FUTEBOL – NA ESSÊNCIA, UM GRANDE NEGÓCIO

 

            Bons os tempos em que o futebol era visto como esporte, por excelência. O foco, hoje, está mais voltado para o lado comercial.

Quanto vale o futebol? (Imagem: Yahoo)
Quanto vale o futebol? (Imagem: Yahoo)

Se não acreditam, veja tudo que a FIFA impôs ao Brasil para sediar a Copa do Mundo:  estádios novos ou renovados, hotéis de primeira, vias de acesso com impecável infra-estrutura, venda de bebidas e de produtos de seu patrocínio e uma série de outras exigências, envolvendo gastos absurdos. Tudo com um fim primordial, qual seja, o lucro. É claro, que o futebol será jogado e disputado, nunca esquecendo que será visto pelo mundo inteiro, com marcas, patrocínios, turismo e tudo mais. E mais uma vez, tudo em função do objetivo maior que é o comercial.

            Diante de tal panorama, os clubes não ficam longe disso.

            Mais especificamente no caso do INTER, a reformulação do Estádio Beira-Rio que deveria voltar-se para os torcedores e associados, parece atender mais aos interesses da FIFA.

Por outro lado, nos últimos tempos quase não se tem visto a Direção falar na disputa do título Brasileiro e sim na venda e compra de jogadores.

Como regra geral vende-se os jovens para sanar déficits de caixa e a felicidade maior dos empresários e, em troca, compram-se veteranos ou jogadores de menor quilate para suprir as lacunas que ficaram. Em decorrência, vimos nossos craques brilharem lá fora, enquanto  isso a qualidade do futebol do time, com vistas a maiores ambições e conquistas, fica relegada a um segundo plano. Ao menos é o que tem transparecido.

            Na edição do Correio do Povo de dias atrás (30/06), Hilton Mombach trouxe uma informação que praticamente diz tudo a respeito. Segundo o Jornalista, de 2006 até o ano passado entraram no caixa colorado R$ 416 milhões brutos, gerando um lucro líquido de R$ 200 milhões, fruto de transações de jogadores. É dinheiro pra ninguém botar defeito.  Talvez desse até para construir outro Estádio Beira-Rio, admitindo-se que a ampla reforma que está sendo feita, gerando praticamente um estádio novo, foi orçada em R$ 330 milhões.

            Dias atrás, ouvia pela Rádio Guaíba, no programa do Reche, um debate em que era comentado que o jogador Rodrigo Moledo gerou aos cofres colorados, mais do dobro do que fora obtido pela venda do Falcão. O bola-bola propiciou ao INTER, na época, a importância de 3,2 milhões de dólares, em torno de 2,5 milhões de euros atuais. Foi considerada a maior transação feita pelo futebol gaúcho até os anos 80. Hoje, qualquer jogador, mesmo de porte médio, negociado para o exterior, tem cotação maior do que isso.  Prova da valorização dos negócios no futebol em tempos atuais.

            Ao que tudo está a demonstrar, o INTER prioriza esta política de negociar atletas da base, com o fim precípuo de geração de recursos. E, atualmente, os empresários estão aí para reforçar a prática, sempre objetivando o ganho em cima do atleta.

Infelizmente, é o destino do futebol de hoje.

Em contrapartida, o INTER, como o restante dos clubes brasileiros, está cada vez mais endividado, ou sofrendo para fazer frente com as despesas do dia-a-dia no futebol. É claro que as receitas oriundas de transações, jogos, cotas de TV, associados, produtos e outros ingredientes, são enormes. Entrementes, tudo está a indicar que as dificuldades são fruto da má gestão, inadequada aplicação de recursos, interesses pessoais, de empresários, de atletas, ficando os clubes relegados a um segundo plano. E aí surgem os constantes problemas de caixa.

            E nessa marcha dos acontecimentos, vemos a Direção colorada na tentativa de melhorar o time, mas, de outra parte, desfaz-se de seus bons jogadores, a exemplo da venda do Fred, fato que não satisfez a torcida, pois era um dos jogadores que melhor havia se encaixado no time, nos últimos meses. Tudo por conta de ofertas de dólares ou euros. E neste caso, depois de ouvir do Diretor de Futebol, esclarecendo que a transação do jogador gerou um lucro líquido de 10 milhões de euros, não havia como evitar, ainda mais considerando que o Clube detinha somente 50% do passe do atleta.

            Porém, há situações que, no afã do ganho, perde-se o título. Por acaso, alguém já esqueceu da venda do Nilmar em 2009, quando o INTER ganhara o 1º turno, tinha no próprio atleta como o melhor e o goleador da competição. Pois é, desfez-se do mesmo, no momento decisivo, terminando em vice com somente 2 pontos atrás do Flamengo.  Deixou, para não dizer renunciou, o título do Brasileiro daquele ano.

            E no mesmo diapasão, tudo indica que o jogador Leandro Damião será negociado e, se vierem outras ofertas, também irão em frente: Caio, Otávio e outros.

            E dentro desta linha de raciocínio, vejam o que descreve o citado Jornalista na mesma coluna já referida: “Segundo dados do balanço de 2006, fábrica colorada cedeu neste ano os direitos de dez jogadores. Em 2007, foram nove, quando se deu a maior arrecadação, R$ 95,4 milhões brutos, para R$ 48,9 milhões líquidos. E quando se deu a maior arrecadação líquida na venda de um único jogador, Alexandre Pato, R$ 39,8 milhões. Em 2008, foram negociados 12 atletas e, em 2009, sete.”

            Isto deixa a entrever que o INTER virou uma fábrica de produção e exportação de jogadores. O próprio colunista usou a expressão fábrica.

            Sinceramente, não consigo aceitar esta política.

            Negociar um jogador por ano, como fora apregoado a partir da gestão de Fernando Carvalho em 2002, no sentido de sanar as finanças do Clube, tubo bem, mas o que se tem visto é a venda de vários jogadores por temporada. Por vezes, determinando mudanças completas, em detrimento do time e sua estrutura durante a competição.

            Para mim, o futebol perdeu o glamour e o romantismo. Como era bom  ver o Clube fazer de tudo para ganhar títulos nacionais.

            Sou do tempo do trabalho de um Abílio dos Reis, que saia pelo interior a garimpar jogadores. Ou, quando se formavam atletas da base, a exemplo de Bráulio, Dorinho, Claudiomiro, Escurinho e Falcão, não para vendê-los, mas, sobretudo, para engrandecer o time e ganhar títulos. Ao contrário dos dias atuais, os jogadores permaneciam anos a fio no Clube.

Hoje, tudo parece estar mudado. O lado comercial tem falado mais alto. E como!

Saudações Coloradas

Heleno Costi

5 thoughts on “FUTEBOL – NA ESSÊNCIA, UM GRANDE NEGÓCIO

  1. Grnde Heleno, sempre trazendo novas reflexões ao BAC. Muito bom. Penso que tudo é fruto da globalização do futebol. Nosso craques querem receber salários europeus. Porém, o INTER, assim como outros grandes clubes do país, não conseguem gerar receitas suficientes para manter grandes craques em seus plantéis por muito tempo. É claro que a cada venda pagam-se comissões (empresários) e uma parcela significativa do valor da transação pertence ao jogador (um grande incentivo para o atleta querer sair). A solução para que o Campeão de Tudo não precise vender tantos jogadores a cada janela, é aumentar as receitas. O INTER terá essa possibilidade a partir do ano que vem, com o Beira-Rio remodelado, com lojas, novos espaços para locação, garagens, etc. Vamos ter que aguardar para fazermos uma nova análise desse assunto no ano da Copa. SC

  2. Melo,
    É isso aí. Uma roda viva na neve que, na medida em que vai girando, engrossa cada vez mais. Solução: Como sugeriste: o clube dos 13 (ou mais) utilizando a força que tem para estancar esses absurdos e fixar limites. O problema é que não estão unidos.
    SC

  3. Alô você Heleno!
    Perderam o rumo e entraram em uma roda viva. Pagam altos salários (para não dizer absurdos) , precisam arrecadar mais e aí fazem contratos publicitários venda de imagens, contratam mais, pagam mais, precisam mais dinheiro, adiantam cotas, vendem jogadores, aumentaqm mensalidades, aumentam ingressos, pagam mais ainda, afastam o público de uma classe mais baixa, arecadam menos, vendem de novo… O fim? Endividamento e a inviabilidade. A solução? Era o clube dos treze que também se perdeu em arrecadações e como esqueceu de normatizar, implodiu.
    SC

  4. Pauperio,
    E a prestação de contas que referiste, a ser dada à torcida, deveria a mesma ser representada pelos Conselheiros do Clube, como sempre é citado pelo Melo. Pelo que se nota, ou o Conselho sequer é acionado e não participa, ou aprova na surdina e fica tudo como está. A oposição também deveria estar presente e fazer uma exigência maior, especialmente quanto à transparência nas transações de atletas.
    SC

  5. Triste, mas uma realidade inquestionável. Sei que não há lugar para saudosismo, mas esses dirigentes atuais estão esquecendo do principal. Quem move e sustenta um clube é sua torcida e a nossa Massa Colorada é “tinhosa” e sabe reagir quando necessário. Somete um reparo. Essa política atual, reinante em nosso Internacional, mostra a realidade de um objetivo principal, a comercialização de bons e promissores jogadores jovens, de forma a “encher os bolsos” de alguns, mas é “um tiro no pé” e altamente prejudicial ao nosso clube. É próprio de gente que pensa muito pequeno e que não dá a mínima importância para a história do nosso Internacional e, muito menos, para a sua torcida. Como já coloquei em comentários anteriores, seria ótimo se a direção do nosso Internacional fizesse uma prestação de contas à torcida, esclarecendo as entradas (origem das receitas) e as despesas (destino das saídas), assim como a identificação da divisão das somas alcançadas com a venda de jogadores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.