Passado, presente e futuro pertencem ao mesmo lugar e espaço de tempo. Há quem diga que não, mas se tratando de futebol, nada é assim, um grande absurdo. As estatísticas se desfazem em questão de segundos, mitos também e o mais impressionante é que todas essas coisas não morrem. O mesmo lugar, palcos modificados, mesma voz e alma – o gigante de concreto do Beira-Rio é toda a certeza de que histórias se renovam com o passar dos anos, e nenhuma delas, nunca, é contada da mesma forma.
A todos os colorados que pisaram no antigo Beira-Rio, meus respeitos. Esse é o sonho que eu tinha, que infelizmente, desapareceu com cada pedaço de tijolo que foi jogado fora. O Beira-Rio, palco da minha vida desde 2009 se desfez. A alma permanece ali, os gritos da torcida são idênticos – senão mais fortes e renovados, porém, aquele Beira-Rio é que tem toda a história, este de agora carrega a alma do campeão de tudo, mas não é, de fato, um campeão. Aquela grama, aquela goleira, aquela arquibancada corroída pelo tempo, marcada pelos passos dos fanáticos que ali subiram e desceram, as manchas das lágrimas que caíram e a marca da alegria de cada pulo na comemoração dos gols – isso tudo agora é história, essa mesma que jamais será contada da mesma forma.
Minha sobrinha, uma pequena colorada, saberá de tudo que eu vi naquele gramado, sem ao menos estar ali. É, nunca pisei no sagrado lar de todos nós colorados fanáticos e não tive a chance de assim fazer antes que tudo fosse modificado. Contarei a ela cada detalhe marcante dessa vida alvirrubra que fui escolhida para viver, porém, ela não saberá imaginar. Mesmo que eu mostre vídeos, conte cada momento, será impossível a história ser vista da mesma forma. “Colorado, você faz parte dessa história” – a frase pintada desapareceu assim que D’alessandro comemorou puxando a camisa para baixo, gritando a toda a força e expondo sua alegria na comemoração do gol no grenal. O gigante da Beira-Rio não tem mais as arquibancadas que viram tal cena.
Entendem onde quero chegar? Vocês colorados que tem ao lado de vocês um estádio totalmente acessível, são grandes sortudos! Nunca tive a oportunidade ou chance de pisar naquele gigante, aberto ao vento, com raios de sol incidindo em cada canto do estádio, com aquela frase gigante de “campeão do mundo”, o que me lembra a cena épica de Fernandão e a taça do mundial depois da chegada de Tóquio. Uma história que será contada em um novo palco. A grama do novo beira-rio é como minha sobrinha de um ano – nada viu, nada sabe, será regada pelo conhecimento da história aos poucos e logo será marcada por novos momentos inesquecíveis.
Será preciso todo o nosso empenho para transformar o cheiro de novo em cheiro de raça, gana, vontade e força. Será preciso cantar ainda mais alto “minha camisa vermelha”, para que cada parte do novo estádio seja tomado pela energia da torcida colorada. Vamos trazer de volta a alma do antigo Beira-Rio e usá-la como combustível para repetir todas as glórias que compõe a nossa história. E que a cada novo grito de gol – cada pedaço do concreto, cada folha da grama, cada membrana, cada viga de aço, seja banhada pela emoção de ser torcedor do Internacional.
Os refletores de nosso novo estádio iluminam o rosto da torcida sempre presente e há de iluminar novas histórias que não precisarão ser contadas para minha sobrinha, afinal ela as presenciará. Meu sonho de pisar no velho beira-rio com cheiro de história é uma página virada. Tenho apenas a chance de estar no novo estádio e ajudar na construção de cada novo capítulo desse livro. A alma permanece a mesma, mas será preciso novos acontecimentos para transformar o novo gigante, no velho gigante de sempre.
Alô você Jéssica!
Lindo teu texto. Mesmo não tendo vivido tua realidade pois estou aqui bem ao lado do Beira-Rio pude compreender perfeitamente o teu sentimento e talvez a distância tenha te tornado mais sensível do que nós mais presentes. Tens razão as membranas, cadeiras Sky Box etc terão que ser apresentados ao grito do torcedor e a vitoriosa história de um clube.
Valeu, Coloradamente,
Melo