui se vê que os mesmos métodos aplicados são um reflexo daquilo que ocorre na nossa governança pública.
O Inter deveria definir que, no futebol, seu objetivo é construir equipes cujos atletas sejam munidos de técnica, força e velocidade. Que o clube fomentará a cultura da diversidade, investindo em jovens talentos, com bom aproveitando na escola e que, antes de atleta, se construam como cidadãos. Não quero me esticar neste tema, porque já escrevi acerca disso em outro texto há alguns meses.
Agora, quero encerrar falando das lições aprendidas neste Inferno da Série B. Primeiro, a direção que nos fez passar por isso deveria ter aprendido que eles estão fora do futebol – que arrogância e presunção não têm mais lugar em quase tudo na sociedade, aliás, como nunca deveriam. Segundo, a direção, que aí está, precisa continuar trilhando o caminho da reconstrução, tijolo por tijolo, com a humildade devida, porém, com a barra lá no alto, com a ambição aderente às nossas tradições, para não se acostumar com a derrota e com o abandono de competições como tem sido nossa vida mais recente. Terceiro, que a comissão técnica responsável tenha noção do tamanho do Inter e da sua história e exija dos dirigentes um plantel capaz de nos colocar de novo no caminho das grandes conquistas e não se contente em ser líder ou campeão da Série B. Que o churrasco de comemoração pelo regresso seja comedido, que tenha no ambiente um astral positivo, mas realista, aquele que leva em conta os adversários que suplantamos – América, Paraná, Ceará, Vila Nova, etc. – muito inferiores ao Inter em todos os sentidos – história, capacidade financeira, prestígio, etc. Logo, é ótimo que comemoremos, o sofrimento foi grande, mas as vitórias foram no limite mínimo, sem aquele futebol soberano, com sequência de goleadas como deveria ser na proporção dos investimentos e história.

10 thoughts on “Série B – O fim do inferno está próximo

  1. Alô você Naladar!
    Perfeito. Vitória no limite (superação física na maioria das vezes), adversários de patamar muito inferior, o desgaste de estarmos como escrevestes no purgatório. Devemos saudar o retorno e orgulhosamente dizer que fizemos o que deveríamos ter feito depois da catástrofe futebolística, mas comemorar não. Página virada (manchada) mas com honra. Espero sinceramente que a direção esteja debruçada em planejamento AMPLO, não só para 2018 mas também para que aprendamos de uma vez por todas ‘COMO NÃO FAZER”.
    Coloradamente,
    Melo,

  2. Prezado Nala, excelente texto, amigo. tomara nossos cartolas deem uma passada aqui e leiam este post. Seria muito bom que isso acontecesse, pois talvez os erros cometidos ano passado e teriam a exata noção de como NÃO proceder e seguir os conselhos expostos para alcançar o mais breve possível, o lugar de destaque no futebol nacional e mundial, que não deveria ter perdido.
    Grande abraço

    1. Gaude, amigo, valeu….ainda bem que o Vozão não comenta aqui porque ele acha que temos uma seleção. Ele acha, inclusive, que o Anderson tem interesse em jogar futebol ainda.

  3. Saudações coloradas Naladar

    Estive lendo com calma o teu post com ideias claras e precisas sobre a nossa situação atual. Logo no início você faz algumas referências ao rebaixamento que eventualmente chega para alguns times grandes, pelos mais variados motivos. Nesse 2017 chegou a nossa vez (e que seja a última). Só uma tragédia nos tira da “A” em 2018.

    Dando uma olhadinha na classificação atual da “B” temos:
    Em 1º lugar o Inter, na sequência vem o América MG, Ceará e Paraná. Grandes possibilidades desses quatro clubes estarem na série “A” em 2018.
    Se fizéssemos um levantamento nos últimos vinte brasileirões série A com certeza na maioria das vezes o Coelho mineiro, o simpático Vozão e os bravos Paranistas não estavam presentes.

    Definitivamente amigo, esse não é o nosso lugar. E esse calvário todo por causa de uma, umazinha campanha ruim em um dos tantos brasileiros que disputamos.

    Vamos dar então uma olhadinha no campeonato dos nossos hermanos argentinos.

    Na Argentina um time não cai apenas por um campeonato ruim. O CÁLCULO DOS PIORES SE DÁ PELA MÉDIA DAS TRÊS ÚLTIMAS TEMPORADAS. Lá também caem quatro clubes, o 19º colocado e o vigésimo vão direto para a “B”. O 17º e o 18º tem uma chance de escapar pois disputam jogos eliminatórios com times da segunda divisão. Tem um regulamento específico.

    Essa é de uma certa maneira uma salvaguarda técnica para proteger os grandes clubes. E também os mais competentes. Fica a ideia lançada para viabilizar a implantação do modelo argentino de rebaixamento aqui no Brasil.

    Desculpa aí Naladar, se dei tanta ênfase a esse assunto, mas a bola estava picando, bolo nova, goleiro caído, gol aberto, corpo bem enquadrado, é tocar com carinho na gorduchinha e correr para o abraço.

    Abraço!

    1. Bike boy, excelentes observações. Conheço a regra na Argentina. Quando o River caiu foram precisos 4 anos de más campanhas para atingir a média. É muito complexo e complexidade gera corrupção. Não me parece justo, porque protege muito os clubes mais ricos, que podem repetir desmandos por 3 anos e se recuperar no quarto, por exemplo, sem pagar pela incompetência. Veja que o Inter teve que superar na incompetência ano após ano para atingir os píncaros da má gestão e cair inexoravelmente.

  4. JOGADORES DO INTERNACIONAL, JOGUEM FUTEBOL!!!

    E novamente aqui estamos felizes mais uma vez para trovar de futebol.
    Somos metidos enquanto eles treinam, nós damos o nosso lindo pitaco.
    Cada um faz o que gosta escrevendo certo, errado ou bem anormal.
    Nós ficamos aqui pensando, escalando e enchendo sempre o saco.
    Muitos atletas para avaliar com coerência mesmo sobre pressão.
    Que maravilha ver o INTERNACIONAL jogar e o COLORADO ganhar.
    Somos uma torcida que tem uma linda alma que faz pulsar o coração.
    Pode sonhar, pode sorrir até chorar, mas não vale ofender e nos xingar.
    Temos família, consciência, moral e com nossos olhos podemos ver.
    Durante uma partida poderá não ser aquele dia e nada vai acontecer.
    Não temos culpa se treinaram tanto e naquela hora deixaram de fazer.
    Do outro lado sempre haverá alguém com garra e louco para vencer.
    Acredito que contra o Criciúma os nossos jogadores jogarão bem mais.
    Será fortificante e importante, jogar melhor esta Série B e levantar a taça.
    Este ano está sendo Tri diferente Tchê, para não esqueceremos jamais.
    O que importa é a vitória de toda a nossa querida COLORADA massa.
    Tem time aqui no PORTO que já esteve duas vezes lá há algum tempo.
    Azar deles queremos ter todas as alegrias e gozar a todo o momento.
    Estamos recomeçando mais uma vez o nosso CLUBE, e sem constelações.
    Vamos ter fé, vamos ressurgir das CINZAS, para turbinar nossas emoções.
    Antes das últimas rodadas agradeceremos para que tudo flua a nosso favor.
    Terão que nos agüentar e engolirem tudo que falaram durante todo ano.
    Ser torcedor do INTERNACIONAL é compartilhar a sua DOR e seu AMOR.
    Cremos que poderemos nos safar desta Série B vencendo dentro do Campo.

    Abs. Dorian Bueno – Google+ Plus, POA, 20.10.2017

  5. Naladar, analogia perfeita com a Divina Comédia, poema de viés épico e teológico da literatura italiana e mundial, escrito por Dante Alighieri, no Século XIV e dividido em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso. Essa sensibilidade de retratar a realidade, vivida nesses últimos anos, pelo nosso Internacional e pelos torcedores Colorados, é brilhante. Resta aos Colorados acreditar no retorno ao equilíbrio e à estabilidade. Nossa esperança é de que a gestão aja mais com a razão, buscando novas e mantendo nossas estrelas e que a torcida continue com a fé necessária para acreditar na realização de seus sonhos, pois caso contrário, não conseguiremos mudar essa situação atual. Parabéns pelo teu texto!

    1. Paupério, obrigado. No final do dia, todos nós colorados temos um único e mesmo objetivo: Nosso Inter Grande dentro e fora das 4 linhas. Ah se a humanidade pudesse pensar e agir assim!

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