Não ouse duvidar do Internacional. Não ousem pensar em facilidade ou dificuldade em demasia. Dentro do Beira-Rio o que escuto são preces por desafios. Somos, inevitavelmente, guerreiros permanentes. A luta sem sofrimento não é válida por aqui – o que a gente colhe é emoção sem descrição.
A apreensão é sempre constante, o coração quase sai pela garganta a cada segundo. Sinto minha respiração sofrer drásticas alterações e não me importo nem um pouco com isso. O lance prende minha atenção e me desligo do mundo a cada passe. Não consigo voltar a si até que o juiz apite o fim do jogo. Ter o sangue desse time correndo em minhas veias não me permite pensar em outra coisa.
Juan marca o primeiro gol e sinto minhas cordas vocais arranharem de tanto que grito. Reclamo da falta de posse de bola e da falta de marcação. Levanto da cadeira mil vezes porque sentada eu fico passiva demais. Não consigo me controlar – xingo o máximo que posso, jogo as coisas para os lados, enlouqueço. Isso porque ainda estamos nos vinte minutos iniciais.
O INTER parece perdido, afobado, com pressa – eu pareço uma louca de hospício. Inacreditavelmente nervosa. Falo repetidas vezes que o colorado precisa se impôr dentro de campo – sinto que ninguém me escuta, a não ser os vizinhos, pois o nervosismo aumenta consideravelmente o tom de minha voz. Mas na volta para o segundo tempo meu coração me diz que Aguirre me escutou.
Os colombianos encurralados não sabem para onde ir – abusam da violência para justificar a falta de alternativas perante a grandeza de futebol imposta pelo Internacional. Começo a tremer a cada finalização. Jogadores são expulsos e Nilmar sai machucado assim como Sasha ainda na primeira etapa. A única coisa que penso é que tem que ser suado e chorado para fazer parte da nossa história.
Rafael Moura aparece e meus lábios balbuciam algo como “é ele quem vai marcar”. Confesso que não acredito ter dito isso, mas disse. A bola vai sendo levantada na área e só consigo ver a hora em que ela entra. Explodo de emoção, grito tanto que me falta voz. Jogo tudo para alto e saio correndo. Meu time é fantástico demais.
Rezo trocentas ave-marias e fecho os olhos. D’Alessandro se entrega mais uma vez. O time se dispõe a lutar por todos que roem suas unhas pelos quatro cantos do mundo. Aguirre se agacha para ver os minutos finais entre as frestas deixadas por todos à frente do vestiário. Me orgulho de nunca sequer ter pensado em duvidar de seu potencial como treinador.
O juiz ergue o braço e as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Não há nada que se compare à explosão de sentimentos que o INTER proporciona a todos nós. As luzes se apagam e as canções de amor incondicional saídas do Beira-Rio chegam ao meu coração. Eu sempre me surpreendo.
A fé que nos acompanha jogo a jogo se intensifica, temos Fernandão que nos abençoa pela garra lá de cima. Os adversários já nos olham de uma forma bem mais diferente, afinal, as críticas não abalam o potencial de quem deseja fortemente alguma coisa.
Caiu no horto não está morto. E santa seja a nossa FÉ.
Belo texto, Jéssica, grande COLORADA. Sei bem o que passa na tua mente e no teu coração pois torço fervorosamente para o Inter há mais de 50 anos. COMO É BOM SER COLORADO. Mesmo nos incríveis anos 70, quando a gente já sabia que o Inter iria ganhar só não sabia de quanto, também tivemos vitórias com sofrimento e no finzinho. Um exemplo disso é o gol mais lindo do Beira-Rio, tabelinha de Falcão com Escurinho de cabeça, aos 45 do segundo tempo, na semifinal do Brasileirão de 1976. O que há, realmente, é uma grande CUMPLICIDADE entre o Inter e sua Torcida: a paixão é o nosso oxigênio. Mas apesar de nossa bela campanha na Libertadores deste ano, nada foi ganho ainda, a não ser o grande lançamento/afirmação de novos craques como William, Géferson, Valdívia, Dourado e Sascha. A mídia local e nacional ainda continua a nos perseguir, mas terão de nos engolir, e a seco. VAMO VAMO INTER, RUMO AO TRI — continue nos brindando com belos textos.
INTER, INTER, INTER, NADA PODE SER MAIOR. A cada partida meu coração é submetido a esforço máximo, ontem deve ter chegado a 180 por minuto. Meu amado Pai junto com o Fernandão deve ter vibrado muito. Vamo, vamo INTER rumo ao TRI da AMÉRICA.
Ontem foi sofrido… Rumo ao TRI DA AMÉRICA!!
gostei de saber que a colunista é de São João Del Rey, cidade onde tenho parentes. 😉
CARIUXA – Rio de Janeiro
Entendo muito bem a paixão de Jéssica. É igual à minha e a de todos os colorados que estão orgulhosos de seu time!!! Vai fundo, time amado… Você tem nos dado muitas alegrias e esperamos que continue assim, cada vez mais distantes do time que insiste em se dizer o melhor do Rio Grande do Sul. Na verdade o correto é a expressão “Inter Grande do Sul”! hahahaha
Jéssica, arrepiei com o teu texto. Veio do coração, da alma colorada.
Em campo, acho que sentimos exatamente a mesma coisa, apenas que os vizinhos estão bem mais longe e torcemos, todos os 44.600 colorados, com a mesma emoção.
Foi demais. Foi alucinante. Foi INTERNACIONAL.
Parabéns pelo texto, digno de uma Jornalista apaixonada pelo INTER.
Jéssica…
só sinto não poder por motivos particulares estar aí junto, colada a esta torcida, mas meu coração pulsa junto, vamos com suor, com coragem até a final, um abraço
Eu senti tudo o que você descreveu! Eu xinguei por dentro (pois me nego a xingar meu time aos quatro ventos) e não acreditava nas chances de gol desperdiçadas! Porém, explodia a cada gol! Inter, realmente, tu é minha paixão!
Continuemos com esse espírito e coração de leão, para assim dobrar o tigre que virá e rumarmos a final de mais uma Copa.
Perfeita narrativa, parabéns Jéssica.
Time guerreiro, que valoriza, que se entrega que não tem vergonha de dar chutão para a lateral quando necessário.
Vamos Inter Grande do Sul rumo a final.
Gilson Passos
Jéssica Loures! Talvez esta seja a primeira vez que leio um texto tão envolvente, que descreveu rapidamente o jogo e o fez tão bem. Que descreveu nossas emoções de forma tão real. Parabéns! É isso que o INTER faz com a gente. Rimos, choramos, gritamos, xingamos, cantamos e pulamos! Agora temos que respirar, estudar, buscar forças. Vamos enfrentar, pra mim, o melhor time desta libertadores desde o seu início. A partida final não será no beira rio, e já que este senso de alerta e quase pessimismo vem dando certo, vou dizer aqui que não será nada fácil, mas também nada impossível. Aguirre precisa montar uma estratégia par que façamos 2 ou mais gols aqui, sem levar e que a gente viaje, com pés no chão, muita humildade, para levar no máximo um em terras mexicanas. Oremos!
Alô você Jéssica!
A frase pinçada: “tem que ser suado, chorado pra fazer parte da nossa história”, PERFEITO. Como alías foi perfeita a atuação individual dos nossos guerreiros se os quesitos forem doação, aplicação. Qualquer análise coletiva ou mesmo individual que encontre um defeito depois do que fizeram os “combatentes escarlates ” é pecado mortal.
Coloradamente,
Melo
O bom combate, sempre…