POR ADRIANO GARCIA – EL MAGO
O futebol brasileiro é caracterizado por seus “pensadores”, acadêmico ou não, como sendo portador de uma identidade própria que o singularizaria perante outras nações. Portanto, seria uma característica inerente aos brasileiros “jogar bola” de uma determinada maneira, a qual constituiria uma marca cultural carregada por nós desde o nascimento. Essa auto-representação que nos impusemos criou uma forma particular de praticar tal esporte, pensá-lo e vivenciá-lo em nosso cotidiano. É a esse futebol, construído basicamente nos anos que vão de 1930 a 1974, que designamos “futebol-arte”. Foi nos anos 70 que a concepção, tradicionalmente em voga, considerando nosso futebol uma arte e o brasileiro um artista, e relacionando isso ao negro e à “mulatice” de nosso povo, sofreu um choque com a perda da Copa de 1974. A forma como ocorreu essa derrota desencadeou críticas e alterações de perspectivas supostamente intocáveis. O debate que se seguiu, com o abalo de posições conservadoras, modernizantes ou moderadas em algumas de suas relações com o país e seu momento sócio-político foi objeto de estudo. A abordagem direta dos livros, revistas e jornais especializados na formação da opinião pública, e que foram responsáveis imediatos pelas modificações em nossa visão do futebol e de suas relações com nossa cultura. Através desta obteve-se a construção de uma determinada “verdade” (Foucault, 1986:231) e sua contestação em um momento “dramático”, no qual esses discursos aparentemente verdadeiros e naturalizados são redimensionados e arrumados em uma nova configuração simbólica, capaz de reconstruir a relação entre os indivíduos praticantes do futebol e sua identificação com o próprio Brasil. Macio Filho explicava o comportamento exibicionista de nossos primeiros jogadores de subúrbio perante os negros e os trabalhadores do início do século dizendo que aqueles eram “doidos para experimentar aquela coisa gostosa, o aplauso. Jogavam para a arquibancada” (Filho, 1964:49). Essa atitude seria admirada, incentivada mesmo, pelos torcedores, que achavam que o futebol devia ser assim, alegre como um gozo, cheio de enfeites e dribles.
Esse tipo ideal, o “futebol-arte”, não deve ser encarado como algo que possuiu um prazo de existência, e sim como uma visão de mundo sempre em jogo, sempre ao alcance dos participantes desses debates, que nunca se restringem ao futebol, mas se caracterizam por atingir nossas propostas mais íntimas de nacionalidade, utopia social e cidadania. Duas frases enraizadas em nosso senso comum esportivo demonstram o tipo de concepção do futebol e do brasileiro: “Craque já nasce feito” e “Futebol não se aprende na escola”. O jogador brasileiro já nasceria com um dom, o de possuir uma técnica inigualável para esse esporte, sendo preciso apenas soltá-lo em campo.
O “treinador-empírico” pode ser relacionado ao narrador e seu tipo de conhecimento, conforme trabalhado por Walter Benjamin. A dimensão pragmática e interpretativa do “narrador” consiste, basicamente, no fato de este ser “um homem que sabe dar conselhos” (Benjamim, 1985:200). Um dos exemplos desse tipo sóbrio e vivido, pleno de experiências, é Vicente Feola, campeão mundial de 1958, que cochilava no banco, mas era capaz de compreender seus jogadores e suas sugestões, como colocar no time Djalma Santos, Garrincha e Pelé. O importante era que fosse criado um “ambiente em que a vida se desenvolve no meio da camaradagem, e da confiança e de alegria” (Pedrosa, 1968:78). E exatamente isso que vem pregando o técnico do escrete colorado Argel Fucks arquiteta uma equipe mais equilibrada, é fato que a amostragem ainda muito pequena não nos permite tecer uma analise mais coesa e segura, no entanto a melhora já se faz presente. O fato dele falar a linguagem do bolero pode ser considerado como ponto positivo nesta transformação da equipe. Nestes últimos jogos aparece um Inter bem mais compacto marcando de intermediaria a intermediaria; são cães de guarda. Cada jogador correndo atrás da bola como se fosse um prato de comida. Marcação forte e animo vontade, garra, futebol arte. Com o comando de um maestro e de três velocistas, com dois pitbuls a frente da zaga e quatro guerreiros em prontidão de guerra – como o próprio Argel fala “o meu goleiro deixo de ser o melhor em campo”, e é isso mesmo. Todos compraram a idéia e estão seguindo arrisca, não sei se há uma cartilha; mas o que vejo é um time diferente, um velho novo time. Esta nova concepção de time nos remete ao futebol de uma era do passado do rolo compressor, da década de 70, das glorias conquistadas em 2006, 2010, e o futebol arte, pampiano se mostrando. A garra farrapo o espírito de luta, e como diz o ditado “Não está morto quem Peleia”!!
Alô você!
ARGEL representa o recomeçar. Quem sabe uma volta ao tempo em que Daltro Menezes resolveu “fechar a casinha” pois não enxergava soluções ofensivas imediatas. A providência, considerando as circunstâncias, é correta.
Coloradamente,
Melo
Nossa grande polêmica ao longo dos anos 70: FORÇA OU ARTE? Perdemos um pouco o rumo? Pode ser, pode ser.