E o futebol continua a dar lições de vida…

A história deste esporte fascinante está impregnada de exemplos de vida, onde times fabulosos foram subjugados pela humildade e dedicação de equipes menos pretensiosas. 

HUNGRIA 54

Foi assim na Copa de 1954, quando a magnífica seleção da Hungria, liderada pelo “major galopante” Ferenc Puskas, e que fora campeão olímpica de 1952, sucumbiu à modesta Alemanha. Naquela Copa, os magiares haviam marcado 27 gols em 5 jogos, marca até hoje não superada, tendo goleado em todas as partidas da fase eliminatória, inclusive marcando 8 x 3 na própria Deutscher Fußball-Bund que haveria de lhe roubar o título na final. 

HOLANDA 74

Em 1974, a inovadora seleção Holandesa, do fabuloso craque Johan Cruijff e do genial técnico Rinus Michels, introduziu a maior revolução no futebol desde que o esporte bretão foi criado, através do chamado “Futebol Total”. Todavia, o forte preparo físico, a grande movimentação tática do “carrossel” e o elevado nível técnico do time que arrasaram os adversários em fila (inclusive o Brasil e a Argentina), tropeçou, na final da Copa, no “azarão” germânico dos “operários” Gerd Müller e Franz Beckenbauer. 

BRASIL 82

Idêntico destino amargou a vibrante Seleção Brasileira de 1982, de Falcão, Zico, Sócrates, Cerezo, Éder, Junior e do inesquecível Telê Santana. O time que jogava por música colecionava goleadas arrasadoras e chegou à Copa da Espanha invicta e como favorita inquestionável. Foi eliminada nas quartas de final pela zebra italiana do inexpressivo e desconhecido Paulo Rossi, que marcou 3 vezes, apesar dos gols de Sócrates e Falcão.

Em 17 de dezembro 2006, diante de uma Europa perplexa, o Colorado gaúcho foi protagonista de uma das maiores façanhas da história do futebol moderno, quando derrubou a até então invencível “seleção do mundo”, pelo qual ficou conhecido o time milionário do Barcelona, provando definitivamente ao mundo que não existe limite nem desafios impossíveis quando se tem coragem, dedicação e, principalmente, humildade.
Passados 4 anos daquela proeza insofismável, o Clube do Povo provou que a lição ensinada ao mundo por aquele modesto time de improváveis Campeões Mundiais foi completamente esquecida nos gramados do Beira-Rio. A humildade foi substituída pelos holofotes, e enquanto técnicos e jogadores dos tocaios intercontinentais disputavam vaidades nos espaços da mídia esportiva, o esporte, mais uma vez… deu uma lição de vida.

O Mazembe de 2010 foi o Inter de 2006. O Davi de ontem, tornou-se o Golias de hoje, agigantado por sua soberba e vaidade, na segurança de que tocaria o céu com o simples erigir dos braços. O time do povo, esquecido de suas raízes sucumbiu à própria arrogância, esnobando a bravura e o espírito de grandeza e superação do pequeno e despretensioso time congolês. Mais uma vez… a humildade e a coragem desbancou o favorito. Mais uma vez, o esporte deu uma lição de que fama e poder nem sempre vencem.

Todos falam das vitórias. Mas poucos são os que lembram de que para ser grande também é preciso saber cair e levantar. Entre 7 títulos da Libertadores e 2 títulos mundiais, o multicampeão Independiante da Argentina também amargurou 5 derrotas em mundiais, ao passo que Boca Juniors, o maior colecionador de títulos internacionais (17 ao todo), apesar de 6 conquistas da América e 3 títulos intercontinentais, perdeu outras 3 decisões de título mundial. O poderoso Barcelona já havia perdido outras 2 decisões antes de amargar a terceira para o Internacional de Abel Braga.

Grandes times também perdem, como a história já provou tantas vezes. Não existem times imbatíveis. Perder faz parte das regras do jogo… A grandeza de um time não se mede pela sua incolumidade, mas pela capacidade de assimilar os erros, levantar-se do tombo, recobrar as forças e retomar a senda de vitórias… Para um time grande, sempre haverá um amanhã…

Colorados e coloradas, deçamos do pedestal. No futebol não existem “zebras”, ganha quem no campo, efetivamente, mereceu vencer. Parabéns ao Tout Puissant (em tradução literal: todo poderoso) Mazembe, da República Democrática do Congo, que fez jus, inquestionavelmente, à vitória. Se em 2006 Gabiru e Iarley deram uma lição de humildade e grandeza ao mundo, em 2010, Kabangu e Kaluyituka apenas confirmaram aquilo que nós mesmos, um dia, ensinamos aos nossos discípulos africanos: o futebol é movido essencialmente pela superação…

Marcos Vaz – Porto Alegre/RIO GRANDE DO SUL
Colorado, segue a tua senda de vitórias!

3 thoughts on “E o futebol continua a dar lições de vida…

  1. Prezado Marco Vaz,

    Como eu leio TODOS os artigos publicados aqui na Arquibancada Colorada, estou SEMPRE atrasado na minha leitura 🙂

    Pessoalmente, esta tua coluna foi uma das melhores que li até o presente momento. Deveria ser impressa e distribuída aos nossos jogadores no vestiário antes de jogarmos contra times teoricamente inferiores (lembro-me quando pequeno como era difícil ganhar da Portuguesa-SP, América-RJ e América-MG 🙂 e/ou jogos decisivos em torneios.

    A humildade e a superação (ou seja, garra) são qualidades tão importantes quanto técnica num jogo de futebol. Por isso que não considero futebol um esporte (onde sempre vence o melhor, por exemplo, basquete) mas sim um jogo.

    Um grande abraço,

    Wilson Pardi Junior
    Cônsul do Sport Club Internacional no Japão

    PS. Alô Simone e Evandro! Há quanto tempo 😉 Acho que a referência que o Marco fez entre o nosso time em 2006 e o time africano em 2010 foi somente em termos de humildade e superação e não em relação à qualidade dos jogadores dos dois times. O que aconteceu conosco foi exatamente a mesma coisa que aconteceu com a Seleção do Brasil quando perdeu para a Seleção da Nigéria (ou terá sido Gana) numa Olimpíada há vários anos atrás…

  2. Desculpe Marco, mas não posso concordar que o INTER de 2006 foi o Mazembe de 2010. O INTER tinha time e ganhou um Libertadores jogando muita bola, na técnica e na raça. Não dá para comparar um Campeão Sul Americano com um Campeão Africano. Apenas não foi um dia de sorte para o INTER e foi um dia excepcional para o Mazembe. NÃO DÁ PARA COMPARAR.

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