Futebol e poder econômico – solução ou chatice?

 

Há anos, quando a Band começou a transmitir o futebol Italiano, nas manhãs de Domingo, meu programa era ver a Roma de Paulo Roberto Facão, Juventus de Michel Platini, Napoli de Diego Armando Maradona e o Milan de Baresi, Maldini, Franklin Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten, enquanto preparava o churrasco e esperava nosso Inter jogar à tarde.

Todos os jogadores do mundo queriam jogar na Itália, principalmente no Milan, em larga escala. Os times Italianos dominavam o futebol europeu e somente eram enfrentados pelos gigantes Real Madrid, Barcelona e Bayern. Jogadores saiam dos times espanhóis, ingleses e alemães para jogar na Itália.

Mesmo com super times na Itália, nesta época foi possível ver o Verona, a Sampdoria e porque não, o Napoli, campeões. O campeonato tinha vários times que podiam ganhar, por isso, permitia estas surpresas. Citei o Napoli porque na comparação com Milan, Juventus, Internazionale, mesmo com Maradona e Careca, seus investimentos eram infinitamente inferiores.

Depois que a crise econômica assolou os PIIGS – Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha – o futebol italiano quase faliu e somente a Juventus se manteve forte porque é patrocinada por uma gigante da indústria automobilística, tanto que domina com facilidade o futebol italiano. De lá para cá, o futebol Italiano virou uma chatice sem fim. A Juventus ganha todos os anos. Teve um ano que estava mais de 10 pontos atrás na metade do campeonato e terminou com 10 à frente do segundo.

O mesmo ocorre na Alemanha e na Espanha, desde antes da crise econômica. Clubes como o Bayern, que é um clube empresa muito bem administrado, continua reinando absoluto no futebol alemão, chegando a ser predador, porque contrata todos os melhores jogadores que aparecem no futebol alemão. Barcelona vive um quadro social invejável, com patrocínios caríssimos. Real Madrid é gerido por um bilionário e seus patrocínios são milionários. Assisto aos jogos do Barcelona porque gosto do espetáculo, mas sequer quero saber qual a posição deles na La Liga. Já sei que no fim será o Real ou Barcelona o campeão.

Agrada-me muito mais assistir aos jogos da Premier League, Inglaterra, onde há um equilíbrio grande ou pelo menos há sempre uma meia dúzia de candidatos ao título – Manchester United, Manchester City, Liverpool, Chelsea, Arsenal e Tottenham – e ainda permite o aparecimento de surpresas vez ou outra, como foi o Leicester. É hoje, de longe, o campeonato mais agradável de se assistir.

Infelizmente o futebol Europeu foi infestado por alguns bilionários e é sempre necessário ficar atento – o Chelsea é mantido pelo Abramovich, um russo bilionário do petróleo, o Manchester City tem um árabe, se não me engano, o mesmo ocorre com o PSG da França. Agora os Indianos compraram o Milan. Isto sempre é um risco, porque na hora que estes bilionários saem de cena, os clubes sofrem para se manter porque perdem seus valores culturais quando entregam seu controle para uma pessoa.

E daí, o que que o Inter tem a ver com isso? Hoje o Campeonato Brasileiro começa sempre com, pelo menos, 10 times em condições de ganhá-lo. Por isso, é considerado o mais competitivo do mundo. Enquanto o Clube dos 13 gerenciava todos os contratos, havia um equilíbrio econômico-financeiro entre os clubes, pelo menos no que se referia à verba da TV. A partir do momento em que se estabeleceu a quebra do Clube dos 13, a pedido da CBF e liderada pelo Andres Sanchez, Presidente do Corinthians, foi criado um desequilíbrio absurdo nos contratos, em que pese, os valores terem sido incrementados substancialmente para todos os clubes. No médio e longo prazos há um risco enorme deste desequilíbrio vir a causar a mesma chatice, que mencionei acima acerca dos campeonatos espanhol, italiano e alemão, no futebol brasileiro. Isto só n&at ilde;o apareceu ainda porque o Corinthians é muito mal administrado e tem muito rolos internos e o Flamengo tinha um abismo financeiro a ser superado. O Flamengo está no caminho certo conceitual e filosoficamente falando. Se não quebrar o caminho traçado, voltará a ser uma potência dentro de campo logo, logo.

Fiz toda esta contextualização para falar sobre o que eu acho que o Inter tem que fazer. Primeiro de tudo, tem que subir para a Série A. Para mim pouco importa se em primeiro ou quarto lugar. O importante é subir. Porém, o mais importante de tudo, é não cair de novo em 2018. E por que digo isso? A transição é muito difícil. O investimento para tirar do corpo do elenco atual da Série B para a Série A é alto e os efeitos financeiros de uma Série B ainda estão por vir. O Inter ainda precisa resolver o imbróglio do contrato de TV para 2019-2020 – TV fechada está com o Esporte Interativo e Aberta+Pay-per-View eu não sei como ficou, porque a Globo só fecha pacote fechado com os 3 produtos. Sei que o Inter fechou com a Globo de 2021-2024, mas tem 2019-2020 ainda sem informaç&atil de;o.

De novo, insisto, o Inter tem que terminar 2017 classificado para a Série A de 2018, mas é importante que comece a pré-temporada de 2018 com um elenco de Série A completo, sem repetir os erros que vem ocorrendo ano após ano, deixando para contratar durante ou depois do Campeonato Gaúcho. Nada de pensar em título em 2018. Nosso título em 2018 é se manter na Série A e criar uma base consistente para voltar aos anos dourados a partir de 2019. Podem analisar que os times que caíram somente se aprumaram quando vestiram as sandálias da humildade para se reconstruírem com planejamento, gestão responsável das finanças e objetivos claros de médio e longo prazos.

Naladar L. Santos

11 thoughts on “Futebol e poder econômico – solução ou chatice?

  1. Prezado Naladar, excelente texto que traz à mente as imagens da adolescência, nos sábados e domingos pela manhã, quando se podia ver a geração de craques estelares jogando um futebol vistoso e parecido com aquele que vimos o nosso Inter jogar um dia, com grande capacidade ofensiva, uma defesa sólida e um meio de campo que impunha a sua maneira de jogar fosse onde estivesse.

    Para nós, não havia jogar fora de casa, havia a certeza de que seria uma vitória, não se sabia por quanto. Estes grandes times europeus hoje, fazem exatamente a mesma coisa. É uma reedição do que já fomos um dia, talvez não com tanto poder econômico, mas tínhamos uma fluência de jogo invejável, o Brasil custou a fazer a leitura do que era feito aqui.

    Vivemos agora, na baixa latitude da série B e o teu prognóstico sobre o que fazer após a subida, caso seja conseguida, é estabelecer as diretrizes precisas para a manutenção lá e sair às compras antes do atual ano acabar, é muito oportuno e acertado. Resta saber se esta mesma direção que fez parte da turma que nos puxou a descarga canalização do descenso abaixo, saberá tomar as atitudes e fazer o trabalho de preparação do extenuante e meticuloso plano de reconstrução do espírito vencedor do Inter, após a dilapidação continuada ano após ano, nesta década passada, de tudo que custamos 3 décadas para construir.
    Grande abraço

  2. Caro Naladar, eu também acompanhava lá na já distante década de noventa o desfilar de craques no campeonato italiano. Grandes manhãs assistindo futebol de primeira linha naquele que indiscutivelmente era o melhor campeonato nacional do mundo.

    Sobre o tema do seu post, “Futebol e poder econômico – solução ou chatice?” penso o seguinte:

    Quando há um grande desequilíbrio econômico entre os clubes o campeonato acaba ficando chato. Na Alemanha por exemplo, onde o Bayern além de ser um potência econômica, age como predador retirando os melhores atletas do único concorrente que é o Dortmund (Götze, Lewandowski e recentemente Hummels saíram de lá). Qual é a graça assistir verdadeiros massacres do Bayern sobre seus concorrentes menos aquinhoados?

    Na Espanha não é diferente. Goleadas homéricas do Real e Barça sobre seus concorrentes. Os títulos nacionais são de um ou de outro. Chato isso!

    Agora Na Premiere League, como você citou, a conversa é outra, mesmo com toda a grana do Abramovich, do dono do M. City, ídem do United tem jogo. O Totenham, Arsenal e Liverpool chegam junto. É um campeonato muito interessante, no momento o mais interessante pela justiça na distribuição da verba milionária dos direitos de transmissão pela tv. Mesmo os clubes menores tem $ e não é pouco para reforçar suas equipes. Gerando um campeonato muito mais equilibrado tecnicamente que o alemão e o espanhol. Goleadas são bem mais raras no inglês do que no espanhol.
    Consequência disso é que a Premiere League se não é o que mais cresceu, é com certeza um dos campeonatos que mais cresceram em audiência no mundo!

    Sobre o nosso Inter, o momento é de buscar uma afirmação. Passo seguinte como você disse reforçar o time preparando para a série A. Já em 2017. Reforços indiscutíveis de acordo com um modelo de jogo previamente elaborado e estudado. Para entrarem e vestirem a camiseta de titular. Primar pela qualidade e não pela quantidade.

    P.S.: E aí amigo, quando pensamos que só em 2017 já saíram 44 atletas (quem dos que saíram estamos lamentando?) dá para ver o tamanho do buraco em que estávamos metidos!

    Abraço!

  3. Pra se manter na serie A ano que vem, tem que contratar no mínimo uns sete á oito jogadores, se manter este elenco, cai de novo. Digo com firmeza isso por que enfrentamos times de medio pra ruim, estamos parindo uma bigorna pra vencê-los imaginem na elite. E não me venham com essa que com o tempo iremos passar a jogar um futebol mágico, com esses jogadores definitivamente não, SUBIREMOS COM CERTEZA isso tenho convicção, mas se manter é outros quinhentos.

  4. Bom dia Naladar e colorados…

    Mto bom o tema e a explanação d mesmo trazendo muitas lembranças como essa d campeonato italiano qdo eu e acho q a maioria n tinha acesso aos canais fechados q trazem o futebol d mundo inteiro,inclusive 2 divisão,as nossas casas,qdo o Falcão se tornou rei d Roma…
    Sobre isso,gostaria d falar q já começaram os boicotes globais ao Inter por ter assinado com o EI,notaram q os jogos d Inter q é a maior novidade na série B não passam no SPORTV,até d Juventude passaram terça e nós só no pay-per-view,o ano passado passaram quase tds jogos d Vasco…

    É verdade o q vc falou,o prejuízo financeiro por ter caído só é administrável por uma temporada,duas seria o CAOS,subir é fundamental mas n podemos cair no erro d considerar heróis esses jogadores,o elenco depois d reconduzido a série A ” matemáticamente” deverá ser reavaliado e melhorado muito,até p n haver relaxamento, por isso já falei aqui q deveria ter novas eleições no final d ano pois n confio nessa turma q se adonou d Brio…

    Abs!!!

    1. João, obrigado pelo comentário. Tenho assistido os jogos do Inter no SporTV. Pelo menos em SP onde moro todos os jogos aos sábados são no SporTV.

  5. Alô você Naladar!
    Bela abordagem. Não sabes como terminou o imbróglio TV INTERATIVA? E bem provavel que a esmagadora maioria da torcida Colorada não saiba, mas sabes o que é pior do que isso? A MAIORIA DOS MEMBROS DO CONSELHO DELIBERTIVO NÃO SABEM. É por aí que tem que começar, em minha opinião. O conselheiro para assumir deveria ser sabatinado para comprovar o seu conhecimento a respeito do Estatuto Colorado. O número de conselheiros é exagerado também. Só aí qualificando o CD, é que a porta começaria a se abrir para a grande qualificação de seus quadros e a verdadeira modernização. Qualquer coisa diferente disso não me sensibiliza em termos de avanço.
    Coloradamente,
    Melo

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