Não dá para não se posicionar…

Longe da “minha terrinha amada dos pampas”, aqui em Salvador, na Bahia, quando tomei conhecimento da tragédia que estava acontecendo, não poupei lágrimas, pois me coloquei como tantos outros pais que perderam seus filhos, irmãos que perderam seus irmãos, avós que perderam seus netos e famílias que estão completamente “destroçadas” por essa terrível fatalidade. Segurei a emoção até onde pude, mas ao ver o sofrimento e desespero geral, vendo o sofrimento de uma torcedora com a camisa do Internacional procurando suas amigas, sem nenhum constrangimento e defesa perante minhas duas filhas Leonor e Camila, as lágrimas começaram a saltar de meus olhos.

Fiquei indignado com a sordidez e “oportunismo descarado” das declarações e postagens na Internet de algumas pessoas que não são gente. É uma estupidez aproveitar-se de situações tão tristes para “fazer desfilar” toda a ignorância sobre segurança, a falta de respeito ao sofrimento das pessoas, observar indignado colocações de forte demonstração de descriminação e de oportunismo desenfreado que, infelizmente, existe na cabeça de alguns poucos. Espero que deixem essa hipocrisia de lado, tenham um pouco de responsabilidade e que esse sério problema seja encarado de frente, com coragem, com humildade e com firmeza.

Não é possível que as “consciências demagógicas e descompromissadas” sejam satisfeitas somente com a “identificação” e castigo de “culpado(s), pois esse triste acidente mostra a realidade existente em nosso País”. Leis existem e muitas, mas só isso não basta. Quem fiscaliza constantemente a observação e a execução correta dessas leis? Quando falo em fiscalização e obediência a leis, estou me referindo a qualquer lei existente em nosso País. Como se pode construir e permitir o funcionamento de uma boate ou qualquer local estabelecimento público, onde estarão presentes centenas de vidas, sem a devida verificação e comprovação da manutenção da obediência das exigências de segurança para os seus usuários. Falar em segurança mínima é um absurdo sem tamanho e de inacreditável descaso com a vida humana. A segurança deve ser a necessária, nem mínima, nem máxima, mas que garanta a segurança das pessoas.

Existem tragédias evitáveis e outras inevitáveis. Para as evitáveis a análise riscos e os procedimentos a serem adotados devem ser seguidos à risca, caso contrário acontecerá com trágicas consequências. Nas inevitáveis, o mínimo que se espera para um lugar público ou privado, onde está prevista a aglomeração de pessoas, no mínimo as medidas mitigadoras para reduzir as consequências de danos, devem estar presentes e, se possível, não dependendo de ação humana (devido às possibilidades de erro humano). Se esse é o pensamento na área material, não existem razões lógicas e aceitáveis para que não sejam, com muito mais razão, em se tratando de gente.

No caso em questão, essa triste e lamentável tragédia que se abateu em nossa Santa Maria, da Boca do Monte, no Rio Grande do Sul, pelas imagens e informações da imprensa, o que adianta uma porta maior ou menor, se antes havia um labirinto de corredores para passar. Conforme as mesmas fontes, a banda que tocava fazia uma coreografia com sinalizador, mas só está sendo condenada agora, quando ocorreu essa tragédia. E as outras vezes em que a utilização de sinalizador foi feita, porque ninguém agiu? Será que se as pessoas que presenciaram essas exibições anteriores tivessem saída da posição de meros expectadores da vida, não contratassem ou aplaudissem o descaso de obediência às leis, essa tragédia não teria sido evitada? Será que estão tranquilas agora?

A grande realidade, que deve ser exaustivamente analisada, estudada e definidas a sua adoção de medidas urgentes, desde adequação ao fechamento das portas, em todo o nosso País, de forma que não só as boates, casas de show e tantos outros lugares onde estão previstas a presença de grande número de pessoas, possam garantir a segurança necessária para nós e nossos filhos frequentarem. Até quando vamos conviver cegamente convivendo com descasos à nossa segurança?

É triste e lamentável ver como essa hipocrisia, de dizer que “cada um fez a sua parte”, cega às pessoas, pois se isso tivesse realmente acontecido, não estaríamos estarrecidos chorando essas perdas O Brasil, na manhã de domingo, dia 27/01/13, acordou e ficou mais triste. Depois do ocorrido, quando as famílias que sofreram perdas irreparáveis, só podemos compartilhar também da sua dor e desejarmos, solidários, que tenham força para encontrar o devido e merecido conforto nessa hora tão difícil. Peço ao “Patrão lá de cima” que dê a força necessária para cada um que foi “mutilado” em seu convívio familiar. Como não acredito em realização de maldades conscientes, pois ninguém nasce mau, penso que as autoridades, empresários e usuários como nós, de uma maneira geral, por favor, vamos ficar mais atentos à obediência às leis, de maneira permanente, e ver onde podemos de alguma forma contribuir para afastar, para o mais longe possível, a repetição dessas perdas evitáveis, irreparáveis e esse sofrimento indescritível.

2 thoughts on “Não dá para não se posicionar…

  1. Pauperio, também infelizmente, temos que admitir, hoje, que foi uma tragédia anunciada, haja vista, os inúmeros erros cometidos, desde os órgãos de fiscalização, autoridades das mais diversas esferas, proprietários, sócios, gerentes e outros envolvidos direta ou indiretamente no ocorrido, na madrugada daquele domingo. A partir de agora providências vem sendo tomadas em todo o Brasil com relação á segurança em casas noturnas e assemelhados. Que bom, mas que triste saber disso somente após o que aconteceu. Até quando isso vai se repetir? Nos restou a dor das perdas de jovens como se fossem nossos próprios filhos, familiares ou amigos, e o mais profundo desejo de que isto nunca mais se repita. Fica aqui o nosso pesar e o desejo de que Deus ilumine, dê forças e conforte familiares e amigos das vítimas! SC

  2. Alô você Pauperio!
    A adjetivação de tragédia é a que mais se enquadra nesse lamentável acontecimento. As infelizes (para não ser muito rude) declarações tem se repetido desde então. Os entrevistados por verem um microfone à frente e uma câmera ligada acham que tem a obrigação de dar um fato novo., é justamente aí que são produzidas as dezenas de declarações que bem poderiam não existir. Não esqueçamos também da exploração animalesca da desgraça alheia para transformar em manchete. Socorro consciência, equilíbrio e compaixão. Deus nos livre.
    Também cabe aqui, OREMOS!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.