O dia em que o Inter calou o Maracanã

Revista da época

Dias atrás, ouvindo o programa Sala de Redação da Rádio Gaúcha, o Jornalista Lauro Quadros lembrava o episódio em que o Técnico Vicente Feola, da Seleção Brasileira, escalou o ponteiro direito Julinho ao invés do consagrado Garrincha. O Maracanã veio abaixo e durante grande parte do jogo Julinho foi vaiado. O jogador deu a volta por cima, tornando-se o melhor em campo e fazendo um dos gols brasileiros nos 2×0 frente à Inglaterra. A torcida carioca, que lotara o Maracanã, acabou calando-se completamente e no final deu intensos aplausos ao atleta.

Aí então, o Sr. Luiz Carlos Silveira Martins, mais conhecido por Cacalo, interveio e com toda a presunção que lhe é peculiar afirmou que a torcida do Maracanã calou-se outras duas vezes: a 1º contra o Uruguai na final do Mundial de 1950, no famoso Maracanazo, e a 2ª, em 1997, na final da Copa do Brasil, quando seu time da Azenha empatou no finalzinho da partida (2×2) com o Flamengo, tirando-lhe o título no momento em que a torcida já estava em plena comemoração naquela altura do jogo.

O Sr. Martins deu a entender que seu time foi o 1º e único gaúcho a tamanha façanha, qual seja, de calar o Maracanã lotado. Ledo engano. Naquele momento fiquei surpreso pelo fato de não ter sido contestado pelos demais integrantes do programa, notadamente pelos colorados Kenny Braga e Guerrinha.

Cabe asseverar ao referido desportista que o 1º Clube Gaúcho a calar 100.000 torcedores no Maracanã, não foi o seu time e sim o Sport Club Internacional, mais precisamente, no dia 07.12.75, frente ao Fluminense em partida válida pela semifinal do Campeonato Brasileiro. E quatro anos depois (1979), ainda repetiu a façanha por ocasião da 1ª partida final contra o Vasco, com o Maracanã lotado, sendo Chico Spina o autor dos 2 gols, vindo o INTER dias após (2º jogo) a sagrar-se  Tri Campeão Brasileiro Invicto.

Fica esclarecido, portanto, que o time azulado não foi o primeiro, muito menos o único gaúcho a tal façanha. Veio a fazê-la sim, mas em respectivos 22 e 18 anos depois do nosso INTER, conforme referido, possivelmente por força do aprendizado que este lhe passou.

Rememorando o 1º feito Colorado (1975), os cariocas tinham a partida como favas contadas e que ninguém mais tiraria o título do Fluminense naquele ano. Chamavam-no de “Máquina Tricolor”, diante do grande time formado, pois era constituído de verdadeiros astros participantes da famosa seleção brasileira que anos antes conquistara o Tri Campeonato Mundial, tais como Felix, Marco Antônio, Rivelino, Carlos Alberto Torres e Paulo César Caju. Ainda o time carioca contava com outros renomados jogadores, a exemplo de Edinho e Gil. Era só passarem pelo Colorado gaúcho que estariam na final, provavelmente contra o Cruzeiro no Maracanã. Desta forma, o título estaria praticamente assegurado.

No entanto, não estavam preparados para o pior, eis que chegado o momento do jogo contra o INTER, não imaginavam encontrar um verdadeiro gigante pela frente, com craques do porte de Manga, Figueroa, Falcão, Carpegiani, Flávio, Valdomiro, Lula entre outros. Para muitos, este INTER do Minelli (anos 75/76) é tido como o melhor de todos os tempos. Para mim, particularmente, respeitando as grandes equipes da conquista do Campeonato Brasileiro Invicto de 79 e da Libertadores e Mundial FIFA 2006, foi o melhor time Colorado que vi jogar.  Todo afinado, suas peças atuavam como música. Em suma, um timaço.

Em conseqüência, a famosa “Máquina Tricolor” sucumbiu, levando um verdadeiro show do Colorado. Calaram-se completamente os 100.000 torcedores cariocas no Maracanã. Foi um jogo inesquecível. Uma das maiores vitórias inseridas no histórico Centenário do Internacional. A imprensa carioca ficou tão indignada que atribuiu nossa vitória à violenta marcação de nossos jogadores, especialmente de Caçapava. Claro que era choro e desculpa de perdedor. Enquanto isso, pela imprensa gaúcha lia-se que os jogadores do Rio, notadamente o Paulo César (Caju) eram chamados de “canelas de vidro”.

Conforme podem ser vistas as duas narrações anexas, uma pelo rádio, que fez fama na época, do entusiasta locutor Luiz Carlos Prates, hoje radicado em S.Catarina, na qual manda os cariocas calarem a boca e irem para casa, depois de suportar toda a semana de tripúdio da imprensa de lá que, como citei antes, considerava o jogo jogado. A outra, contendo o vídeo dos gols da partida feitos por Lula e Carpegiani, tendo ao fundo a narração tão anêmica do locutor carioca. Não era para menos.

Essa vitória encaminhou o título de Campeão Brasileiro de 1975, consolidado na semana seguinte contra o Cruzeiro, em pleno Beira-Rio, com o gol iluminado de Dom Elias Figueroa. Diante do fato, o INTER também se tornou o pioneiro gaúcho a  grandes conquistas além do Rio Mampituba.

Depois de abertas as comportas a coisa ficou bem mais fácil, tanto que hoje ultrapassamos águas mais distantes e internacionais a começar pelo Rio da Prata na Argentina, até o longínquo Rio Shinano no Japão.

Enfim, espero que fique devidamente esclarecida a veracidade dos fatos e frustrada a tentativa de consignar exclusividade e pioneirismo a façanhas para outros, quando em realidade são pertencentes ao SPORT CLUB INTERNACIONAL.

Heleno Costi – Porto Alegre/RIO GRANDE DO SUL
Colorado é a minha paixão!
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7 thoughts on “O dia em que o Inter calou o Maracanã

  1. Grande texto Heleno, novamente conseguiu trazer um pouco da história Colorado aos mais jovens. Cultura Colorada neste post, parabéns!

    Abraço

  2. Oi Simone, pena que nos anos 70 não se faziam DVD’s, senão teríamos vários na coleção. Confesso que até hoje não entendi o porquê fizeram um DVD só porque voltaram à 1ª divisão. Só pode ser pela falta de grandes feitos nesta mesma categoria.
    Melo, realmente o Prates sumiu do cenário esportivo. É bem provável que sua transferência para SC tenha sido encomendada.
    Até o ano passado, quando ía para as praias de lá, eu o via no jornal local da RBS.
    Depois, de um famoso discurso contra as diárias de políticos, parece que também foi abafado.
    Eu particularmente gostava das narrações do Prates, bastante inflamadas. A que está anexa ao comentário foi a maior. Acho que não dá para negar que ele é colorado.

  3. Alô você Heleno!
    Fantástica lembrança. A voz do Prates ecoa em meus ouvidos. Dizem que passou maus bocados por lá por ocasião de seu discrurso ao microfone da PRC2. Diz a lenda que a matriz, “recomendou” a transferência dele para outro centro depois desse episódio lesa-pátria contra o centro do país e assim ele foi parar em SC. Lembro da prepotência do Sr Francisco Horta (Presidente do Fluminense à época), o Sr troca-troca, projetando a final contra o Cruzeiro e convocando a torcida do Flu para lotar o estádio naquele 14 de dezembro. O estádio lotou, mas eles não vieram. era um pouco longe, pra eles.
    SC

  4. É isso ai… muito bem lembrado…já ouvi aquela narração “lendária” do Prates. O Inter já calou o Maracanã….o Grêmio já calou os Aflitos ….o q vcs acham ? naquele Gra Nau histórico que virou DVD…

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