Era noite de quarta-feira e a cidade pulsava agitada e tensa. Assim também estava meu coração desde o momento em que abri os olhos pela primeira vez naquela manhã. Eu caminhava solitário em meio à multidão, trazia em uma das mãos uma bandeira e ao adentrar o estádio senti minhas pernas bambearem e meu coração acelerar. Sozinho eu não estava, afinal ao meu lado uma multidão de homens e mulheres caminhavam aflitos, eufóricos e nervosos. Sentiam no peito o mesmo medo que eu senti, e no pensamento somente um desejo: a vitória.
Minutos depois, talvez horas, eu estava enrolado na bandeira e dos meus olhos lágrimas vertiam em abundância, o choro era incontido. Eu soluçava, sentia o coração tocar as costelas em desenfreada batida. Eu sofria. Chorava qual criança e não escondia o meu choro daquelas mais de cinquenta mil pessoas que estavam por perto. Um homem chora sim, e eu chorei, sem a menor vergonha. Chorei sem ter dor, chorei de medo e angústia. Chorei para ter sorte e com muita força me mantinha de pé.
Tempos depois regressei aquele gigante de concreto tão parecido com as arenas da antiga Roma. Neste dia eu estava só e o gigante vazio não rugia. Em uma das mãos o mesmo pano que em outra noite escondeu meu rosto enquanto eu soluçava. Sentei e lembrei dos tempos de menino em que ali estive com minha mãe e ela segurava forte minha mão. Depois com meu pai, meus primos e amigos. Vou lembrando das tardes de domingo, das noites de quartas-feiras e novamente uma lágrima furtiva escorreu por meu rosto.
Não lembro o dia em que me tornei Colorado, não lembro da primeira camiseta que ganhei, não lembro desses fatos. Mas lembro da vez primeira em que me vi vestido como um jogador de futebol. Eu estava com a camiseta do SPORT CLUBE INTERNACIONAL, com a camiseta alvi rubra de gola branca. Eu negro como a noite, me imaginava ser o Paulo Roberto Falcão, com seus cachos loiros a correr pela grama verde do estádio Beira-Rio. E eu ali no espelho, pronto para sair na rua, me encarava cheio de orgulho pensando ser o “Falcão”.
Daquela manhã até hoje se passaram trinta e cinco anos. Hoje não quero ser nenhum jogador de futebol famoso, me orgulho em ser apenas torcedor do INTERNACIONAL. Lembrei que com seis anos, em mil novecentos e setenta e nove, comemorei o título de campeão brasileiro sem entender bem o que se passava, mas com a imensa alegria de ir para a rua de bandeira na mão, saudar os carros que passavam buzinando meu time.
Hoje, o INTER, completa cem anos e aquele sonho de menino, de ver meu time ser o melhor do planeta, aconteceu e eu pude ver. Vi, vibrei e chorei com o título de “Campeão do Mundo” conquistado no Japão. E não pense que isso foi fácil, ganhamos daquele que todos diziam ser a maior e melhor equipe do mundo. Mas o meu INTER liderado pelo capitão Fernandão venceu o Barcelona e alegrou milhões de colorados desconhecidos como eu.
O INTER não tinha o Figueroa de capitão, e seu cotovelo de gladiador; não tinha Falcão, e sua elegância no meio campo; também não tinha o príncipe Jajá, esse sim eu podia ser, afinal, tínhamos a mesma cor de pele e o mesmo cabelo encaracolado. Mas tinha alegria dos dois moleques: Pato e Luis Adriano; a raça do zagueiro Índio e a garra de outros tantos guerreiros que lutaram por aquele título, para muitos desacreditados, menos para nós COLORADOS.
Como dizem os gringos que hoje vestem nosso mando “jogamos a morrer” e vencemos. Glória ao Sport Clube Internacional e seus 101 anos de lutas e conquistas!
Hoje vivemos em tempos de paz sem gladiadores combatendo em arenas, mas toda vez que saio de casa e levo comigo meu pano vermelho e branco me sinto um guerreiro. Meu peito se infla e sinto força em meus pulmões para gritar e incentivar por noventa minutos o meu time. O meu INTER. O meu sentimento é que, se fosse necessário, me envolveria na bandeira alvi rubra e seria um guerreiro a lutar até a morte contra os inimigos que tentam menosprezar aqueles que são da minha mesma família, da FAMÍLIA COLORADA.
É tempo de paz, são tempos de paz, mas ao meu INTER eu gostaria de dizer que seria mais um guerreiro voluntário a invadir Roma, o Egito, a Azenha e o lugar que for. Levando comigo o brasão Colorado no peito, a bandeira no ombro e o sentimento de lutar por um amor, por um time, uma nação.
Ao INTERNACIONAL, com carinho agradeço por existir e o saúdo por seus 101 anos. Aos meus pais e minha família, agradeço por me fazer COLORADO.
Meu amigo !!!
foi inevitável, após a leitura, fiz uma retrospectiva na minha vida colorada. Emoção pura !!!
Parabéns !
Lindo texto! Parabéns Marcelo.São energias renovadas para mais uma semana de alegrias.
Marcelo….QUE POST MARAVILHOSO. Puxa, muita emoção. Conseguiste transmitir, com certeza, aos leitores, toda a tua história de Colorado. Consegui, à medida em que ia lendo teu texto, acompanhar o teu crescimento como Colorado. Parabéns. Que continuemos a ter textos desta qualidade neste Blog. Nolci
Marcelo, parabéns pelo belo post. Emocionante, me arrepiei com teus relatos, fiquei realmente emocionada.
Grande abraço e seja bem vindo ao Blog.