Grenal é grenal, ou seja, guerra. Vale tudo, desde que o adversário perca sua louca pretensão de existir. Vale mesmo? Acho que não. Na guerra, os soldados nunca abandonam o jogo nem voltam para casa: estão sempre no front, vestidos para matar. a camiseta do time da vocação não é um ornamento, é a primeira pele. Depois vem outra, a que sofre arranhões e contusões. No estádio, no bar, nas ruas, nos trens, o azul deles e o nosso vermelho sangram mais do que os ferimentos reais.
Essa certeza absoluta de que o time do coração é único e que na outra margem só existem lendas não significa que as pessoas se trucidem quando se avistam, mesmo que isso possa ter acontecido às vezes nesse século de História. A guerra é no sistema de valores, no imaginário, na cultura esportiva, na argumentação eloqüente, no discurso fúnebre, na passeata ensandecida, na roda de conversa. A linguagem, pautada pela lógica transtornada, trabalha a representação da guerra.
Hoje teremos mais um grenal válido pelo campeonato brasileiro. Na casa, onde nunca nos venceram (vamos aproveitar e enfatizar essa condição até não poder mais). No cenário de, hoje, envolve ambos os clubes em brigas importantíssimas na tabela. O Grêmio quer G-4. O Inter ainda tentando se motivar depois da Libertadores.
Em meio à busca dos objetivos de cada um, teremos mais um amado clássico! E que hora melhor do que agora, quando os maiores rivais do futebol brasileiro precisam se reencontrar no ano e quando mostram dois times que são, na verdade, uma incógnita. Partindo da disputa nacional para o clássico, o Inter lidera a disputa particular com folga, sendo quase trinta vitórias a mais que o rival.
Se ficarmos presos aos números, e somente eles, perde o sentido a disputa de mais um jogo. E só quem vive o clima do embate sabe o que isso significa. A provocação anterior ao jogo e a amada corneta após ele, além da famosa ‘arrumada na casa’ é que fazem sentido. Porém, a mística do clássico de Porto Alegre é tanta que torcedores de ambos os times, deixando o seu clubismo mais íntimo de lado, afirmam com veemência: GreNal é GreNal.
As próximas rodadas do Campeonato Brasileiro só tendem a melhorar a briga na competição, que por muitas vezes deixa a desejar em qualidade técnica, mas tem uma tabela fantástica, onde do último aos primeiros colocados qualquer ponto faz a diferença e uma sequência de vitórias pode colocar até o lanterna na esperança de uma vaga na Sul-Americana. Sentimentos à parte voltemos aos dados. Analisando o caminho de ambos os times até a partida, temos caminhos bem distintos. Para o Grêmio, teoricamente, todos os adversários têm sido difíceis e complicados e, por incrível que pareça, pelo time que tem isso também tem se revelado verdadeiro para o Internacional.
Por essas e por outras, não existe Grenal amistoso, jogo que significa sempre uma decisão. No coração de cada torcedor, a verdade dói: nenhum dos dois compartilha territórios, não convive em acordos tácitos de fronteiras. Cada um tem pleno domínio dos espaços. O estádio é um só, a Arena OAS ou o Gigante da Beira Rio colorado. São realidades incomensuráveis entre si. São vistos, em cada lado, como fantasias megalômanas de inimigos convencidos de que fazem parte do futebol. Neles, o que se disputa não são torneios, campeonatos, títulos, mas a prova de que os outros não passam de ficção. Não se trata, portanto, de um estado de espírito definido pela divisão (no caso do Grêmio, de segunda divisão), mas hegemônico em cada minuto do dia.
Quem está fora não consegue entender. Quando se trata como guerra, não é amor ou algo parecido, mas estratégia. Nem divertimento, mas tática. Ninguém veio ao mundo a passeio. Há uma tarefa a cumprir e por isso o campo de batalha fica coalhado de bravos.
Não se trata de uma alegoria, metáfora ou parábola. Nem pode ser visto como a política. É a coisa em si. No momento em que os adversários se lançam uns contra os outros, para decidir quem restará vivo dos escombros, não pode haver dúvida sobre o que está realmente acontecendo. Não é esporte, passatempo dos fracos. É um mistério. Chamam de paixão. Dizem que é doença. Mas é algo maior. Talvez uma guerra mesmo!
Por isso o Grenal é uma guerra. Ou não, mas com uma diferença: é assumida por cidadãos livres, que não abrem mão de suas convicções e não matam por amor. Fazem tudo para que seu lado predomine, mas possuem persistência, qualidade dos guerreiros. Se não for nesta temporada, será na próxima. Ninguém convencerá o inimigo a desistir. Pois, se isso acontecer, acaba o jogo, é o fim da graça. O bom é continuar pelos séculos afora, como se cada decisão fosse a última e cada gol a consagração de um destino.
É isso. Beijocas…
Simone Bonfante – Criciúma/SANTA CATARINA
Inter: no campeonato das paixões és líder invicto e isolado!
Alô você Simony! Por tudo isso e por muito mais greNAL é diferenciado. Até pela paternidade da expressão greNAL é greNAL pairam dúvidas, gera discussão. Quem seria o autor da frase? O colorado Ildo Menehetti ou o gremista Carlos Nobre? Há defensores para as duas posições. Até aí existe a famosa b-polaridade. Nada é igual. Coloradamente, Melo
Permitam-me opinar respeitosamente:
Uma guerra sim, mas uma guerra de sentimentos, de emoções vividas, relembradas em cada jogo. Uma guerra química e física dentro de nós, quando nossa adrenalina sobe, a circulação do sangue aumenta, a respiração se ofega e o coração bate loucamente acelerado!
Um guerra de sentimentos aflorados por instantes de pura expectativa e por pura esperança de mais uma batalha que será vencida, sim, dessa forma como eu descrevi, pois jamais entro no estádio pensando em ser derrotado!
O greNAL é sim uma guerra de nossas mentes com nossos corações tentando expressar cada um de sua forma, o que sentimos enquanto sentados na cadeira, de pé inquietos ou procurando o melhor lugar para ficar, aguardamos o manto sagrado colorado, aparecer com nossos jogadores entrando em campo.
Às vezes esses sentimentos são feridos, magoados por uma derrota, mas nosso amor pelo clube é tamanho, que logo nossos sentimentos se curam e fecham as feridas, e lá novamente nos encontramos na guerra entre nossos corações e mentes, e que quando os dois chegam ao mesmo ponto de paixão, nossas cordas vocais expressam o amor dizendo entre tantas palavras:
INTER, ESTAREMOS CONTIGO!
Obrigado.