Sabedoria além das quatro linhas

Nos últimos dias falou-se bastante da Copa União, do Clube dos 13 e da CBF reconhecer o Flamengo como campeão daquela ano. Desta forma, queremos recordar um pouquinho mais daquele período e nada melhor do que ouvir alguém que viveu tudo aquilo. Em um desses e-mails que circulam pela Internet chegou até a nossa Arquibancaca o e-mail de ADILSON FAUTH, preparado físico e olheiro do Inter naquela ocasião. Confira o relato de alguém da comissão técnica que fez parte da nossa história Colorada:

Aos amigos gremistas e principalmente aos amigos  colorados!

Tomo a liberdade de vocês e conto algumas das experiências que tive no futebol. Pra quem gosta de futebol um pouco de história. Esta semana se falou muito no Campeonato Brasileiro de 1987  (Copa União) que neste momento a CBF ratificou o Flamengo como Campeão Brasileiro e o Inter Vice-campeão Brasileiro, pois nesta campanha de 1987  eu trabalhava no Inter.  Iniciei o ano como auxiliar de Preparador Físico e depois fui auxiliar técnico e olheiro para os treinadores Homero Cavalheiro e Ênio Andrade.   Foi a melhor experiência profissional que tive na minha carreira, pois trabalhar ao lado do Ênio Andrade foi demais, visto que ele é até hoje considerado o melhor técnico gaúcho de todos os tempos:  sabia tirar leite de pedra.

Naquele ano, com um plantel bem modesto chegou a final do Brasileiro. No Coritiba e no Grêmio também fez isto… com times modestos foi campeão. Aí que tu vê a qualidade do treinador, que não inventa e que explora ao máximo a característica de cada jogador e faz um conjunto notável. Em 1987  tínhamos no time titular dois jogadores que vieram do interior, Paulo Matos tinha sido meu jogador no Esportivo de Bento um ano antes e Paulinho veio do Caxias, e o restante do grupo era o Taffarel ,Luiz Carlos Winck, Pinga, Aloisio, Norberto, Luiz Fernando, Gilberto Costa, Heider, Amarildo e outros vindos do juniores (juvenil).  Com este grupo o Ênio fez chover! Imagina se hoje ele estivesse no Inter com todos estes atuais jogadores. Tá louco!!!

O Ênio foi campeão Brasileiro no Coritiba (1984) e no Grêmio 1981. Campeão várias vezes no Cruzeiro de Minas e nos times pernambucanos… No Inter foi campeão invicto em 1979 e ele me dizia que seria campeão da Libertadores de 1980 se o Asmuz tivesse contratado um centroavante, pois teve que improvisar um meia na função (Adilson)  por teimosia do Asmuz que era um presidente fraco e quiz fazer economia na hora errada. Perdemos para o Nacional do Uruguai por 1×0 lá e empatamos de 0x0 no Beira-Rio. Faltou o matador!

Fui seu auxiliar técnico e olheiro no Campeonato Gaúcho e depois no Brasileiro.  Quando o Inter excursionou pela Europa em julho daquele ano (Inter e Grêmio ficavam um mês pela Europa para levantar dinheiro nos torneios do verão europeu), ele me escalou para ser o técnico do time B (Rolinho) em amistosos pelo interior do Estado, pois ficavam em PortoAlegre uns 20 jogadores que não iam ficar só treinando.  Outros 18 jogadores titulares foram para a viagem à Europa. Convivi de sua intimidade tanto nos treinamentos, nas concentrações, nas viagens e até me contava muita coisa da sua vida familiar, tamanha a confiança que ele depositava em mim.   Olhem só esta passagem: o Inter precisava contratar um meia e a bola da vez seria o meia do Flamengo (Adílio… jogador de condução de bola, de passes curtos), mas aí comentando com ele e o Duran (supervisor) sobre as caracteristicas dele e o Ênio me falara uns dias antes  que precisava de um meia lançador. Eu disse que me chamava a atenção vendo os jogos do Campeonato Paulista um meia chamado Gilberto Costa, da Inter de Limeira (batia bem na bola, cobrava faltas e era um excelente  lançador)… uma semana depois chegou no Inter o Gilberto Costa (tiraram mais informações deste jogador e ele foi contratado… modéstia à parte, foi indicação minha) . Várias vêzes nas palestras dos jogos o Ênio me chamava e dizia: “o Adilson foi ver o adversário e me passou informações”, e eu tinha que explicar as características dos jogadores adversários, notadamente no Campeonato Gaúcho.

O Ênio além de um grande treinador era um líder nato, que era super respeitado e tinha uma humildade fora de série. Era considerado um paisão pelos jogadores e tinha todo grupo na mão sem nunca precisar apelar ou xingar ninguém.  Como pessoa um sujeito admirável, por sua formação e integridade. Foi uma campanha excepcional, pois com um grupo limitado o Inter chegou  a grande final, onde empatamos em Porto Alegre e perdemos pro Flamengo por 1×0 no Maracanã. Bons tempos aqueles!

Desculpem, mas não podia deixar passar esta oportunidade de contar um pouco das minhas vivências e principalmente falar desta grande pessoa que era o Sr.Ênio Andrade. Para os mais velhos uma recordação e para os mais novos umas revelações.

Abraço, Adilson

Grande depoimento. Agrademos ao amigo Nelson Puchi que nos enviou esse belo relato da nossa história centenária.

ARQUIBANCADA COLORADA
Apoio ao Inter sempre e em todos os momento – “Eu não vaio o meu time”

One thought on “Sabedoria além das quatro linhas

  1. Eu me lembro dessa época, tinha uns 12 anos. Realmente o Internacional tinha um ótimo time de jogadores como o grande Tafarel, Luis Fernando, Luis Carlos Wick, e claro o Amarildo que foi o grande herói da partida contra o Cruzeiro. O Cruzeiro era uma máquina imbativel, só perdeu na estréia contra o Palmeiras, mas depois ganhou todas, inclusive no primeiro jogo do 2º Turno da Copa União por 3 x 0. Eles tinham um bom goleiro, o Gomes, o Cláudio Adão, Balu, entre outros. Era o favorito, assim como o Atlético Mineiro. Mas o Internacional não se intimidou e venceu na prorrogação com um gol extraordinário de cabeça de Amarildo, e calou milhões de cruzeirenses. Mas tinha o Flamengo de Zico, Renato, Andrade, Bebeto, e cia. Empatamos o primeiro jogo com um golaço de Amarildo, mas tivemos o azar de perdermos o segundo, o Flamengo não dava chance, era uma seleção, o Sócrates não chegou a jogar contra nós. Tem o de 88, claro o Grenal do Século que viramos o jogo com os gols de Nílson o herói da partida, mas fomos infelizes, perdemos para o Bahia de Bobô. Eu achava que ia dar Fluminense. Na minha opinião foi o segundo melhor Internacional, pena não termos ganhado o titulo. Alias perdemos 2 vezes para o Flamengo, em 87 e 2009 por pontos corridos. Perdemos a Copa do Brasil para o Corintians de Ronaldo.

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