Habemus ‘tecnicus’

Dizem que no Brasil todos são técnicos de futebol. É mais ou menos assim. Todo mundo gosta de dar opinião sobre a escalação de um time de futebol, todos reclamam do treinador que errou ao fazer uma substituição de um jogador durante uma partida e o time perdeu o jogo. Todo mundo quer ser técnico. Mas, ser técnico de futebol é fácil? Não sei. Mas o primeiro passo é entender bem de futebol. Só quem sabe tem competência para ensinar bem outras pessoas.

Muitos dos treinadores em ação pelos clubes do Brasil são ex-jogadores. Porém, a passagem pelos gramados não é obrigatória. Dizem que quem não jogou bola não entende da coisa. Em alguns casos é verdade, em outros não. Na escassez de profissionais no setor já mandei meu marido fazer um cursinho online de técnico de futebol e meu filhote de seis anos treinar na escolinha como lateral direito.

Um técnico hoje em dia precisa ter noções de psicologia do esporte, fundamentos técnicos e táticos, fisiologia, preparação física. No seu trabalho do dia-a-dia, geralmente é em dois períodos (no Brasil) e há muitas viagens e raras folgas nos fins de semana. A situação do mercado apresenta um bom número de profissionais, mas trata-se de uma função de resultados, sem estabilidade. Porque existe uma regra comum: o técnico sempre estará na corda bamba, pois poderá perder o cargo a qualquer momento, por motivos técnicos ou políticos.

O que vale mais a pena para aqueles que “fingem” entender do riscado são as viagens, a oportunidade de conhecer culturas e lugares diferentes. Além disso, pode ser o caminho para quem gosta de futebol, mas não tem qualidade para ser jogador. O salário é melhor do que a da maioria dos brasileiros. O ruim é a dificuldade de se manter no emprego devido à pressão por resultados, a falta de estrutura e, para a grande maioria dos profissionais, o constante atraso nos pagamentos.

Existem centenas de técnicos de futebol no Brasil, mas quantos são realmente bons? Cansados dos medalhões, os clubes da aldeia gaúcha decidiram investir nos emergentes, que são mais baratos, já que medalhões não estão dando resposta no quesito custo/benefício. Neste sentido, o Inter contratou Argel, conhecido no clube por ser cria da casa. Mas o que esperar de Argel?

Dizem que Argel é bom em motivar seus jogadores, mas creio que o técnico é muito mais que isso. Espero que Argel treine jogadas combinadas, não se preocupe em ser bom na relação com a imprensa e se importe com o clamor da torcida. Enfim, são diversos fatores que pode influenciar diretamente no sucesso de Argel no clube

Relaxamento – Foi um ponto de debate no Inter. Muita folga e com jogadores sempre poupados se criou um relaxamento do grupo e os méritos por um trabalho bem feito de Aguirre foi por água a baixo devido a desmobilização. Argel tem uma frase célebre a respeito: “Quando morrer ele terá muito tempo pra descansar”. Veremos…

Treinamento – O técnico não tem nome de técnico a toa. Ele é o responsável pela evolução técnica de seus jogadores. E isso ele pode conseguir com treinamentos específicos, palestras, revisão de jogos anteriores, etc. Enfim tudo que for possível para mostrar para Sasha, Vitinho e Anderson o que eles tem que fazer e como eles vão fazer isso. Treinar exaustivamente bolas paradas, jogadas combinadas, etc, é um dos diferenciais dos melhores técnicos para o resto. Infelizmente, hoje em dia, me parece que a maioria prefere ser o resto…

Comunicação – Argel deve ser um comunicador profissional. Ele deve administrar bem as relações com seus jogadores e entre seus jogadores. Deve intermediar a relação com a diretoria, imprensa e se possível até com os empresários. É preciso que se crie um clima de confiança na equipe, entre seus jogadores, e dos jogadores com o técnico. Ele deve ser sempre justo, e suas decisões devem ser baseadas em critérios claros, para que nunca fique parecendo que o “pai” está dando preferência para um filho mais do que para outro, viu seu Rafael Moura e Jorge Henrique (in memoriam)…

Visão – Este para mim é o atributo principal de um bom técnico. Ele deve ter visão tática, técnica, profissional, etc. Ele deve saber a hora certa de botar tal jogador ou deixá-lo no banco. Deve agir sempre pensando na equipe e no sucesso do grupo.

Motivação – Todo técnico deve ser um motivador da sua equipe. E ele deve usar de todos os artifícios para deixar seu grupo acelerado. Desde uma palestra antes do jogo, no intervalo e no final da partida e, muitas vezes é preciso uma bronca pra fazer as coisas funcionarem.

Revelar – Faz parte da visão futura e, talvez, o legado deixado por Aguirre (Willian, Geferson, Eduardo, Artur, Dourado). Argel saber revelar novos profissionais para o clube. Ter a visão para ver qual a melhor posição para cada jogador, e como ele deve agir para utilizar as suas habilidades da melhor forma possível. A hora certa de lançar o jogador, e o tempo certo de espera para amadurecimento do mesmo.

Se fosse listar todos os itens que se espera de Argel no Inter poderia montar um curso de graduação aqui. Cada um desses atributos poderia ter sido distribuído em um livro. O assunto é extenso, mas o resultado é simples: A vitória! É ISSO, BEIJOCAS…

Simone Bonfante – Criciúma/SANTA CATARINA

Inter: no campeonato das paixões és líder invicto e isolado!