INTER E A INSPIRAÇÃO DE SUAS CORES

 

                                                                                                           Tinha que ser vermelho.                                                                    Vermelho fogo. Vermelho sangue.                                                           Vermelho paixão. Vermelho coração.                                                                                                              

Do Livro Oficial do Centenário

         Há exatos 107 anos transcorria o distante mês de abril de 1909. Já em seu início, mais precisamente no dia 4, três rapazes resolveram criar seu próprio clube de futebol. Eram os irmãos Poppe: Henrique, José e Luiz Madeira, os quais convidaram os amigos para uma reunião. Apareceram 40 jovens, ficando estabelecido um outro encontro para a semana seguinte, com a finalidade de escolher o nome, as cores e a composição da Diretoria do Clube que acabara de ser fundado.

Assim, dias após, no domingo 11 de abril, foi definido o nome de S.C. INTERNACIONAL e eleita a Diretoria, tendo à frente João Leopoldo Seferin, como 1º Presidente.

E quanto as cores, era previsível que houvesse disputa acirrada para a escolha. As opções eram várias, mas acabou polarizada entre duas. Os jovens que estavam presentes na reunião decisória, apreciavam o carnaval portalegrense e, segundo consta no próprio site oficial do INTER, dividiam-se entre as cores vermelha e branca da Sociedades Venezianos e a verde e branca da Sociedade Esmeralda.

         O resultado não podia ter sido diferente, uma vez que a maioria, sendo simpatizante da animada sociedade carnavalesca Venezianos, optou pela cor vermelha como sendo a principal e a branca para lhe dar o contraste. A escolha não podia ter sido mais feliz.

É digno registrar, que os irmãos Poppe desejavam inserir no uniforme uma terceira cor, a preta, em homenagem à bandeira de São Paulo, pois antes de chegar em nosso estado, tinham vivido na capital paulista. Porém, a ideia não prevaleceu. Há indicativos que, com a finalidade de satisfazer o desejo dos irmãos Poppe, o time colorado em seus primeiros anos de existência utilizou-se de meias pretas, como complemento ao uniforme alvirrubro, conforme se visualiza em anexo.

         Entrementes, deve-se ressaltar que as raízes da cor vermelha dos Venezianos retroagem à época de sua própria fundação, ocorrida em 1873. O nome daquela sociedade, é oriundo dos habitantes da cidade de Veneza, segundo ilustra o desenho no documento de foto anexa.

   Quanto às cores, não sendo exatamente as mesmas daquela cidade italiana, é certo que foram inspiradas em outro modelo. Informações neste sentido, além de escassas, não são muito precisas.

         O que se pode apurar em artigos de jornais da época, ainda estavam muito presentes os ideais farroupilhas, cuja revolução terminara poucas décadas antes e a escolha da cor pelo que se pode deduzir fora inspirada no lenço colorado, que era o símbolo dos farrapos, representando o ideal revolucionário e a coragem do povo farroupilha, ou melhor dizendo, do próprio povo gaúcho. O lenço colorado, a partir de então, ficou consagrado na própria indumentária gauchesca.

         A criação da sociedade Venezianos, como a da Esmeralda, atingia apelos e objetivos de uma ação moralizadora da época para acabar com a brincadeira do entrudo, considerada de costumes hostis e não civilizados, pois se utilizava do lançamento de água com farinha entre as pessoas. O enfoque moralizador contava com apoio de militares, a começar pelo 1º Presidente da Venezianos, Cel. Joaquim Pedro Salgado, nascido em 1835, justamente no início da Revolução Farroupilha. Depois, o eminente personagem ainda participou da Revolução Federalista (1893), de início tomando parte pelo lado maragato, do lenço colorado. Lembramos, sobretudo, que a grande maioria dos fundadores da Sociedade Venezianos, nasceu durante a Guerra dos Farrapos, entre 1835/1845. Era sintomático o espírito farroupilha vigente em cada um. Não é demais informar que a cor vermelha trazida no lenço farrapo exercia tamanha influência a líderes políticos e combatentes, a exemplo do próprio Giuseppe Garibaldi, o qual, admirando a bravura dos farrapos, passou a usá-la com frequência em sua indumentária. Quando regressou à Itália, determinou que seu exército (os garibaldinos também conhecidos por camisas vermelhas), usassem a camisa encarnada em seus uniformes.

Estamos comentados fatos relacionados aos guerreiros farrapos, que aparentemente nada tem a ver com as cores do time do INTER. Contudo, pelas informações colhidas, não se pode deixar de reconhecer a sua influência e fonte inspiradora nas cores da sociedade carnavalesca Venezianos que, em última análise, acabou sendo a determinante na escolha do vermelho do time colorado. Daí a existência do elo estabelecido.

Vale lembrar, que no ano de fundação do INTER efervesciam as consequências da Revolução Federalista, poucos anos antes, tendo como integrantes, de um lado os federalistas chamados maragatos, identificados pelo lenço de cor sanguínea no pescoço, herança dos farroupilhas, de outro os republicanos, estes portadores do lenço branco.  É imaginável que o fato também tenha dado força na escolha das cores do Clube, haja vista que as duas correntes formavam justamente a dupla de cores, vermelha e branca. E nesta esteira, ressalta-se que o mentor principal do grupo responsável pela fundação do INTER, Henrique Poppe Leão, era Jornalista, tido como exímio orador e político, filiado ao Partido Republicano Rio-Grandense. Tudo está a indicar que tenha sofrido influência das ideias políticas prevalecentes daquele período.

Os fatos expostos nos levam a deduzir que a escolha das cores vermelha e branca para ostentar o manto do nosso INTER, não se limitam tão somente à inspiração na Sociedade Venezianos, mas vão além. Embora esta sociedade seja considerada como a grande responsável pela escolha, ao se estabelecer um histórico retroativo, obtém-se um liame da mesma que se estende até os tempos dos revolucionários farroupilhas. Isto significa dizer, que a mesma sociedade avocou a escolha do vermelho do lenço farrapo para si e o INTER acabou herdando essa disposição.

Gostaríamos de deixar claro que o fruto de nossa interpretação, decorre de detalhada busca de informes e partes de jornais da época (A Federação, O Independente, A Rua, Diário, A Republica, Gazetinha, Correio do Povo e outros), incluindo artigos, textos e até tese de doutorado, versando sobre os fatos narrados e, em nenhum momento, obteve-se qualquer dado que contrariasse o comentário, ao invés disso, contribuiu para reforçar a nossa exposição.

Saudações coloradas

Heleno Costi

 

8 thoughts on “INTER E A INSPIRAÇÃO DE SUAS CORES

  1. Os líderes do processo de fundação do Inter, incluindo Poppes, Seferin e Antenor Lemos, não tinham nenhuma relação conhecida com os grupos carnavalescos. Mas, ao contrário, eram diretamente ligados à política. Poppes, Seferin e Graciliano Ortiz, todos eram militantes do Partido Republicano Rio-Grandense, os chimangos. Já Antenor Lemos eram militante e tido como “fervoroso federalista”, ou seja, maragato. Sabe-se que houve uma tentativa de esmeraldinos em alterar as cores que estariam predominando, mas, sem sucesso, foram embora da reunião. Vermelho e Branco, eram cores símbolo de uma guerra civil de ódios políticos no RS, despolitizá-las é bastante problemático. Além disso, nos primeiros uniformes, elas apareciam em igualde (camisa listrada, vermelho e branco). Isso remete à simbologia unificadora do nome “Internacional”, de todas as etnias, com as cores, de todas as frentes políticas.

  2. Parabéns Heleno! Como é bom ler histórias do Internacional, além de aprofundar nosso conhecimento a sensação é de que estamos voltamos ao passado, encontrando cada momento desses lá atrás.

  3. Alô você Heleno! Mais um magnífico tabalho com a marca HC. A tese de que as cores tenha se originado do Lenço Republicado e do Lenço Federalista pode passar a ideia principal dos Poppe de um modo geral:A casa e todos independente de sua origem. Fantástico. Parabéns!

  4. Para que não pairem dúvidas, a fonte “Do Livro Centenário do INTER” refere-se somente ao teor que ficou fora de prumo na passagem para o Blog: Tinha que ser vermelho. Vermelho fogo. Vermelho Sangue. Vermelho Paixão, Vermelho Coração.
    Todo o comentário é meu.

    1. Eu fiquei na dúvida com qual matiz que o pessoal do marketing faz as camisas porque existem diversos tipos de vermelho. Acho eu que o vermelho do Inter tem um nome. Estou atrás desta informação. Obrigado.

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