Sem emitir uma opinião a respeito, mas muito perto do que penso sobre alguns pontos, com o objetivo de contribuir para uma melhor informação e análise dos leitores do BAC, sobre o estágio do futebol atualmente no Brasil, estou colocando nessa postagem partes, sem retoques, de um artigo que li no Correio da Bahia, publicado na sexta-feira, dia 13 de setembro de 2013, escrito por Nelson Cadena, publicitário e jornalista.
“Urnas e chuteiras”
Se esse negócio de eleição direta para presidente de clube de futebol vingar, e estou aqui me referindo ao precedente aberto pelo Esporte Clube Bahia, o futebol no Brasil “acaba” antes do segundo tempo, não estamos preparados para isso. É que eleição direta é incompatível com o “status quo” do setor onde seus dirigentes se perpetuam no poder, ganham muito dinheiro com negócios particulares conexos, montam equipes de olho não na competência do jogador e a sua adequação ao time, mas no valor de compra e revenda e de “minha comissão”, e se em dólar e depositado nem paraíso fiscal tanto melhor. E tudo isso acontecendo com a conivência de setores da mídia, que também de olho nas chuteiras, ficam com os cadarços, a parte que lhes cabe no seu papel de engordar o porco para que na Bolsa pareça mais gordo do que realmente é. Ia me esquecendo da complacência do poder público em torno dessas práticas tão enraizadas e banalizadas e que se omite porque almejam votos das torcidas que, imagina, os chefes dos times conseguem mobilizar em tempos de eleições e também lhe inveja a desenvoltura com que trata dos “negócios”. E se todos lucram do jeito que está e como está, melhor não mudar em time que está ganhando. Simples assim, se não fosse o detalhe que quem está ganhando não é o time, nem a torcida e o resultado desse jogo não está no placar eletrônico, mas, certamente, embaixo do tapete.
Fico a imaginar o “estrago” que o futebol brasileiro teria se todos os times resolvessem convocar eleições diretas para presidente como aqui fez o Esporte Clube Bahia. Ia ser o fim do mundo. Não que uma eleição direta iniba essa bandalheira institucionalizada, mas uma coisa é o acerto de bastidores entre um grupo que se perpetua no poder, neste ou naquele time; outra é uma torcida que vai ficar no pé, cobrando, querendo saber, de olho nas contas, perguntando por quê? Eleição livre e eleitor livre para se candidatar me parecem uma utopia, incompatível com a estrutura do futebol brasileiro; instituições sem credibilidade e seus dirigentes com longos e concorridos prontuários administrados pelos melhores escritórios de advocacia do país para não saírem dos eixos.
Tenho a impressão de que o Bahia mirou no que viu e acertou no que não viu, para desespero da famiglia do futebol que deve estar a roer as unhas apavorada com o precedente baiano, que essas coisas se alastram como pólvora. E eu não sei se parabenizo o Bahia, ou lamento o ocorrido. É que fico a imaginar o desfecho disso tudo se o exemplo se consolidar como uma prática salutar dentro do futebol brasileiro. Teremos eleições diretas de dois em dois anos, já pensou? Mais uma para complicar as coisas. No comecinho será tudo mais simples, mas logo teremos campanhas publicitárias caríssimas, recursos oriundos de fontes não declaradas como doações apenas por “generosidade”, dirão isso para a gente. E o pior será, quando as campanhas, como na política, e isto é política, enveredarem pelo recurso de diminuir o adversário e aumentar o próprio estofo.
Será que estamos preparados para uma renovação de fato no futebol? Vou perguntar à CBF, mandar um e-mail com as questões e depois eu conto para vocês. Prometo!”
Informações também oriundas de notícias de jornais locais e como forma de informar os leitores do BAC, no Esporte Clube Bahia, o presidente do clube, Marcelo Guimarães Filho, foi afastado, fruto de uma ação de um sócio que não pode participar da última eleição para o conselho e colocado em seu lugar, como interventor, o advogado Carlos Rátis. Uma empresa foi contratada pela comissão de intervenção, para fazer um “diagnóstico-operacional e financeiro”, do período de 01 de Janeiro de 212 a 30 de Junho de 2013, e, por determinação do juiz Paulo Albiani, impede que as 74 páginas do relatório entregue pelo interventor ao Ministério Público Federal na Bahia, sejam chamadas de auditoria. Nesse período, foi feita uma chamada para regularização da documentação dos sócios, assim como uma chamada para novos associados, foi modificado o estatuto do clube, depois de submetido à aprovação dos sócios e, após isso, foi realizada uma eleição, também com a participação de todos os sócios inscritos, sendo eleito o novo presidente, Fernando Schmidt. A nova diretoria deverá ampliar o processo de investigação deflagrado durante o período de intervenção, que se estendeu entre os dias 09 de Julho e 11 de Setembro. Já o presidente deposto alega que o que aconteceu nesse processo foi claramente um aparelhamento político da situação. Como ambos os lados falam em desdobramentos, vamos aguardar esses desdobramentos, se houverem, e ver o resultado.
Para pensar.
Antônio Paupério – Salvador / BA
Ex-atleta Profissional de Basquete do INTER
Muito oportuno, Paupério! Penso que o amadurecimento da democracia, seja nas eleições partidárias ou em outros pleitos (de Clubes, como é o caso), depende fundamentalmente da importância que os eleitores dão às eleições. Aliás, a falta de interesse dos eleitores pela política tem motivado o aumento do número de políticos corruptos e aproveitadores neste país, isso é fácil constatar. Nos clubes de futebol, e particularmente no INTER, penso que é necessário ampliar a participação dos associados (eleitores) e torcedores nas decisões do Clube. Para isso a Diretoria precisa ter coragem, disposição e espírito democrático. Quanto mais transparente for a gestão melhores serão os resultados finais, inclusive aqueles alcançados nas quatro linhas. SC
Aquidaban, é a velha história do “olho do dono”. Penso que as administrações dos clubes deveriam ser mais abertas, mais transparentes, prestando contas à torcida e permitindo o acompanhamento da realidade dos clubes no dia-a-dia. Concordo plenamente contigo quando colocas que uma participação maior da torcida nas decisões do clube, somada a uma gestão mais eficaz, sem sombras de dúvidas. trará melhores resultados em todas as áreas. Será que alguma direção quer “abrir a caixa preta”…