Nas últimas eleições do Internacional muito foi discutido a questão viabilidade econômica dos modelos de gestão propostos pelos candidatos. Um defendia que poderia fazer uma gestão sem precisar vender atletas de ponta e o outro afirmava que, atualmente, o Internacional não consegue suprir suas necessidades abrindo mão desta fonte de renda.
Recentemente analisei o relatório que transcrevo abaixo que disserta exatamente sobre isso: Finanças de um Clube de Futebol.
Como devemos nos espelhar nos grandes, nada melhor do que analisar o relatório de um gigante: o Real Madrid. O estudo abaixo foi feito pela Crowe Horwath RCS que estuda as finanças de diferentes clubes no Brasil e também do mercado internacional.
Em 2011, ela periodicamente publicará no mercado brasileiro uma série de análises sobre a situação financeira dos clubes de futebol da Europa.
FINANÇAS DO REAL MADRI – Janeiro de 2011
Essa análise sobre as finanças do Real Madrid foi fundamentada nos dados financeiros extraídos das cuentas anuales publicadas pelo clube na última década. O clube, bem como o seu arqui-rival Barcelona, deve ser estudado como benchmark pelo mercado brasileiro de futebol, já que são entidades sem fins lucrativos e seus presidentes são eleitos periodicamente por seus sócios, os proprietários dos times.
O Real Madrid, nos últimos anos apresentou profunda evolução em suas receitas, posicionando o clube Merengue como o time profissional com maior faturamento do esporte global.
Atualmente o time de Madrid gera mais receitas que as principais franquias das Ligas Americana e também entre todos os times do futebol mundial. O projeto de expansão global de seus negócios é sem dívida um case no mercado esportivo global.
Isso comprova que o desenvolvimento comercial da marca do clube, passou pelo fortalecimento da relação do clube
com inúmeras marcas patrocinadoras, e também pela criação de projetos diretamente para o torcedor, em diferentes
pontos do planeta. Atualmente o Real Madrid se considera uma entidade geradora de conteúdos e entretenimento e
não mais um clube de futebol.
A estratégia foi fundamentada nas contratações dos maiores astros do futebol global, explorando a paixão que esses
ídolos impactam em consumidores, da Espanha e principalmente do exterior. O impacto se dá tanto em projetos
comercias, como no fortalecimento da marca do clube.
Na temporada 2000-01,início da primeira gestão de Florentino Perez, que foi o idealizador do projeto de globalização
do clube, as receitas geradas eram de 149 milhões de euros. Uma década depois o clube apresentou evolução
constante em seu faturamento e na última temporada 2009-10, apresentou receita total de 442,3 milhões de euros,
evolução de 197% Um bom exemplo do sucesso comercial do projeto foi a evolução das receitas de marketing do
clube que em 2001, eram de 38,6 milhões de euros, valor que ultrapassou 140 milhões de euros em 2010, evolução de
270% no período.
A atual administração, novamente sob o comando de Florentino Perez fundamentou sua estratégia de crescimento
para os próximos anos no investimento pesado de grandes estrelas do futebol global como Cristiano Ronaldo e Kaká, o técnico português José Mourinho e jovens craques como Özil, Khedira e Ángel di María.Em 2010 a folha salarial do
Real Madrid foi de 192,2 milhões de euros e a expectativa é que em 2011 atinja 210 milhões de euros.
O clube apresentou nos últimos dois anos superávits do exercício, mesmo com o incremento de suas despesas.
Somados os superávits das temporadas 2008-09 e 2009-10, a lucratividade do clube foi de 45,4 milhões de euros.
Isso somente foi possível, pois o clube gerou cerca de 41 milhões de euros em alienação de imobilizado nesses dois anos,referente às transferências de seus atletas. Além disso, somente considerando as duas últimas temporadas o clube gastou 35,2 milhões de euros em juros bancários.
Para realizar seu projeto, o Real Madrid teve que buscar recursos no mercado financeiro e ampliou também suas
dívidas com entidades esportivas, já que são os valores a pagar pela contratação de seus atletas. Em 2009, os
compromissos com bancos e entidades esportivas pela contratação de jogadores representaram 77% de sua dívida
líquida, percentual que caiu para 73% em 2010. Na temporada 2004-05 a participação dos bancos e clubes credores
na composição do endividamento era de 34%.
Para calcular a Dívida Líquida, considera-se o Passivo, descontado o Patrimônio Líquido,
menos o Ativo Circulante, que representa os direitos realizáveis (com liquidez).
Em 2008-09 o clube apresentou o maior endividamento de sua história, 490,4 milhões de euros, valor que foi reduzido em 5% atingindo 467,1 milhões de euros em 2010. Essa ampliação do endividamento do clube foi ocasionada especialmente pelo acréscimo de suas dívidas bancárias em 2009, que se ampliaram em cerca de 11% em 2010. Já as dívidas contraídas pela contratação de seus atletas cresceram 76% de 2008 para 2009. No exercício de 2010 as obrigações com a aquisição de jogadores apresentaram diminuição de 23%, o que significa redução de 52,8 milhões de euros.
O plano do clube é ampliar consideravelmente suas receitas para financiar todo o seu projeto, o que ocorreu em 2010, com o crescimento de 11% nas receitas ou 35 milhões de euros, sendo que 87% desse crescimento foi fruto do incremento dos recursos gerados com o Estádio Santiago Bernabéu. Nesse período a dívida líquida do clube foi reduzida em 23 milhões de euros.
Assim o futuro financeiro do Real Madrid dependerá do sucesso comercial de seus projetos. Segundo seu orçamento
na temporada 2010-11 o clube espera faturar 450 milhões de euros, um aumento de 1,7%. A dúvida é saber se será
suficiente para equilibrar as contas do clube, em virtude de suas obrigações financeiras futuras.
Sobre a Crowe Horwath RCS
A Crowe Horwath RCS é a sexta maior empresa de auditoria e consultoria do Brasil. É referência no setor, tanto na
prestação de serviços para empresas de médio e grande porte, de capital aberto ou fechado, como na implantação de
planos estratégicos em pequenas e médias companhias. É membro da Crowe Horwath International – uma das dez
maiores redes independentes de auditoria do mundo – composta por 142 empresas, 558 escritórios, 26 mil profissionais e staff em 102 países. A companhia conta com uma equipe multidisciplinar de 200 profissionais para atender à demanda de mais de 500 empresas.
A Crowe Horwath RCS tem uma área específica para desenvolver projetos de consultoria na Indústria Esporte, a Esporte Total. Além dos projetos de gestão para entidades esportivas, patrocinadores e investidores a área Esporte Total também realiza análises e estudos sobre as finanças e o marketing do mercado esportivo brasileiro e internacional.
Amir Somoggi – Diretor da Área Esporte Total da Crowe Horwath RCS
Experiência de mais de 15 anos na área de marketing, sendo os últimos 9 anos em projetos de consultoria para entidades esportivas, patrocinadores e investidores. Profundo estudioso da Indústria Esporte e em particular da Indústria do Futebol, professor de marketing esportivo e planejamento estratégico de clubes de futebol.
Administrador de empresas formado pela ESPM-SP, especializado em gestão esportiva pela FGV-SP e pós-graduado em marketing esportivo pela Universidade de Barcelona, Espanha e colaborador com um capítulo no livro Marketing & Football, sobre os negócios no futebol brasileiro, publicado em 2006 na Inglaterra
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Em uma análise superficial, podemos nos assustar com a quantidade juros pagos no período. O Real Madrid se preocupa muito, como diz o relatório, com a audiência, ou seja contrata jogadores que podem rentabilizar o Clube sem que necessariamente produzam um futebol que resultem em títulos.
A venda de imobilizados ( jogadores) foi uma das principais fontes de renda, o que causou o superávit do último periodo, mesmo com o acréscimo de despesas.
E por fim, a mais controversa afirmação: Atualmente o Real Madrid se considera uma entidade geradora de conteúdos e entretenimento e não mais um clube de futebol.
Sabemos que futebol CAMPEÃO, como aquele que cobramos diariamente dos Dirigentes do Internacional, não se faz sem dinheiro. Um orçamento menor que R$ 180 milhões luta para não cair no campeonato Brasileiro.
Temos condições de implantar, hoje ou a qualquer tempo, essa filosofia de ” gerador de conteúdo e entretenimento”, aqui na Querência?
José Antonio Puerta – Porto Alegre/RIO GRANDE DO SUL
Conselheiro do Sport Club Internacional
Como é bom ser Colorado!
Ontem (06/02), ouvi uma entrevista do Aod falando a respeito disso, a gestão de futebol autosuficiente sem que tenha que vender jogadores para equilibrar as finanças. Segundo ele em 10 anos alcançaremos os patamares dos maiores clubes da Europa como Barcelona, Real Madrid, Inter Milão, Milan, Bayerns dentre outros.
Grande Melo, algumas das tuas dúvidas podem ser esclarecidas no livro “A bola não entra por acaso”, escrito por um dos ex-VPs do Barcelona, Ferran Soriano. O livro mostra como o Barça mudou sua visão do futebol, como passou em dois ou três anos do sexto time espanhol para o campeão da europa. Além disso, mostra o investimento na base e como que as pessoas certas no local certo, fazem MUITO a diferença. O Barça tem resultados financeiros melhores que o Real e conquista títulos, conta como conseguiu ao deficit zero e mais que dobrar sua receita em pouco tempo.
O Real pode valer-se muito de “marketing” no mundo, mas o Barça é o modelo a ser seguido. Além disso, saibam que a GloboNews fez um programa com o Inter em relação a gestão no futebol e estamos sendo considerados no mesmo patamar de Barça e Manchester neste documentário. Te mete! 😉
Alô você Puerta!
Grande conselheiro! Muito interessante análise. Os números realmente impressionam. Seria fantástico que a máquina geradora do Real Madrid fosse por nós clonada para nos proporcionar os recursos necessários para nos catapultar. Mas na contra mão da história o RM na comparação com seu rival espanhol, o Barça e em se falando de futebol não tem tido o mesmo sucesso. Considerando a partir de 2001, o placar é o seguinte:
Copa do Rei : Barcelona 3 Real 1
UEFA Barcelona 3 Real 2
Campeonato Espanhol Barcelona 4 Real 3
Campeonato Mundial Barcelona 1 Real 0 – 01 Vice
Nesse último e mais importante item, aliás, o Real perde para o SCI que tem 01 campeonato e um terceiro lugar contra nenhuma participação deles.
Portanto a minha resposta a tua pergunta é : sim. Podemos e temos gente com capacidade para implantar essa cultura filosófica de gerar, aliás temos números, ainda que muito tímidos em relação aos europeus, sinalizando para isso. E contribuindo com tua linha podemos dar uma olhada profunda ao mesmo tempo para tentar descobrir (e implantar também) como e porque o Barça consegue se manter a frente dessa máquina em todas as competições de futebol.
Um abração parceiro.