Amigos, nenhum outro escrete no mundo podia oferecer o futebol que os nossos jogadores ofereceram; no sábado diante daquele mar vermelho. Não esqueçam que, aqui, vários cronistas fizeram verdadeiro terrorismo com o quadro colorado.
O nosso adversário era fabulosíssimo, ao passo que o nosso pobre jogo era antigo, obsoleto como a primeira sombrinha de Sarah Bernhardt.
Promoveram os jovens atleticanos como se fossem os fantasmas das Copas e dos Campeonatos.
E que vimos nós? Um desenho, uma pintura, um tapete bordado. Ganhamos de 2×1, e sem sorte nenhuma.
Terminamos o primeiro tempo empatados por 1×1. E o justo, o certo, o correto é que tivéssemos chegado ao fim dos 45 minutos iniciais com pelo menos um gos de vantagem se não fosse o pênalti cometido pelo nosso personagem da semana.
Mas no segundo tempo veio a tremenda explosão. Amigos, vocês viram a TV, ouviram o rádio: — o colorado mais amado deu um banho de bola, na garra e na vontade e claro. Porque o futebol se escondeu. Porém num dos mais formidáveis concorrentes do Campeonato. Não há nada melhor no futebol do que o time que, no sábado, dobrou os joelhos diante do gênio dos nossos craques.
Vejam como são as coisas. Os nossos jornais de semanas atrás, em sua maioria, não demonstraram o menor otimismo; limitaram-se a vender depressão aos seus leitores. Apresentaram as fotografias de times do passado ; de grandes times como os de 2006 e 2010. Não. Estavam muito mais interessados em relembrar, pela imagem, de outros tempos do que do agora. Vários estamparam a nossa entrada em campo contra o galo, na nossa casa . Tomados de horror, vimos o time de cabeça baixa, o time batido antes da luta. E a resposta foi a maravilhosa exibição do escrete. A exibição foi trinta vezes melhor do que outras eras foi como nas finalíssimas de outros tempos.
Naquela ocasião, os 22 homens, segundo o figurino da pelada mais humorística, faziam o jogo de bola pra frente e fé em Deus. E, no sábado a noite, que fazíamos nós? Que fez esse escrete que saiu vaiado, e repito: — esse escrete que se fez de vaias? Um jogo prodigiosamente articulado, sim, harmonioso, plástico, belo, de garra,determinação, de doação. Era uma música, meu Deus. E, por isso, entendo que a cidade se levantasse em gigantesca apoteose. Aquele corso dos velhos carnavais voltou. As buzinas estavam de uma formidável histeria. Um turista que por aqui passasse e visse 38 mil torcedores urrando havia de anotar no seu caderninho: — “Esta cidade enlouqueceu!” E, realmente, ficamos loucos. As pessoas se olhavam na rua e diziam umas para as outras: — “Somos clorados, como e bom ser colorado!”.
Ruiu, por terra, a sinistra impostura do futebol adversário. Sempre disse que seus jogadores têm uma saúde de vaca premiada. Já começo a achar que até nisso levamos vantagem; que a saúde de vaca premiada temos nós. Choviam papel picado das sacadas, e listas telefônicas. Serpentinas, confete, lança-perfume. Ou por outra: — tá tudo bem,lança-perfume, não. Mas confete e serpentina, sim. Todos os automóveis incendiados de bandeiras. Mas o que eu achei mais bonito vocês não sabem. Eis o que aconteceu: — já que não lhe faziam a justiça, o escrete fez justiça a si mesmo.
No Gigante da Beira do Rio,ou sobre as águas fez acontecer um das maiores vitorias épicas que já se viu. Fizemos jogadas que foram, para o futebol mundial, momentos de eternidade. E ele o nosso personagem? Quanta gente o negou? Quanta gente disse e repetiu: — “Não tem sangue! Não tem coragem! Não tem sangue, não tem coragem!” O vampiro de Düsseldorf, que era especialista em sangue, se provasse o sangue de Fabrício, havia de piscar o olho: — “Sangue do puro, do legítimo, do escocês.” E não foi só a coragem indomável. Impôs-se como a maior figura da jornada. Seus passes saíam límpidos, exatos, macios. Em momento nenhum deixou de ser um virtuose, um estilista.
E a bomba santa que abriu o caminho da vitória? Quando os atleticanos já faziam a tradicional cera, a nação colorada rezava angustiada pedindo aos céus algo que era de veras impossível. Mas nada e impossível para quem é eterno: — “Fabrício, Fabrício!” E ele chutou, uma bola sobrada do menino que quer ser ídolo artilheiro. Com a violência do tiro, a bola deixou de ser redonda, assumiu a forma do ovo e o goleiro adversário foi dramaticamente batido. E o gol? E o personagem enfiou aquela espantosa bola comprida. O sublime crioulo a matou e fez uma obra-prima de gol. Quanto ao gol fez rugir o Gigante adormecido,e menina chorou, e alegria voltou a sorrir no rosto da sua torcida. Driblou e enfiou no canto. E a alma da rua voou pelos ares. Eu vi a grã-fina das narinas de cadáver cair de joelhos, no meio da rua, e estrebuchar como uma víbora agonizante.
E a nação colorada espera para a próxima épica batalha a esperança de dias melhores com menos sofrimento e mais alegria. Eles voltam a sonhar com o CAMPEÃO DE TUDO a vencer novamente.
Saudações Adriano Garcia
Presidente da Regional
CONSULADO DO INTER EM SAPUCAIA DO SUL – CAMPEÃO DE TUDO!!!
Melo, já faço isso há muitos anos… A propósito, quem é Santana? Tive um quatro portas que era bom! SC
Alô você Adriano!
Quanto a imprensa já fiz a minha parte. Desde a demissão do Kenny e a passada de mão sobre o Santana eu cancelei minha assinatura do jornal e não escuto mais a rádio
gaúcha. Essa decisão é por tempo indeterminado. Se todos os colorados fizessem isso eles iriam repensar muitas coisas.
Venho repetindo há algum tempo, só para não parecer oportunista, Fabrício pode não ser o melhor lateral do Brasil, mas tem com certeza muito poucos que se igualam em qualidade. Ainda lembro o que fizeram com o Nei. Correram com o cara daqui com a imprensa insuflando e a torcida entrando nessa canoa furada, depois vieram 4 ou 5 laterais que se juntar todos não se igualarão ao Nei que não era nenhum craque.
Mas é isso, quando não tem ninguém para combater o que diz a imprensa a torcida se deixa levar e acaba pressionando a direção que por sua vez sucumbe.
Coloradamente,
Melo
Salve Adriano. Amanhã, que o “Mar Vermelho” invada novamente o Colosso da Beira-Rio e que o fluxo e refluxo das ondas, impostas pelo escrete rubro, ultrapassem o limite da cidadela verde-branco, garantindo por próprios méritos, participação em mais uma Libertadores da América, e que assim possamos reviver essa emoção que tão bem fotografastes. Parabéns.