NAQUELE LONGÍNQUO 6 DE ABRIL DE 1969

 

Às vésperas da reinauguração do GIGANTE DA BEIRA RIO, trago um fato acontecido na data de sua fundação.

O grande dia 6 de abril de 1969 (Imagem: Arquivo BAC)
O grande dia 6 de abril de 1969 (Imagem: Arquivo BAC)

Tudo era festa para os colorados naquele 6 de abril de 1969, porque seria inaugurado o que era tido como o maior estádio particular do Brasil, já que o Morumbi só teria a inauguração oficial no ano seguinte.

O despertar do dia foi de um estrondoso espocar de fogos por toda a cidade.  A natureza também parecia feliz, apresentando um lindo dia de sol a todo esplendor. A esperança colorada ressurgia após anos seguidos de carência de títulos, motivada, principalmente, pela construção de seu Estádio.

Dentro daquele meio alegre e festivo, surge um grupo de jovens e vibrantes colorados, preparados para o grande dia. Reuniram-se, ainda cedo, e dirigiram-se ao famoso restaurante da época, o Galo Preto, no Bairro Tristeza. Mais beberam do que comeram. Afinal, tudo era comemoração. Cantavam sem parar: “Papai é o Maior”, uma marchinha carnavalesca de 1955, que o comediante colorado, Pinguinho, cantou-a no rádio pela 1ª vez em homenagem ao INTER, e os torcedores passaram a adotá-la como o 2º Hino do Clube. Ainda hoje é muito cantada, com algumas adaptações em relação à original (anexo).

No mesmo grupo, havia o Alcir, mais conhecido por “Coelho”, que dirigia uma Kombi de sua empresa e nela empilhou todos os jovens rumo ao GIGANTE DA BEIRA-RIO.

Na época era problemático estacionar nas imediações, pois ainda não havia o espaço da Av. Beira-Rio, Marinha do Brasil e do atual Parque Gigante, que foram adicionados, posteriormente, pela feitura de novos aterros. A solução foi encontrada em rua distante, situada nas imediações do antigo Estádio dos Eucaliptos.

A entrada no Gigante foi emocionante, eis que, pela 1ª vez, os jovens ingressavam naquele que pareciam adivinhar ser o futuro palco das grandes glórias da história do INTER.

Tudo transcorria normal até então. Os problemas viriam a surgir depois. Desfiles de bandas, escolas e desportistas apareciam, entre os quais, com destaque às atletas da SOGIPA.

Ainda não havia sido cortada a fita inaugural. Enquanto isso, centenas de bandeiras tremulavam com simultâneos fogos, sendo espocados a toda hora, dentro do Estádio. Na época, ao que recorde, não havia o rigor da proibição de fogos que é tido nos dias de hoje. Eram muitos soltados e lá pelas tantas chegou às mãos de um dos integrantes do grupo, conhecido por “italiano”, em vista do forte sotaque que ainda carregava de sua origem serrana, e o mesmo sem hesitar, pegou o foguete e o estourou ao alto, em direção ao gramado. Um ato inconseqüente, que muitos haviam feito antes, sem aparentes problemas.

Por infelicidade do responsável pelo foguete, uma atleta da SOGIPA, que havia desfilado pouco antes, posicionada nas proximidades, possivelmente recalcada e torcedora do rival, viu o ato do jovem e denunciou-o a um brigadiano, que se dirigiu ao local. A dedo-duro teve seu merecido castigo, diante da estrondosa vaia recebida de colorados adjacentes, reprovando sua atitude. Isso, até trouxe conforto ao infrator.

O policial foi implacável, chamou o jovem, que sem contestar foi ao seu encontro. Por solidariedade, o mais velho integrante do grupo, de nome Adib, já falecido, acompanhou o responsável, que recebia aplausos confortantes da torcida, como a aprovar a sua atitude. Hoje, provavelmente, teria o efeito contrário ao da aprovação daquele da época.

O policial encaminhou os dois a uma sala fechada, ligada a uma porta interna do estádio. Havia outra porta aberta, que, para tristeza de ambos, dava para a saída do Beira-Rio. Conclusão óbvia deles: Fomos postos pra rua.

O desespero do jovem do foguete era tanto, que se lamentava: – Sonhei tanto por esse dia e não vou poder assistir o jogo. O desespero era ainda maior, porque se culpava também pela expulsão do amigo.

Para felicidade de ambos, surgiu uma luz, eis que o Adib era amigo de infância do porteiro (Portão 2 ou 8 ?). Foi lá, deu um abraço no mesmo, cochicharam um pouco e lá veio um sinal para o torcedor faltante se aproximar. Novamente os dois foram colocados para dentro do estádio. Na época, tal fora possível, tendo em vista que não havia catracas e todo o aparato de controles e fiscalização existentes nos dias de hoje. Afora isso, o ambiente era propício, pois tudo girava em clima de festa, diante do surgimento do majestoso Gigante da Beira-Rio.

É claro que os dois voltaram aos seus lugares, junto ao restante do grupo. Aí o Martins, já falecido, de pé com o pessoal da vizinhança começou a aplaudir e, na iminência do jovem do foguete emitir palavras e gestos, recebeu uma canelada de seu companheiro, que assim falou: -Italiano fdp, se tu fizeres mais uma bobagem, te cago a pau!

Foi o que bastou e o jovem assistiu caladinho o restante da festa. Na verdade perdeu pouco, porque ainda presenciou o corte da fita inaugural, feito pelo Engenheiro responsável da obra, Ruy Tedesco, ladeado pelo Presidente do S.C. INTERNACIONAL, Carlos Stechman, Governador do Estado (Walter Peracchi Barcellos), Prefeito de Porto Alegre (Telmo Thompson Flores) e outras autoridades presentes (foto anexa). E o que é mais importante, vibrou com a vitória sobre o Benfica de Portugal, assistindo com visão privilegiada o 1º gol, feito por Claudiomiro, uma vez que estava sentado exatamente atrás da goleira; o gol de empate feito por Eusébio, em falta cobrada, em que o goleiro Gainete ficou parado esperando a sinalização de tiro indireto, que não houve. Por fim, a vitória final, com o gol de desempate feito por Gilson Porto. Tudo, ainda hoje, permanece presente na retina do referido torcedor, que, por pouco, quase deixara de assistir a partida inaugural.

Antes de terminar, prevejo que os leitores já devem ter captado o nome do protagonista do foguete, que o levou, por minutos, à expulsão do Gigante da Beira-Rio. Seu nome: Heleno Costi.

A pesar do ocorrido, como foi bom ter vivido aqueles episódios, exceto o do foguete espocado e da momentânea expulsão acontecida.

Para o jogo da inauguração do próximo domingo, o signatário espera reprisar os momentos festivos daquele memorável 6 de abril de 1969. É claro que, desta feita, sem foguetes no Estádio e expulsão do Gigante Para Sempre!

Saudações Coloradas

Heleno Costi    

4 thoughts on “NAQUELE LONGÍNQUO 6 DE ABRIL DE 1969

  1. Pessoal,
    No post foi mencionada a marchinha “Papai é o Maior”, que na época da inauguração do Gigante da Beira-Rio era tida como o 2º Hino Colorado. Como não foi adicionada, para quem interessar saber a original é só acessar abaixo, aparecendo depois do HINO OFICIAL (no gol do Fernandão).
    http://www.youtube.com/watch?v=0CW-71rtwOE

    Com modificações no tempo e cantada hoje em dia, é só acessar
    http://www.youtube.com/watch?v=L22hFI8H4Vg

    SC

  2. Melo,
    É verdade, carregar a bandeira para ir ao jogo era fato corriqueiro. Depois, sob o pretexto do mastro (pau de sustentação), que poderia ser utilizado para atos de violência, foi proibida a sua entrada, ou melhor, permitido somente o pano. Ora, isso motivou um certo desistímulo para mim e demais torcedores em levar a bandeira. É por isso, acredito, que se vê poucas bandeiras nos estádios, hoje em dia.
    Quanto ao ajuste de contas, minha sorte é que naquela época não passavam jogos ao vivo pela TV, e nada contei em casa, ficando , assim, incólume de repreensões. Meu pai, embora fosse uma pessoa boníssima e brincalhona, acredido que não deixaria passar em branco o ato feito dentro do estádio.
    SC

    1. Boa tarde, gostei de saber do contexto que envolveu as bandeiras nos estádios e de entender a realidade da época. Tenho uma bandeira da final do campeonato Gaúcho de 1969 , ano da inauguração no nosso Beira-Rio, no qual fomos campeões em cima do nosso rival. A bandeira é linda , com Beira-Rio no fundo e um jogador com a faixa de campeão Gaúcho de 1969.

  3. Alô você Heleno!
    lIndo texto. O coração deve ter saído pela boca, não? Mas enfim, consegui acompanhar tua narração vendo as imagens, posto que estava lá também, muito fiéis.Falastes de passagem em bandeiras, isso é um fenômeno que desapareceu de nossos estádios e era incentivado pelas direções, imprensa etc. Mas concluindo, e quando sairam do estádio e chegaram nas proximidades de suas casas, houve “ajuste de contas”?
    Hoje é dia de ir conferir o novo “Pinheiro Borda”, recomendação a esses “jovens que presenciaram a primeira: IZORDIL!!!
    Coloradamente,
    Melo

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