O futebol brasileiro é caracterizado por seus “pensadores”, acadêmico ou não, como sendo portador de uma identidade própria, que o singularizaria perante outras nações. Portanto, seria uma característica inerente aos brasileiros “jogar bola” de uma determinada maneira, a qual constituiria uma marca cultural carregada por nós desde o nascimento. Essa auto-representação que nos impusemos criou uma forma particular de praticar tal esporte, pensá-lo e vivenciá-lo em nosso cotidiano; que designamos “futebol-arte”. O futebolista (ou jogador de futebol) é um profissional entre os meninos cuja prática do desporto coletivo é fundamental.
Um dos pontos principais na elaboração do futebol-arte é a constatação de que haveria uma “afinidade eletiva” entre o tipo de futebol por nós praticado e o tipo de indivíduo existente no Brasil. Acaba de se definir de maneira inconfundível um estilo brasileiro de futebol, e esse estilo é uma expressão a mais do nosso mulatismo ágil em assimilar, dominar, amolecer, em dança, curvas ou em músicas, as técnicas européias ou norte-americanas mais angulosas para o nosso gosto: sejam elas de jogo ou de arquitetura, ser brasileiro é ser mulato – inimigo do formalismo apolíneo sendo dionisíaco à seu jeito – o grande feito mulato. [Freyre, 1945: 432, vo1. 1]
Esse “jeito mulato”, de fundo psicológico, também seria utilizado para definir o sucesso do futebol no Brasil. O futebol apareceu, em oposição direta ao remo, como um esporte mais “democrático”, mais acessível e fácil de gostar. Sua aceitação pelo público, em detrimento do remo, é explicada por autores como Gilberto Freyre, Nelson Rodrigues e João Saldanha pela natureza mais democrática do futebol. Este seria aberto a pessoas franzinas, baixas, altas, gordas e magras, enquanto o remo exigia para sua prática verdadeiros atletas gregos; de todas as nações – como Olavo Bilac gostava de dizer: “Craque já nasce feito” e “Futebol não se aprende na escola”. O jogador brasileiro já nasceria com um dom, o de possuir uma técnica inigualável para esse esporte, sendo preciso apenas soltá-lo em campo. Para os adeptos do futebol-arte o treinador não teria capacidade para ensinar táticas ou jogadas ensaiadas a esses artistas de genialidade insuperável.
O “futebol-arte” praticado por “malandros”, “mulatos” e “dançarinos” começou a ser questionado em seu primado sobre o imaginário futebolístico do Brasil. Instalou-se uma crítica à lentidão, à ineficácia, à improdutividade, à falta de objetividade, aos passes de efeito desnecessários e às firulas para a “arquibancada ver e aplaudir. O processo “dramático” de formação de uma identidade para o brasileiro e seu futebol permanece inacabado. As distintas perspectivas continuam criando e recriando, em luta constante, suas verdades a cada novo impasse, nova tomada de decisões e escolha de caminhos. E o futebol gaúcho conseguiu uma mescla de tudo isso, o seu surgimento tem no seu DNA todas as características já descritas e um tempero peculiar que o jogo mais veril, forte, pegador, de garra. Mas diante de tudo isso onde foram para esses nobres artistas da bola? Andam sumidos ou escondidos nas entre linhas do desenho tático, ou do comportamento fiel ao plano de jogo estabelecido pelos técnicos de futebol. Sim meus amigos – e deste mal que o excrete colorado e demais equipes sofrem a falta de jogadores que decidam do algo mais; ficou tudo mais burocrático. Parece que não temos vida, alegria, tudo foi robotizado ate o entusiasmo da torcida.
Não vemos mais jogadores como tesourinha, Falcão, Caçapava, Bodinho, Larry, Fernandão, Escurinho, Leônidas, Pele – estes só para citar e exemplificar. O que vemos e um futebol burocrático e que muitas vezes não decide nada. Ate mesmo o nosso camisa 10 agora tem que marcar ao invés de criar. Esta tudo errado ou paramos num tempo que dificilmente voltara. Estamos órfãos da plasticidade das jogadas, da alegria das pernas tortas de um mulato sorridente, nos falta o craque que decide. Não ouvimos mais a torcida aclamar, gritar com “fulano em campo não ha placar em branco”. Não obstante o futebol colorado segue o seu caminho entre dribles e marcações a procura do futebol arte – no meio desta robotização burocrática. E fica a celebre pergunta onde estas o craque, o artista decisivo, o gênio do futebol arte!!
POR ADRIANO GARCIA – EL MAGO
Falei ao meu sobrinho de 30 anos estes dias: Guri porque tu não se dedicou ao futebol….” ah tia, jogava muito. Não servia para as escolinhas de hoje em dia.Não tinha empresário e nem ninguém influente nos clubes daqui.Desisti”. Risos da família reunida num churrasco de final de semana à beira do mar incomparável de Capão da Canoa. Fiquei pensando( … )Mas o guri joga muito mesmo. Estaria rivalizando com Messi e Cristiano Ronaldo e talvez, com um pouco da liderança que tem não teríamos levado aqueles 7 da Alemanha( … ) Alguns segundos de silêncio e ele resmungou. “Aprendi a jogar em pracinhas tia. Trombava mesmo e o campo era cheio de buracos e quase não tinha grama. Era obrigado a saber dominar a bola e correr com ela grudada no pé…A gente podia driblar, ir e voltar com a bola pra só depois fazer o gol.E saia muitos gols bonitos e os feios tambem. Mas a gente brincava de futebol e era muito bom.Divertido.” É não daria certo, concluí. O guri aprendeu a jogar futebol. Quantas pracinhas e campinhos temos em Porto Alegre hoje para estes guris que estão crescendo aprenderem a jogar? Não precisa né. Matricula na escola do irmão do Ronaldinho. Com cimento e 80 guris pra jogar 5 minutos. Chuta a bola pra arquibancada, derruba o adversário e não deixa ele jogar e pronto. Pois é!
Olá Adriano.
Alem dos aspectos pertinentes abordado por você, creio que à medida que o futebol foi se transformando num negócio que envolve muita grana, os dirigentes, técnicos e preparadores físicos passaram a cobrar muito dos atletas, cada um com seus motivos, dirigentes preocupados em vitórias a qualquer preço, técnicos sabem que três derrotas seguidas já estão com seus empregos a perigo, preparadores físicos transformando jogadores de futebol em verdadeiros atletas, capazes de correrem 15 Km em 90 minutos, mas perdendo agilidade, flexibilidade etc..
Ai entra a participação do torcedor que não perdoa o atleta que arrisca uma jogada mais elaborada que privilegie a técnica , caso seu erro resulte num contra ataque ou em gol do adversário o jogador é severamente vaiado e dependendo a importância da partida definitivamente queimado.
Tudo isso nos faz assistir verdadeiros embates entre gladiadores e como torcedor sentir saudade do Inter da década de 70, como apreciador do esporte do Flamengo de 80 e São Paulo de 90 para ficar nos dois exemplos.
Abraço colorado.
Alô você Adriano!
Abordastes um assunto que se fosse levado a sério seria tratado por dois ministérios: o dos esportes, junto com CBF, e o da educação. Esse problema está diretamente ligado à falta de espaços que em um programa nacional poderia ser liderado pelo min da educação em conjunto com ministério das cidades. Espaços concedidos um programa escolar de âmbito nacional poderia envolver todos os estudantes municipais estaduais e até particulares macificando o esporte e produzindo astros aos borbotões, assim como os USA fazem com o basquete. Mas estou falando de coisa seria, será que “eles” estão a fim?
Coloradamente,
Melo