O esporte amador – Luta pela volta do basquete ao INTERNACIONAL

Dependendo exclusivamente de minhas recordações, sem anotações, e algumas pesquisas na Internet, explicando com isso algumas imprecisões e omissões tento recordar um pouco da minha experiência no esporte amador. Não posso deixar de citar meu velho e querido pai Fredy, pois foi ele quem nos levava a todos os espetáculos esportivos, não importando o tipo praticado, amador ou profissional, como forma de nos educar e a valorizar os esforços e qualidades demonstradas pelos mais variados tipos de atletas. Estava presente em exibições de basquete, vôlei, natação, esgrima, ginástica, atletismo, vela, turfe, corrida de carreteiras e futebol. Assim aprendi a gostar mais de vôlei, natação e basquete e, não só, de futebol, minha maior paixão e apreciar todos os grandes atletas, independente do esporte e do clube que representam.
Para tentarmos iniciar um trabalho de montagem histórica do basquete em nosso Rio Grande do Sul, mais aproximado possível, em função de apenas recordações, mas com o objetivo principal de “lutar” pela volta desse esporte em nosso INTERNACIONAL, vamos equalizar nossas informações, sobre a Universíada. É um evento multidesportivo internacional, organizado para atletas universitários pela Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU – Federation International du Sport Universitaire). O nome é uma combinação das palavras Universidade e Olimpíada aludindo aos Jogos Olímpicos.
A III Universíada de Verão, para nós os Jogos Universitários Mundiais – Universíade, foi realizada em Porto Alegre, entre o dia 30 de Agosto a 8 de Setembro de 1963. Conforme alguns relatos participaram 713 atletas, outros falam em 1.000, de 27 países que participaram do evento. Pela primeira vez, e única na história, a Universíada de Verão foi realizada no hemisfério sul e no período de inverno.
Para sediar um dos mais importantes eventos esportivos do mundo, secundado apenas pelas Olimpíadas, a cidade precisou ser modificada porque as provas aconteceram em diversos locais, sendo até hoje considerado o maior evento realizado na história da cidade. A Universíade transformou as feições da cidade, profissionalizando e qualificando a maneira de lidar com o esporte amador. Foi construída uma vila olímpica, utilizando um conjunto habitacional recém-construído, com dezenas de prédios e mais de 450 apartamentos, no Bairro Partenon, e um ginásio de esportes especialmente para o evento, o Ginásio da Universíade, o atual ginásio da Brigada Militar. Nesse ginásio tive o prazer de ver exibições de grandes jogadores brasileiros e o melhor e maior de todos os tempos, o Amaury Pasos, em jogo memorável entre a Seleção Gaúcha e o o Sírio, de São Paulo. Posso dizer que minha época era de ouro, pois convivia com uma geração maravilhosa no mundo do esporte amador gaúcho, Purpão, Lawson, Madrinha, Musso, Valencinha e Scarpini (Basquete), Marco Antonio Volpi (um dos maiores jogadores de volei do mundo), Lisia Barth e Mauri Fonseca (natação), Tomas Koch (tênis), Paradeda (Vela) e outros.
A cerimônia de Inauguração ocorreu no Estádio Olímpico, contou com um coral de 6.000 vozes, formado por estudantes, bandeirantes, escoteiros, entidades e voluntários, que cantavam o hino oficial “Gaudeamus Igitur” e agitavam e formavam mensagens com placas coloridas. Houve o desfile das nações participantes e o campeão olímpico Ademar Ferreira da Silva acendeu a pira simbólica, sob uma salva de 32 tiros de canhão. As provas aconteceram em diversos locais e clubes da cidade (União, Sogipa, Leopoldina e Petrópole, Olímpico e no Cais do Porto (Armazém D-4).
A Universíade movimentou toda a cidade de Porto Alegre. Quem não tinha acesso às competições, dava um jeito de ter contato. Muitos moradores recepcionavam os atletas em suas casas para refeições. Principalmente os universitários, que faziam cursos de idiomas e se ofereciam para trabalhar como intérpretes, o que funcionou bem. Falavam russo, italiano, francês, alemão…
Vamos recordar um pouco do basquete brasileiro nos Jogos Universitários Mundiais – Universíade, em 1963.
Os países que disputaram foram Argentina, Brasil, Cuba, França, Peru e Uruguai. Nessa época, os grandes times de basquete eram o norte-americano e o brasileiro. O Brasil era Bicampeão Mundial, em Santiago do Chile, em 1959 e no Rio de janeiro em 1963. Atrás dessas seleções, a que mais se aproximava era da Rússia que não participou com uma equipe de basquete a Universíade. O Brasil era uma grande equipe e estava em larga vantagem. A única ameaça era Cuba. A torcida lotou o Ginásio, de forma que os portões foram fechados às 17 horas, a prática nos jogos, mesmo com os jogos começando às 18 horas.
Existem relatos que, com o comparecimento de tanta gente, aconteceu um grave acidente com uma moça que veio a falecer após ter sido pisoteada pelo público que derrubou o portão de ferro na entrada do ginásio. A massa queria entrar de qualquer forma e empurrava a fila, pressionando os que estavam à frente contra a grade. Esse tipo de ocorrência, mas sem o mesmo trágico resultado, também já havia acontecido nos portões de acesso ao Olímpico no dia da cerimônia de inauguração. Apesar dos esforços da Brigada Militar que fazia a segurança dos ginásios e estádios não conseguiu impedir que várias pessoas fossem parcialmente pisoteadas e sofressem ferimentos nos grandes eventos, tal a vontade de ver os jogos e as cerimônias.
O Brasil já havia vencido todas as partidas e Cuba também. Chegaram para a decisão como as duas únicas seleções invictas. O Ginásio lotou e o quinteto brasileiro fez uma grande partida, com atuações destacadas do Jathir e Vitor, ambos converteram 37 pontos. No final, o marcador sinalizava: Brasil 106, Cuba 80. Foi uma grande festa brasileira. Em terceiro lugar ficou o Peru.
Nessa época, grandes clubes disputavam o campeonato estadual de basquete no Rio Grande do Sul e em várias categorias (Ipiranga e Regatas/Rio Grande, Cruzeiro, INTERNACIONAL, Grêmio, Petrópole, e União/Porto Alegre, Corintians/Santa Maria e o Guanabara/Livramento). Quem não recorda os jogos do campeonato juvenil de basquete e os grandes encontros entre União e Sogipa. Em outras palavras, “existia” basquete em grande número e qualidade no Rio Grande do Sul e nossos craques faziam parte da seleção brasileira de basquete.
É importante essa recordação para demonstrar que existe uma história linda e todas as condições de reerguer a prática desse esporte nos grandes clubes do Rio Grande do Sul, principalmente em nosso INTERNACIONAL.
Antônio Carlos Pauperio – Salvador/BAHIA
Colorado até morrer!

5 thoughts on “O esporte amador – Luta pela volta do basquete ao INTERNACIONAL

  1. Teu passe de gancho, depois de pegar o rebote, foi perfeito para o contra- ataque pela esquerda. Fiz a bandeja e larguei a bola DENTRO da cesta. O Gerson que vinha correndo atrás, em desespero, me jogou contra a parede do fundo do União no final do movimento, tentando evitar a diferença de três pontos que se estabeleceria a vinte e poucos segundos do término da partida e do campeonato que assim ganharíamos. Com o canto do olho ainda vi a bola rodando lentamente por todo o aro e não entrando. Vi, já caído, tu chegares com as duas mãos no ar só esperando o rebote para colocar para dentro quando o Fett te jogou longe com as duas mãos no teu peito! Na cena ainda conseguia ver os dois juízes, que lembro bem quem eram, com o apito na boca a tudo assistindo. NADA APITARAM!!! O Fett apanhou a bola, serviu o Scarpini que entrou no nosso garrafão e, agora sim, apitaram: falta do Lawson. Dois lances livres convertidos. Cruzeiro campeão. manchete da Zero Hora do outro dia: Cesta de Scarpini: Cruzeiro é Campeão! Faz 43 anos, Paupério, e essa cena me vem à cabeça quase todos os dias. Não vou perguntar se tu te lembras, sei que sim. Pergunto se conseguiste esquecer essa injustiça? Fico feliz em te reencontrar e saber que estás bem Grande abraço do teu amigo Charly

  2. Grande Paupério (não só na altura).
    Grande pivô do SC Internacional ao final da década de 60, início da de 70.
    Quem aqui escreve foi o substituto do Balbão como Diretor do Departamento de Cestobol (do Inter).
    Um grande abraço.

  3. concordo o Inter tem o gigantinho para selecionar e treinar equipes de basquete, estou a disposição para trabalhar no departamento de basquete do Inter.

  4. Paupério:
    Estes relatos demonstratam a importância do esporte, seja ele amador ou profissional, para a cultura de um povo e que não podem ser esquecidos. Infelizmente a prática esportiva não é incetivada no nosso meio acadêmico e o lema grego que formou a cultura ocidental não tem valor em nosso país, mas devemos lutar para reverter este quadro.
    Nesse sentido, o debate em que o clube deva abrir espaços para outros esportes, além do futebol, é importante. O surgimento de outras formas de entretenimento podem alavancar outras formas de arrecadação como o aumento de número de sócios, patrocinadores, utilização mais adequada das estruturas existentes do clube bem como sua ampliação. E o primeiro passo é esse, pois só o resgate histórico pode fazer a diferença e sensibilizar as pessoas da importância dos outros esportes dentro do clube, pois o povo que não conhece sua história é um povo sem cultura e um povo sem cultura é um povo dependente e escravo das elites dominantes.
    Saudações Coloradas.
    Cláudio R. Vidal

  5. Caro Paupério, acredito que no nosso INTER não haja essa valorização e reconhecimento com os esportes ditos amadores. Veja o que estão fazendo com o nosso FUTSAL, campeão mundial, terceirizaram para uma empresa emprestando apenas o nome.
    Acho teu post muito válido e espero que consigamos reerguer estes esportes no nosso clube !!! Grande abraço

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