O desapercebido, o malandro e a víbora

Dizem que todo o cuidado é pouco; que o seguro morreu de velho, mas o desconfiado ainda vive; há que se dormir com um olho aberto, outro fechado; colocar um pé atrás, outro na frente; fazer o bem, mas olhar a quem.

Ditados antigos, que, passando de geração a geração, tentam nos alertar que nada é o que parece, quem vê cara não vê coração e que tudo o que é sólido desmancha no ar (tá bom, essa citação é de Marx, mas cabe perfeitamente ao caso, não pude resistir).

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Passo, então, a contar a história de Andrade, para mostrar que nossas Avós tinham razão: um olho no padre, outro na Missa.

Andrade era uma boa pessoa. Claro que tinha seus defeitos, eu não disse que ela era perfeito. Vejam, por exemplo: não sendo exatamente ingênuo, costumava tirar os outros por si, achando que todos eram  como ele, esquecendo que cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Vivia com o Giovani, e para ele, não havia parceiro melhor. Era Andrade no céu e Deus na terra (o trocadilho não é meu, é dele). A união já durava dez anos e era mais sólida que as Muralhas da China.

A essa altura, os amigos leitores devem estar se perguntando quando virá o elemento crise dessa história tão perfeita. Agora mesmo, calma, que o apressado come cru. E a crise tem nome.

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Copinha, solteira, vivia apertada em seu salário de promotora de eventos, vestia-se mal (vejamos, que tal misturar roupa de ginástica com salto alto?). E era feia. O olhar mais caridoso não encontraria outro adjetivo. Tinha, ao menos, charme? Não. Copinha era tão opaca que poderia ficar horas num lugar sem que sua presença fosse notada.

Por obra e graça do impressionante trabalho de uma festa que produzia a cada quatro anos, ela conseguia alguma notoriedade.

Embalada pelas  festas de Copinha, Andrade recebeu a antiga amiga em sua vida, de coração aberto e olhos fechados. Viraram um grude só, os finais de semana Copinha passava inteiros na casa da amiga. Ela era uma coitada, no entender de Andrade, precisava de apoio.

Giovani discordava. Dizia que Copinha até podia ser coitada, mas era uma chata.

Andrade achava muito natural sair com o parceiro Giovani levando a Copinha a tiracolo. Que mal havia nisso? Sua Avó balançaria a cabeça e diria: Fia-te na Virgem e não corras, para veres o tombo que levas (é um ditado português, ora pois).

Pois sim.

Uma noite, Giovani espera, espera, e nada de Andrade chegar. O celular dele só caía na caixa postal. Quando já estava prestes a telefonar para todo mundo, em pânico, o telefone dela toca: é o Andrade.

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– Cara, onde você está, o que aconteceu? Tem um monte de reforma aqui em casa pra fazer…

Mas não é Andrade quem responde. É Copinha, com a voz baixa e lenta de sempre.

– Giu, meu amigo, o Andrade  veio morar comigo. Estamos apaixonados e nem pense em procurar por ele, que agora a conversa é outra. E deixa eu te dizer, essa casa do é grande demais só pra você, então vamos ficar aí. Por uns 20 anos. Você pode procurar outro canto. Lamento muito, mas quem vai ao ar perde o lugar.

E desligou.

Giovani não conseguiu sequer se mexer, teve medo de morrer ali mesmo, sozinho. Em sua cabeça, nenhum pensamento coerente, apenas esquetes dos momentos que os três passaram juntos e nos quais ele ainda não enxergava nada que pudesse causar suspeitas.  O colega e a amiga mal se falavam ou olhavam! E estavam de conchavo contra Giovani. Lembrou da vez em que ele afirmou que era até uma crueldade.

Giovani desabou. Não conseguiu nem chorar de tão entorpecido. Quando a exaustão o venceu e ele finalmente dormiu, sonhou. Sonhou com todos os sinais que deixou de perceber – sim, porque os sinais estão sempre lá, acredite, não os vê quem não quer. E também com a Tia Asteróide lhe dizendo deu chance ao azar, deu chance ao azar…

Giovani, Andrade e Copinha.  Personagens de uma história que se repete todos os dias em algum lugar do mundo. O desapercebido, o malandro e  a víbora. Já aconteceu perto de você?

Beijocas…

                                                                                                                                                                                                                                      Simone Bonfante – Criciúma/SANTA CATARINA
 Inter: no campeonato das paixões és líder invicto e isolado!

23 thoughts on “O desapercebido, o malandro e a víbora

  1. Concordo em gênero, numero e grau…mas vou admira-lo mais se, na volta da Bolívia, o presidente DEMITA no Jô de uma vez por todas. Indisciplina aqui não. Aqui não é Flamengo, aqui não é Corinthians.

  2. Essa novela parecia não ter fim. Mas acabou, agora podemos ter a tranquilidade de só pensar no futebol e se deliciar com as belas partidas do Jô.

  3. Dizem quea AG terá direito a vender o nome do estádio. Quem vai querer desenbolsar dinheiro pra poder botar nome no Beira Rio. Beira Rio é Beira Rio, como a Libertadores é Libertadores (que Santander que nada). Isso não pega. Imagina o lançador se chamar: Monumento ViSA do laçador??? Bobagem…

  4. Belo texto, maravilha…Bah, mas méritos pra nosso presidente que em momento algum pôs os pés pelas mãos, se fosse do lado azul então…. Fiquem com medinho gremistas, vcs não perdem por esperar…

  5. Alô você, Simone!
    Mais uma extraordinária obra sua, parabéns! É parece que a união estável será proclamada e sacramentada hoje. A receita para dar certo? Uma hipocrisia em alto níivel.
    SC

    1. Dizem que agora querem melhorar a imagem…que tal ajudar para trazer o Nilmar, tenho certeza que o torcedor iria largar o pé dos empreiteiros.

  6. PARABÉNS AO TRABALHO DO LUIGUI, FICOU DE CABELOS BRANCOS POR NÓS, E TEM MANTIDO NOSSOS CRAQUES, FORA O INCOMODO DA AG, O DESAPERCEBIDO TA FAZENDO QUIETO O QUE MUITOS FALASTRÕES NÃO FIZERAM.

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