O que está acontecendo com o Internacional? Um clube com mais de 100.000 sócios, não só pioneiro em ultrapassar essas barreiras no Brasil, ultrapassou também as barreiras das grandes conquistas, de 2006 pra cá, vencemos duas Copas Libertadores, um Mundial Interclube FIFA e tantos outros títulos internacionais que tornaram o Inter conhecido como o Campeão de Tudo. Temos um dos melhores estádios do mundo, consequentemente uma melhor arrecadação (visto os altos preços cobrados por jogo e pelo comércio interno do Gigante), um clube esse que disponibiliza há muitos anos, uma ótima infraestrutura para qualquer atleta de ponta.
A verdade é que tudo isso não reflete em campo, desde 2010 não se vê no Internacional, um time digno de seu nome ou que pelo menos mostre um futebol convincente, que passe segurança ao torcedor.
Atualmente, o que temos visto é um time que melhorou consideravelmente em relação ao ano passado no quesito vontade. Sim, no futebol atual, se a vontade de vencer não for maior que a do adversário, a consequência pode e provavelmente será a derrota. Um bom exemplo atual é o Leicester na Premier League, chamado de zebra (uma preguiçosa forma de analisar futebol é chamar uma equipe de zebra e teimar em explicar os clubes por sua história e não pelo contexto geral). O clube inglês, atual líder e provável campeão da temporada, é um exemplo de que só nome e história não é certeza de triunfo, vitórias se conquistam com vontade e disposição em campo, aliado é claro com outros quatro fatores fundamentais para um time campeão: disciplina tática, dinâmica de jogo, qualidade técnica e organização institucional. Atributos que sobram ao Leicester, já no Beira-rio, estão aquém da grandeza do Internacional. E entendam bem, não está tudo ruim, desde a chegada do treinador é nítida a melhora na vontade e no aspecto defensivo do time colorado, mérito para o treinador Argel, mas ainda temos muito a melhorar nos demais quesitos, não há mágica para o sucesso de uma equipe (fora aquelas Zveiterianas) sem um forte e dedicado trabalho nos fatores abaixo:
Disciplina tática: Argel conseguiu melhorar o time defensivamente, temos uma defesa melhor consolidada em comparação ao ano anterior, mas não vemos evolução nos demais setores do time. Por quê? Vejamos a seguir.
Dinâmica de jogo: Apesar de uma defesa bem postada, os demais setores não contribuem para a harmonia da equipe. É nítida a limitada falta de criatividade do meio-campo colorado, que abusa excessivamente para balões e cruzamentos sem peso para dentro da área, quando isso não dá certo (e quase sempre não dá), o meio campo apela para jogadas forçadas e mal executadas próximas ao miolo da área. No ataque é absurda a ineficiência nas jogadas de conclusão a gol, seja por chutes ruins ou por falta de visão de jogo. Hoje a dinâmica de jogo ofensiva da equipe é o modo “Go Horse” Mas por quê? Vejamos no próximo item.
Qualidade técnica: Voltemos ao anos 90, especificamente em 1993, ano em que Argel estreava profissionalmente pelo Internacional, um bom jogador, zagueiro jovem e aguerrido, que por sua postura e dedicação em campo, logo caiu nas graças da torcida. Naquela época, o Internacional que sempre foi um grande clube, não tinha os recursos financeiros e de infraestrutura como os de hoje, muito menos os números de sócios dos dias atuais, mas apesar disso, sempre contou com bons e esforçados jogadores no elenco, oriundos da base ou não, como era o caso do Argel, Caíco e André e outros vindo de fora como Elson, Mazinho Loiola, mais tarde Daniel Frasson, jogadores vindo de fora que praticavam muito bom futebol. Apesar de toda dificuldade do clube na época, conseguíamos ao menos juntar qualidade técnica nessa mescla de base X contratados.
Já hoje, o que temos são jogadores malformados na base, com extrema limitação nos fundamentos (cruzamento, bom passe, visão de jogo, finalização, etc.) e que muitas vezes demostram displicência e desinteresse em campo, além de um conjunto de atletas contratados a esmo (salvo algumas poucas e insuficientes exceções) que oneram e estendem a dívida do clube e quase nunca geram retorno financeiro ao clube, tampouco títulos. Sim, mesmo após aprendermos a vencer duas Libertadores e um Mundial, hoje temos um time que sequer pode ser comparado aos times dos anos 90, ao Inter em que Argel jogou. E por quê se já somos tão mais como clube, temos sido tão pouco nos gramados? Como o próprio Argel citou certa vez: “…naquela época o clube era desorganizado”. Exatamente o que vem ocorrendo hoje também, o pecado da má organização institucional. A seguir, podemos citar alguns pecados capitais nesse sentido.
Organização Institucional: Talvez o mais importe para um time campeão é a organização institucional. Podemos citar alguns pontos importantes que todos clubes deveriam buscar, por outro lado, as falhas, a serem evitadas.
- Gestão: A gestão de todo clube deve ter foco no sucesso em campo e nos bastidores atuar administrativamente para a continuidade desse sucesso. O que for bom deve ser mantido e melhorado, um clube jamais deve ter seu foco em favores a empresários e cabos eleitorais ou negócios. Mas esse é o cenário atual dos clubes brasileiros.
- Categorias de Base: A base do Internacional é reflexo do mau momento do futebol brasileiro, há uma quantidade enorme de atletas na base de qualidade insuficiente para o tamanho do Inter. Porém, o principal problema é a má formação do atleta. A base entrega ao profissional jogadores despreparados para executar suas funções, com mínimas qualidades e extremas limitações de fundamento. Ora, se um lateral não sabe cruzar, ele deveria ser encaminhado para aulas exaustivas de cruzamento. Um bom exemplo de aperfeiçoamento da base é a formação de atletas japoneses do tênis de mesa, onde durante todo o primeiro ano o atleta treina apenas o domínio da raquete e a bola. Já no futebol, a escola alemã atual utiliza métodos semelhantes, adotando para cada ano, foco em conhecimentos específicos e intensivos aos atletas;
- Oposição: Devem se organizar para o bem do clube e não pensando em seus próprios grupos;
- Torcida: Torcedores atentos, ativos e participativos com o que acontece na administração do clube e durante os jogos. Hoje, em todos os sentidos não há isso, é muito fácil jogar para os grupos políticos a cobrança de uma gestão melhor e para as organizadas o papel de torcer. A torcida apoia pouco no estádio, mas grita nas redes sociais, onde está o caldeirão vermelho de 2006, que apoiava o time durante os 90 minutos e que cobrava após o jogo, caso necessário? Como torcida estamos muito pacatos, talvez reflexo de 2006, que insistimos para nós mesmos que não acabou. É preciso ter muito cuidado com o comodismo, que pode causar um efeito colateral grave, como a síndrome de Obino.
nosso time precisa de garra,sede de vitória.
esta entrando em campo sem vontade de vencer,amo meu inter mais este time esta mal.
muito boa matéria.
Exatamente Melo, ótima observação. E nesse sentido estamos a um bom tempo defasados, e isso não é um problema só no Internacional, outros grandes clubes brasileiros passam por isso, mas por aqui a situação está complicada, o que é facilitada pela manutenção da característica passiva do elenco, que apesar da renovação constante das peças, não se trabalha uma mudança de atitudes.
Alô você FAbiano!
Grande postagem. Abordando com muita propriedade tópicos importantíssimos na vida do Internacional.
Me detenho no aspecto equipe própriamente dita. Não podemos como escrevestes ter somente jogadores voluntariosos cheios de vontade. Eles precisam de retaguarda. Equipe se faz com todos. Mas insisto tem que ter alguém de vestiário, de futebol, que conheça a boleirada e suas manhãs que possa conversar com o treinador com conhecimento de causa. Esforço, boa vontade, honestidade, bom caráter são ótimos predicados mas não servem se não estiverem acompanhados de competência e experiência.
Coloradamente,
Melo