UM DESABAFO COLORADO

Essa inquietude, ansiedade, impaciência e exigência que domina a grande maioria da torcida Colorada é bem compreensível, de certa forma aceitável, pois todos se sentem muito incomodados na Série B, do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2017. É o reflexo sincero e puro de um povo que aprendeu a superar dificuldades, a ser vencedor e a assumir a responsabilidade de resguardar a história de um grande clube. Nesse momento, é muito importante e necessário ter fé, confiar e acreditar em uma recondução de nosso Internacional ao lugar de onde nunca deveria ter saído e que o clube tem competência, força e energia necessárias para superar todas dificuldades a serem enfrentados em 2017 e no futuro. 

Em um passado recente alguém que desconhece ou não reconhece os verdadeiros sentimentos da torcida Colorada equivocadamente a classificou de arrogante. Infelizmente, desconhece a origem desse clube e o que está enraizado no coração e na mente desses torcedores com características únicas no mundo. Foi pensando sobre esse clube maravilhoso e essa admirável  torcida, que resolvi escrever esse texto, com o objetivo de tentar possibilitar um melhor entendimento desse sentimento puro que vive no coração de cada Colorado. 

Nascemos de uma oportunidade criada para corrigir uma situação vergonhosa gerada pela discriminação e preconceitos, em um passado não tão distante. Essa torcida cresceu acreditando na igualdade, na solidariedade e na força da energia de um povo igual, humilde, honesto, trabalhador e solidário. Nesse passado houve uma condenável exclusão, principalmente pela cor da pele e pelas diferenças nas condições sociais de uma parcela menos favorecida pelas oportunidades, mas, felizmente, não alijados do sonho do acesso à felicidade. 

Fomos criados juntos, misturados e iguais, desde nossa tenra idade, no Estádio dos Eucaliptos, agarrados aos seus alambrados e, dia após dia, fomos vendo a conquista dos espaços que estavam reservados a nós. Em um determinado momento, para podermos participar de uma competição nacional, fomos obrigados a jogar no estádio de nosso maior adversário e, para espanto geral, lotamos todas as suas dependências. Com a altivez e o destino traçado para um povo guerreiro, acreditamos em um sonho e ajudamos a construir o nosso majestoso Beira-Rio, a nossa nova casa, conquistada tijolo a tijolo e que hoje nos enche de orgulho. Realização impossível para os incrédulos que tratavam esse sonho como sendo a “Boia cativa”,  uma realização impossível, entretanto, com nossa total dedicação, esforço e conduzidos por notáveis Colorados, conseguimos construir essa maravilha, o mais lindo estádio de um clube de futebol, graça a união de todos os Colorados.

Nos momentos mais difíceis, nosso cobertor protetor foram as lembranças contadas com entusiasmo por nossos pais, desde os feitos dos Diabos Rubros do Rolo Compressor, ao ouro do Pan-Americano e qualidades de jogadores que encantavam dentro de campo. Tivemos a honra e a oportunidade de ver grandes craques jogando nos Eucaliptos e mostrando ao Brasil que no Rio Grande do Sul havia um grande clube pedindo espaço. Citar os nomes de alguns craques, com certeza seria fazer imperdoável injustiça com outros e esse espaço seria muito pequeno para colocar todos. Já nos momentos mais recentes, de imensa e intensa  felicidade, foram inúmeras as conquistas, desde a hegemonia no Campeonato Gaúcho, a Copa do Brasil, os Campeonatos Brasileiros (inclusive um deles, o único até hoje invicto), a Dubai Cup, as Recopa Sul Americana, as Libertadores da América e o Mundial de Clubes FIFA.

Olhando para trás, sinceramente, não é justo confundir orgulho com arrogância, basta considerar que existem méritos inegáveis na forma de luta de um clube, que já nasceu corrigindo um dos maiores males da humanidade, as discriminações e os preconceitos. Não é possível não sentir orgulho de ser Colorado, de acreditar nesse clube e em uma torcida que vive diariamente valores insubstituíveis, de igualdade, de convivência pacífica, de tolerância e de respeito mútuo.

É de bom senso não esquecer que o Internacional é um clube gaúcho e que sendo assim traz consigo o dever da hospitalidade, da solidariedade, da luta contra a desesperança gerada pela submissão e o espírito farroupilha do amor à liberdade, grandeza de convicções representadas pelos ideais de justiça, igualdade e humanidade.

Não se trata de fruto da arrogância ou um comportamento questionável essa dificuldade de aceitar a presença de nosso Internacional na Série B, do Campeonato Brasileiro de 2017, assim como repulsa à parcialidade de parte da mídia esportiva na interpretação das posições Coloradas. Aceitamos que a queda à Série B foi justa, pois os desempenhos em 2016 foram muito aquém do esperado para um clube com a grandeza de nosso Internacional, mas é exatamente isso que gera a nossa desconformidade, nossa inquietação e até certa mágoa com essa situação. Um clube com uma história linda, com tantas conquistas regionais, nacionais e internacionais, não deveria estar vivendo essa situação e causando tanto sofrimento à torcida Colorada.

Hoje, cada notícia, cada rodada e cada jogo da Série A, é uma punhalada em cada coração Colorado Insisto, não se trata de fruto de arrogância, mas de orgulho e de amor próprio ferido. O que nos conforta, mesmo com a devida humildade e o respeito a todos os demais adversários, é que temos a certeza que logo estaremos de volta, para ocupar o lugar que é nosso, de onde nunca deveríamos ter saído e prontos para alçar voos maiores, infelizmente interrompidos agora.

Para encerrar e de forma a deixar bem claro, em nenhum momento nos falta coragem ou energia para enfrentar e administrar essa situação que estamos vivendo, pois carregamos a certeza que estamos ainda mais unidos, que juntos iremos superar todas as dificuldades e que logo estaremos aproveitando os frutos da tolerância com as incompreensões e dos sacrifícios que temos que fazer hoje.

 

 

10 thoughts on “UM DESABAFO COLORADO

  1. Bom, pessoal, eu sei que estou indo meio na contramão da opinião da maioria dos participantes deste blog, mas eu acho certo o empréstimo de Valdívia ao Galo, por um ano. Assim como também achei certo a ida do Seijas para a Chape. Esses dois jogadores, apesar de serem xodós da torcida, não vinham jogando o que dizem que jogam. Mesmo pedidos em coro pelos torcedores, toda vez que entravam em campo não produziam nada de útil ao desempenho do time. Penso que será bom que passem uma temporada longe do Beira Rio para ver se recuperam o futebol que deles se espera. Pois uma coisa é certa: ambos não vinham jogando bem!
    Abraços a todos os parças do blog!

    1. José, desculpe discordar, nenhum jogador pode desempenhar bem jogando 10 ou 15 minutos em um time sem padrão de jogo e com um comando técnico confuso, pois até agora, quase cinco meses depois, ainda não disse a que veio. Lamento sempre a saída de jogadores jovens, principalmente promissores e que tem muito a dar ao Internacional e que são alijados por alguém limitado por conceitos ligados às dimensões de futebol que conhece. Se fossem jogadores de má qualidade, não haveriam tantos pretendentes. Não me comporto como “viúva” de jogador, mas lamento essa falta de visão da atual gestão, não enxergando que há carência nas posições, não há substitutos dos titulares (?) ou jogadores que as características dos que saem.

  2. Ainda dentro desta linha, Pauperio, a assessoria de comunicação do Inter deveria entender (e levar à direção) que o torcedor colorado não aguenta mais:

    Ouvir que o time está evoluindo. Ouvimos isso 2016 inteiro e deu em que?
    O time está em formação. Em final de maio?!
    Desculpas esfarrapadas de diretores de futebol. Cada vez que o Pelegrini vinha a público defender a comissão técnica, quase enlouquecia o torcedor de raiva. O mesmo acontece com esse Mello.
    Ouvir que está tudo sobre controle quando sabemos que não está.
    Falta de ambição.

    O torcedor colorado está desamparado e precisa urgentemente sentir que há indignação dentro dos muros também e não só fora deles.

    1. Dias, concordo contigo. Estamos vendo uma repetição de desculpas semelhantes as de 2016 e não consigo entender como essa gestão, que veio trabalhando e trocando praticamente todo o plantel, não consegue enxergar que tudo isso pode ser comprometido com a manutenção desse estado de coisas. Será que as lições de 2016 não foram devidamente aprendidas? Sempre tenho receio de ser apressado e cometer alguma injustiça, mas estamos falando de um projeto de seis meses e que até agora não mostrou resultados satisfatórios. Tenho plena consciência que um gestor não pode agir como um torcedor, mas, por favor, a torcida não é burra e gosta do Internacional, então por quê não ouvi-la?

  3. O futebol está muito caro, e por consequencia elitizado, sim, futebol não é mais do POVÃO, povão não tem cem, duzentos por semana pra ir assistir no estádio aos jogos do seu time, outra, o sócio que paga todo o mes a sua mensalidade ainda tem que pagar a diferença pra entrar, quer dizer em tempos de dificuldade financeira em que temos q matar um leão por dia pra viver não dá pra gastar nisso não é?? Acho que trinta reais seria o preço justo, os estádios iriam estar sempre cheios; MAS DAÍ COMO VÃO PAGAR OS BOLEIROS, CEM,DUZENTOS, TREZENTOS HUM MILHÃO DE REAIS POR MES, COMO VÃO PARAR EM HOTÉIS SEIS ESTRELAS, COMO VÃO FRETAR AVIÃO PARA IR E VOLTAR LOGO PRA SATISFAZER OS BOLEIROS??? Mas voltando ao futebol e a situação atual do nosso amado salve, salve internacional, não é questão de soberba, mas QUARTO LUGAR NA SÉRIE B???? E NINGUÉM LÁ DO CLUBE CHUTA O BALDE!!!

    1. Vanderlei, você coloca verdades em teu comentário que me fizeram recordar do meu passado. Sou do tempo de andar só de calção (hoje bermuda), sem camisa e pés descalços. Andava no meio dos meus amigos, chamados pelos filhos de pais com melhores condições de vida, de “maloqueiros”. Não era um deles, mas me sentia como sendo, irmãos de opção e coração. Cresci no meio deles, jogando bola, bolinha de gude e com míseros trocados ganhos de meu pai me mandava, muitas vezes caminhando quilômetros, para os Eucaliptos para ver nosso Internacional. Quando dava, conseguia pagar a entrada de mais um, quando o porteiro não deixava a gente entrar de graça. Era muito feliz e não havia nenhum tipo de discriminação ou preconceitos entre nós. Éramos crianças puras e sem maldade no coração e em nossas mentes. Ter dinheiro ou a falta dele não fazia diferença. Nossas merendas, quando havia, muitas vezes algumas bananas ou um pedaço de bolo, eram divididas irmãmente. Hoje, com 71 anos, penso muito em todos e lendo teu comentário, sem conseguir conter, lágrimas correram em meus olhos, pois muitos deles, Colorados como eu, não podem assistir nosso Colorado. Infelizmente essa desigualdade de oportunidades e essa discriminação feita pela força do dinheiro, nos deixa muito tristes, principalmente por sentir a falta de sensibilidade da gestão de um clube do povo e por ter esquecido que foi exatamente esse povo humilde que ergueu e sustenta até hoje esse maravilhoso clube. Urge a necessidade da criação de oportunidades que facilitem a participação desses Colorados mais humildes nos jogos no Beira-Rio e que hoje continuam, cada vez mais, alijados dessa felicidade.

  4. Paupério, bom dia! Excelente, riquíssimo texto, parabéns.

    Especificamente falando de futebol, o que mais me inquieta é que, ao comparar nosso elenco atual com os demais times da Série B temos a sensação segura que temos time de Série A. Este time recebeu reforços agora, mas eu ainda desconfio muito. O fato é que fizemos uma campanha pífia no Campeonato Gaúcho, uma das mais fracas dos últimos anos. Chegamos à final circunstancialmente. Temos ido bem na Copa do Brasil, mas, repito, é um estilo de torneio diferente e que não serve para se comparar em um Campeonato Brasileiro com 38 rodadas e com 10 times em condições de ser campeão. No Brasileirão é preciso regularidade, é preciso perder muito pouco ou quase nenhum ponto em casa e é necessário fazer pontos fora de casa, do contrário sempre vai correr risco de queda. Alguém confiaria que este nosso time atual ficaria entre os primeiros da Série A?? Eu não acho. Vai tempo que o Inter entrava sempre como favorito jogando no Beira Rio contra qualquer time. Hoje tudo é chamado de clássico, para dizer que qualquer um pode ganhar o jogo. Enquanto não voltarmos a nos impor em casa e jogar para ganhar fora vai ser difícil frequentarmos a ponto de uma Série A com robustez.

    1. Santos, assino embaixo do teu comentário. O nosso Internacional ainda mete respeito aos adversários, dentro e fora do Beira-Rio, principalmente devido a sua história, mas só nos primeiros 20 minutos, depois, pelo trabalho altamente questionável desse comando técnico, perdem o respeito e partem para cima. Não adianta ter um plantel melhor, maior e mais qualificado, se isso não significar uma equipe com desempenho melhor. Por essa e outras razões defendo a imediata troca do comando técnico, a fim de não perder mais tempo.

  5. Alô você Pauperio!
    Ansiedade a palavra é essa, ansiedade. Depois que passamos pela ansiedade da transição casa velha à casa nova, depois que trocamos o casebre aconchegante da Silveiro pela mansão da Padre Cacique, tão bem descrita nos traços do Paulo Sampaio, o famoso “Sampaulo”então nos veículos da Caldas Junior, não imaginávamos que pudesse nos acontecer de estarmos no lugar mais alto do mundo nem que estaríamos tempos depois ansiosos por mais um sábado capaz de abreviar nossa angústia. Vivemos em estado de ansiedade permanente. Precisamos resistir, vamos resistir, somos fortes, somos COLORADOS.
    Parabéns Pauperio, por esse momento de reflexão.
    Coloradamente,
    Melo

    1. Melo, como você bem define, “nós, os mais rodados” temos mais dificuldades para aceitar essa situação, pois em nosso imaginário essa possibilidade nunca existiu. Concordo plenamente contigo, somos fortes, somos Colorados e logo estaremos de volta ao lugar que de onde nunca deveríamos ter saído. A única duvida que corrói meus pensamentos é se a gestão atual está bem ciente do atual sentimento Colorado e se houve um aprendizado com as experiências do passado recente, quando não houve a competente reação e os momentos cruciais foram ignoradas.

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