HOMENAGEM: Lorival Otávio Santana
Andar por essas ruas da cidade sempre me lembra meu sogro. Sempre o encontrava em um lugar ou outro, fazendo isto ou aquilo ou então dirigindo seu velho carro cor de vinho.
Foi por causa dele que toda a família se tornou Colorada. Até o fim da vida, aos 61 anos, era capaz de lembrar de jogos e jogadores do Inter com tamanha riqueza de detalhes que era como se nele a memória e a imaginação trabalhassem estreitamente juntas, feito nos sonhos. Não era, entretanto, um nostálgico melancólico – certamente porque tão grande era seu poder de lembrar que as coisas jamais que lhe pareciam distantes. Era um eterno questionador do time e seus técnicos.
Faz um ano que meu sogro morreu, mas há memórias tão vivas dele em mim que às vezes é como se apenas estivéssemos morando muito longe um do outro e as condições de comunicação fossem precárias. Mais do que tudo, sinto falta de sua voz. Nunca fomos pessoas de gravar ou fotografar os eventos domésticos e familiares e isso fazíamos muito pouco, por isso, quase não há registros fotográficos e nenhum sonoro de nossa convivência. Não me arrependo: prefiro cultivar em mim, sua lembrança do que confiá-la a outros meios. Isso exige que periodicamente eu o recorde. Um dos modos, como disse, é andar pelas ruas da cidade.
Ele faleceu ás vésperas do jogo de volta contra o Banfield pela Libertadores. Dizia que com o Fossati não íamos longe. E, até quando soube por mim, que o Inter tinha contratado o uruguaio, torceu o nariz.. Assim, aliás, era meu sogro, um homem sempre insatisfeito com o time, que às vezes interrompia seus longos silêncios para me ligar e perguntar que horas era determinado jogo, quem jogaria, etc,etc…. Muitas vezes ele já sabia, mas era um pretexto para conversarmos. Não era perfeito, mas tinha suas qualidades – a maior de todas – era Colorado!
Sua caligrafia, por exemplo, era perfeita, letra quadrada e sem pontuação. Sua capacidade de fazer contas era algo inacreditável para as gerações acostumadas à máquina de calcular. Aprendi a gostar de rádio com ele e, até hoje, me comove quando mudo o dial do aparelho tentando localizar uma estação de Porto Alegre e aquela estática promove um ruído chato. Isso bem antes da internet, coisas de meu sogro…
Sempre vou lembrar do meu sogro ao assistir um jogo do Internacional. E vou sentir sua falta. Eu até imagino que muitas pessoas possam não entender esta associação mas se eu sou Inter hoje é porque devo muito a ele. Quando o Inter jogar, estarei acompanhando, eu e meu marido — tão intensamente que seremos todos e ninguém. Eu, à flor da pele, atenta, os sentidos refinados pela memória e imaginação herdadas do Seu Lorival..
Mas, chega, não quero cansá-los com minha lembranças, fantasias e ilusões. Nos encontraremos na transmissão de mais um jogo de nosso Colorado, senão em corpo, ao menos em espírito. E “com este time a gente não vai longe“, como dizia às vezes meu sogro. Mas a gente acabava chegando longe… sempre ao lado do seu Inter.
Saudades Sogrão !!!
Simone Bonfante – Criciúma/SANTA CATARINA
Inter: no campeonato das paixões és líder invicto e isolado!
Alô você Simone!
Teu texto demonstra toda a sensibilidade de um colorado , apoiado em sua família. Seu Lourival deve ter sido um líder positivo e por isso lhe inspirou a homenagea-lo. relato comovente, parabéns!
Obrigada Melo, vindo de você, tenho a certeza que cabe o sentimento.
NÃO SEI NEM O QUE DIZER ,POIS QUANDO VI MINHA FOTO AI COM MEU PAI ME EMOCIONEI MUITO , SÓ POSSO ,DIZER QUE ELE SIM ,FOI UM VERDADEIRO COLORADO .
Foi mesmo Vagner, foi mesmo…….
Emocionante o relato Simone! Parabéns pelo teu sogro e que essa vitória de hoje de tarde seja em memória dele.
Abraço!
Obrigada Everton…….
Saudade Paizão !!!!