Viabilidade do complexo Beira-Rio

Por ser engenheiro civil especialista em Engenharia Econômica, de Avaliações e Pericias, com atuação nestas áreas em nível nacional há cerca de 25 anos, por ter vivido a experiência de efetuar a avaliação patrimonial do ativo imoblizado de alguns clubes de futebol, em 2001 do Sport Club Internacional de Porto Alegre, em 2002 do São Paulo Futebol Clube e, em 2006, do Sport Club Corinthians Paulista, e por estar atento às questões relativas aos preparativos para a Copa do Mundo de 2014, em especial no que tange às obras de infra-estrutura urbana, estádios e outros empreendimentos, tenho acompanhado pela mídia a questão relativa ao estudo de viabilidade técnica e econômica do projeto do complexo do estádio Beira-Rio. Os conceitos sobre complexos de estádios de futebol foram, gradativamente,  mudando e hoje predomina o entendimento de que os complexos já existentes, devem receber melhorias que os tornem mais confortáveis, seguros, modernos, e, principalmente, autosustentáveis do ponto de vista econômico-financeiro, além de atender às diretrizes contidas no caderno de encargos da FIFA.

O Sport Club Internacional, inclusive, já iniciou estas melhorias em seu estádio, é possível observar que as obras encontram-se em andamento, mas, o Clube enfrenta, neste momento, em decorrência das pressões da Fifa para que sejam apresentadas pelo Clube as garantias exigidas para sediar a Copa, a dúvida sobre alterar ou não as fontes de recursos de seu projeto de investimento que, inicialmente, seriam próprias. Por se tratar de um assunto de grande importância, complexo e controverso, onde muitas variáveis estão envolvidas, inclusive a paixão clubística e o interesse público, municipal, estadual e federal, a mídia vem dando larga cobertura à questão. Muitas informações, opiniões, algumas de cunho técnico e outras não,  gráficos, cálculos, etc., são divulgados nos meios de comunicação. Entretanto, observa-se que tais informações não permitem, ainda que de forma empírica ou expedita, concluir-se quais, de fato, são os projetos em questão, ou seja, quais são efetivamente os itens previstos para a construção ou reforma, qual é o orçamento e cronograma físico e financeiro, qual o horizonte do projeto, quais as fontes de recursos e seus custos (taxas de juros) e quais as receitas geradas pelo empreendimento.

É muito importante considerar que, embora se trate de uma questão polêmica, com diversos interesses envolvidos, há uma ferramenta técnica chamada análise de viabilidade de projetos de investimento que permite comparar projetos diferentes através da montagem dos fluxos de caixa de cada projeto, fluxo este montado após a definição da estrutura física do projeto, de todos os custos, da estrutura de capital, das fontes de recursos e das receitas geradas. Esta comparação possibilita verificar além da viablidade do projeto, qual o melhor projeto através, por exemplo, do valor presente líquido do fluxo de caixa, isto é, as receitas menos as despesas descontadas no tempo à taxa esperada, ou da taxa interna de retorno do empreendimento, isto é, o quanto ele deixe de valor ao investidor, ou do tempo de retorno do investimento, ou de outros índices. É importante considerar que existem outras ferramentas utilizadas ainda para analisar os riscos e as incertezas associadas às variáveis do projeto, ou seja, os custos, as receitas, as taxas, etc.  podem variar com o tempo, aumentando ou diminuindo resultado.

Mas, fundamentalmente, é importante considerar que estes estudos são de extrema importância para a adoção ou rejeição de um projeto, sem o mesmo, ou seja, a avaliação do projeto feita através somente de subjetivismo e empirismo pode levar a resultados futuros altamente indesejáveis. Sabe-se, pela imprensa, que existem grandes empresas interessadas em estabelecer uma parceria com o Sport Club Internacional para construção e exploração do complexo do estádio Beira-Rio, estas, provavelmente, com uma probabilidade altíssima, já efetivaram seu estudos de viabilidade para investir neste empreendimento, naturalmente que na forma por elas propostas, e já concluíram que seus projetos são viáveis e, mais, que os retornos previstos estão adequados às taxas mínimas de atratividade por elas praticadas.

Entre as informações trazidas pela mídia, não me foi possível identificar elementos extraídos de um estudo viabilidade produzido para analisar os projetos em questão, talvez exista mais não tenha sido divulgado na mídia. As informações trazidas, infelizamente, não possibilita concluir qual o melhor e mais adequado projeto.

A diretoria do Sport Club Internacional, composta e assessorada por profissionais engenheiros, economistas, contadores, etc., altamente capazes e técnicos, para sua tomada de decisão quanto aos projetos propostos e para instruir seu Conselho Deliberativo e, posteriormente, para ter elementos para justificar para a sua torcida, deve, por certo,  ter providenciado o estudo de viabilidade dos projetos ora propostos. Assim, espera-se.

 Luciano Blessmann Silveira – Porto Alegre/RIO GRANDE DO SUL
INTER – nada vai nos separar!!!

 Blogueiro convidado especial da nossa Arquibancada

5 thoughts on “Viabilidade do complexo Beira-Rio

  1. Grande relato Luciano, seja bem vindo a nossa Arquibancada. Texto claro e muito informativo.

    Infelizmente esse processo todo de obras está sendo atropleado pela falta de tempo. Vejo que a atual gestão está tentando ser o mais democrática possível, abrindo ao conselho e a torcida, poderiam fazer como outros times de nem perguntar ao seu torcedor e simplesmente entregar o Clube por 20 anos, mas não estão fazendo. Estão tentando fazer da forma mais democrática possível, dentro do possível.

    Não adianta dizerem que eles pertenciam a gestão anterior e não buscaram fazer diferentes, pois o poder da caneta não era deles, por mais que quisessem fazer diferente, quem autorizava SIM ou NÃO eram outros. Tantos que os outros tentaram colocar água no chopp com a proposta de autofinanciamento, no papel possível, mas na prática não tão fácil assim. Pq isso? Alguma vantagem deveriam ter nessa.

    Se a gestão anterior tivesse cumprido o que prometeu de forma efieciente, nossa cobertura teria sido inaugurada no centenário, em 2009 como foi prometido… infelizmente não foi assim, foram empurrando com a barriga e deixando o tempo passar até entregarem o “pepino” no colo do próximo.

    Ainda bem que temos uma gestão democrática e pessoas que apoiam essa democracia com propostas plausíveis e que beneficiam o Clube. Nada de radicalismos, o Inter precisa do nosso apoio.

    Abraço

    1. Muito obrigado Débora. Agradeço as boas vindas e o elogio ao texto.
      A solução adotada pelo clube através do CD demonstra, como referistes, que temos uma gestão democrática e sem radicalismos. Isto é muito bom e importante. Agora parece que realmente se fará uma análise técnica de modo a garantir ao clube o melhor retorno.
      Forte abraço

      Luciano

  2. Post MUITO interessante, Luciano.

    Respondendo objetivamente a sua pergunta:

    NÃO. A diretoria do Internacional, nem esta nem as que a precederam, fizeram um estudo de viablidade do Complexo Beira Rio. A ” coisa” foi andando aos trancos e barrancos e culminou nisso que se vê agora: o Conselho, antes atropelado sem dó nem piedade por quem detinha nele a maioria, é chamado para ser fiador de algo que nunca tomou conhecimento.

    Em um mês se falou e se conheceu de obras no Beira Rio mais do que nos últimos 4 anos. Por que nos últimos 4 anos NÃO SE FALOU de obras no Beira Rio.
    “Está 95% pronto” como dizia um colega seu engenheiro que participava da antiga gestão. ” E sói falta uns arremates”, complementava.

    E assim caminharam as obras.

    A proposta que nós, do Convergência Colorada, apresentamos na segunda feira (14/03 ), fala entre outros itens, da contratação de uma consultoria especializada em NEGÓCIO ESTÁDIO/ARENA de futebol. Uma empresa que vai acessorar o Internacional na negociação com a empreiteira que será a parceira. Se não entendemos de obras e não entendemos do NEGÓCIO que será feito no Complexo Beira Rio, temos que procurar auxilio de quem sabe.

    E deixar o empirismo, o amadorismo e o empurrar com a barriga em um capítulo destinado ao passado do internacional.

    Abraços !

    Puerta

    1. Que bom que achaste interessante! Agradeço o estímulo.
      Melhor ainda foi a solução adotada pelo clube através do CD. Vem ao encontro das idéias que tentei externar. Agora parece que realmente se fará uma análise técnica de modo a garantir ao clube o melhor retorno.
      Forte abraço

      Luciano

      1. Participe mais Luciano e vá nos mantendo informado da evolução da obra. Seus conhecimentos são de grande valia para o torcedor em geral.
        Abraço

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