Quando pensamos postar lembranças e experiências vividas dentro e fora do nosso INTERNACIONAL, com certeza absoluta, sabemos que vamos cometer uma série de erros, com esquecimentos da inclusão de fatos e pessoas importantes em nossas vidas. Mesmo assim me atrevo a tentar relatar experiências importantes e tentar de alguma forma iniciar uma troca de informações com velhos amigos e companheiros de manto sagrado.
Vou focar exclusivamente minha vivência de INTERNACIONAL, sem esquecer ou não reconhecer meus antigos companheiros de G. N. União (o início de tudo, pelos ensinamentos do Campos) e o Petrópole (no final, pelas orientações do Pedro Américo).
Incentivado pelo sonho de meu pai, Fredy, de me ver com o manto Colorado cresceu a idéia de “mudar de ares”. Meu início no INTERNACIONAL teve a condução e orientação do diretor de basquete na época, o Balbão e, depois a condução competente de um dos maiores amigos e conselheiro que tive, nosso inesquecível e competente técnico Heron Heinz. Nessa época, jogava basquete, trabalhava em dois ou três empregos e terminava o curso científico (como era chamado o atual ensino médio). Como havia tempo para tudo, até hoje não sei explicar. Recebia uma ajuda de custo e alimentação complementar em um restaurante na esquina da Rua José de Alencar, frente a Silveiro, importante para um guri pobre, pois era muito magro e precisava de “um incentivo” real. Assim nasceu e cresceu esse amor imensurável e essa gratidão eterna ao nosso INTERNACIONAL.
Como torcedor acompanhei grandes jogos de nosso INTERNACIONAL e excelentes jogadores como o Madrinha, o Musso e outros tantos que não consigo recordar seus nomes nessa primeira tentativa e que eram meus exemplos a seguir. Treinava na quadra externa do Estádio dos Eucaliptos, quando não dava para treinar com meus companheiros e, quando chovia, batia bola na frente do portão de entrada da social, lugar de treinamento nesses dias. Os meus horários eram alternados, entre um trabalho e outro, ou seja, quando era possível.
Sonhávamos dia e noite com o Gigante da Beira-Rio e depois com o Gigantinho. Acompanhávamos a construção e vibrávamos com cada etapa vencida. Era ver a realização de um sonho, de ver nosso INTERNACIONAL na grandeza que merecia a sua história e sua torcida.
Como jogador, tive a honra de compartilhar uma quadra e o manto sagrado com a companhia do Graef, Queijo (Kalil), Décio, Lawson, Tiaraju, Paulão, Sergio, Thiesen e tantos outros grandes amigos que pela emoção não consigo recordar.
Permanecem intactas em minha mente lembranças de grandes jogos, como o campeonato gaúcho de basquete conquistado com suor, sangue e “vergonha na cara”, em Santa Maria, após perdermos o citadino e era o único esporte que ainda não tinha conseguido título na festa de 1º ano da inauguração do Beira-Rio. Fomos brindados e honrados com a charge do Sampaulo, fato que nos emocionou e “grudou” em nossas lembranças. Outra ocasião inesquecível, foram os jogos de inauguração do Gigantinho e a narração dos jogos pelo insubstituível Luiz C. Prates, quando vencemos grandes adversários (Flamengo e outros) e, para espanto de muitos, conseguimos ficar com o honroso 2º lugar, perdendo somente para a equipe que era a base da seleção brasileira.
Não posso esquecer as lembranças dos jogos no Uruguai, inclusive na despedida do grande cestinha Moglia, onde chegávamos, antes e depois de cada jogo, tudo parava para reverenciar os atletas do nosso grande e respeitado INTERNACIONAL.
Um carinho especial ao nosso grande guardião e amigo de todas as horas, o Espingarda e do nosso grande massagista e seu óleo mágico Xumico, que era colocado abaixo do nosso distintivo a cada jogo, o insubstituível Maçarico. Infelizmente não consigo lembrar os seus nomes, pois já se passaram 40 anos, mas tenho certeza que eles sabem do amor que curtimos por eles. Gostaria de contar dois episódios, um do Espingarda e outro do Maçarico.
Quando acabamos de vencer um jogo, em Livramento e estávamos dentro do ônibus que nos levaria embora e que estava sendo apedrejado, o Espingarda, que já havia se machucado e agredido, levantou e queria que cantássemos o hino do nosso INTERNACIONAL. Mostra evidente de orgulho e amor ao Clube antes de qualquer medo ou dor.
Quando estávamos no Uruguai, nervosos e chateados por terem marcado uma partida logo após nossa chegada, sem tempo até mesmo de irmos para o hotel e descansar o mínimo, na mesa para o jantar (antes do jogo?) houve entre alguns uma troca de “guerra” de miolo de pão. O Maçarico juntou do chão os pequenos pedaços de miolo de pão e os comeu, dizendo que enquanto alguns estavam jogando fora, muita gente não tinha o que comer. Que todos pensassem um pouco sobre isso. O silêncio da vergonha tomou conta da mesa. Foi uma lição que uso até hoje quando vejo situações semelhantes.
Poderia citar muitas outras lembranças, mas as oportunidades surgirão, principalmente quando começarmos a trocar informações com outros basqueteiros do nosso INTERNACIONAL e adversários, pois apenas estou começando a “puxar” pelas minhas recordações. Não vai faltar espaço para citar também outros grandes amigos basqueteiros como o Escobar, Sanvicente, Rampinini (meu mais terrível e leal marcador), Franco Conte (pai e filho), Purpão, Purpinho, Roberto Leivas, Valença, Scarpini, Zanini, Marsiglia e outros do nosso mundo do basquete. Gostaria de agora me lembrar de todos, mas peço desculpas, pois com o tempo irei lembrar e corrigir as omissões.
Antônio Carlos Pauperio – Salvador/BAHIA
Colorado até morrer!
Vidal, grande Colorado. Sempre acompanho teus comentários e sempre aprecio a clareza e profundidade que colocas em teus textos. Nós Colorados temos essa mania boa de querer o melhor para o nosso Internacional. É verdade, hoje quando valores verdadeiros não são apresentados, são deturpados e são exaltadas as mais diversas formas de “se dar bem”, de “vender” maus exemplos e fazer o mal vencer na maior parte do tempo, de fazer pouco e sempre querer algo em troca (trar tudo como um negócio lucrativo), o esporte seria uma grande válvula de escape para melhor conduzir e aprimorar a educação de nossos filhos e ainda resultaria em grandes benefícios à sociedade. No esporte aprendemos que temos que nos esforçar (trabalhar), treinar (nos preparar e aprender), lutar (não temer as dificuldades de jogos ou da vida), encarar as dificuldades como oportunidades 9buscar a realização de nossos sonhos) e aceitar de cabeça erguida vitórias e derrotas em disputas (não fugir das nossas responsabilidades, independentemente dos resultados alcançados) e principalmente defender o manto do clube que vestimos com amor, respeito e dignidade (respeito ao Internacional, ao Brasil, ao nosso amado Rio Grande do Sul, às Instituições e aos demais membros da sociedade). O mínimo que podemos fazer é viver intensamente nossos valores, não calar frente aquilo que não concordamos, e transformar nossas vidas em exemplos a serem observados e seguidos. Se cada um pensasse assim e fizesse o que pode fazer, quem sabe tudo não melhoraria.Um abraço amigo, fraternal e cada vez mais Colorado.
Paupério:
Parabéns pelo seu belo texto e paixão pelo Sport Club Internacional. Queria te comentar que me emocionei bastante pelos seus relatos, pois em um período que querem que transformar todos esportes em negócio, principalmente o futebol e bom ler um pouco de nostalgia e torcer para quem sabe um dia o esporte volte a ser esporte e que cumpra a sua função social e educacional dentro da nossa sociedade, com amor, paixão e civilidade.
Saudações Coloradas.
Cláudio R. Vidal
Alô você Pauperio!
Tu acabas de me proporcionar um passeio pela nostalgica Porto Alegre dos anos 60/70.
Lamentável que esse esporte que já foi sem sombra de dúvidas o segundo na preferência dos gauchos e dos brasileiros esteja hoje praticamente relegado a planos inferiores. Quem vivenciou aqueles anos sabe dos eletrizantes clássicos Petrópole x União, GreNAL, Inter x Cruz , Gre x Cruz, com transmissão via rádio pelas principais emissoras de POA, Rádio Difusora, Rádio Guaiba, Rádio Gaúcha e Rádio Farroupilha. Os ginásios, especialmente do Petrópole e do União eram sempre lotados e as revistas esportivas exibiam matérias. Jornais específicos como a Folha Esportiva da Caldas JR ou o Diário de Notícias das Emissoras associadas faziam amplas coberturas. Saudades, saudades!
Paulo, é verdade… Época boa e tempo gostoso de recordar. São lembranças que jamais se apagarão de minha mente, principalmente os jogos na inauguração do Gigantinho, que até hoje marejam meus olhos. Logo após fazer minha postagem lembrei de alguns jogos em que torcia como nunca pelo nosso Internacional, lembrei do Carlos e Osiris. Tinha um ala, que não recordo o nome, se jogasse hoje, faria 50 pontos por partida, pois só arremessava da zona morta e que hoje valeriam três pontos. Também acho lamentável que o Internacional não “acorde” para os Jogos Olímpicos que serão realizados no Brasil, principalmente com todos os investimentos que existem, incentivos cada vez maiores a medida que o tempo for passando, retorno publicitário garantido e volta à um passado cheio de vitórias, conquistas e de orgulho colorado. Os ginásios, na época, ficavam lotados com a torcida colorada. Temos o Gigantinho “entregue às traças” em relação a finalidade em que foi pensado, pois ele não foi construído para ser apenas uma “casa de espetáculos”. Além de uma pena, um desperdício inaceitável, como no futebol, mostra a miopia gerencial, falta de visão, o pensamento limitado, pequeno em relação ao futuro e toda a incompetência dos homens que hoje lideram nosso clube. Só para reavivar a memória de alguns, temos ainda hoje colorados (Paulão, é um exemplo) vestindo a camiseta canarinho da seleção de masters, o que penso que quase todo mundo desconhece. O próprio biotipo da miscigenação que formou o povo gaúcho, aliado a essa garra que nasce já no berço, essa vontade de ser sempre o primeiro, de não temer as dificuldades do presente e sempre desafiar as do futuro, está sendo muito pouco aproveitado e muito pouco valorizado. Temos condições de “alavancar” os esportes olímpicos em nossa terra, basta apenas “abrir os olhos” e aproveitar esse excelente manancial humano disponível nas escolas, ruas e quadras esportivas. Caso não concordem com o meu pensamento, vejam os resultados de nossos poucos, mas excelentes atletas olímpicos e a conclusão é somente uma, são muito poucos, previlegiados por terem essa oportunidade e devem enfrentar dificuldades homéricas. Parabéns a clubes como o G. N. União e a Sogipa, pela visão e manutenção de escolas de atletas, equipes reconhecidas, atletas excepcionais e credores de um trabalho que já existe há várias décadas. Ontem mesmo, à noite, assisti o jogo de futebol de salão e a vitória do Carlos Barbosa sobre o Santos e, como gaúcho, aflorou aquele orgulho pelos feitos de nossa gente e que nos arremetem à nossa terra..
Muito bacana o relato grande Pauperio… eu que nunca havia ouvido falar do basquete Colorado, conheço um pouco mais da nossa história alvirrubra. Pena que hoje ele não exista mais e o Inter não investe em outros esportes de verdade. O futsal foi um belo exemplo de sucesso.
Tínhamos que nos inspirar no Barça, que além do futebol de campo tem handebal, futsal e mais outras duas modalidades que não vem a memória no momento. Sucesso em todos eles, capturando os adéptos e torcedores de todos os lados.
Abraço
Débora, concordo contigo. Você não encontra, nem no site oficial do nosso Internacional, alguma referência aos esportes amadores. O basquete trouxe muito orgulho a nós Colorados. É uma pena que assim como outros esportes, não sejam efetuadas as correções devidas. Muitos verdadeiros Colorados, devido a uma paixão ao clube, sustentaram a existência de esportes amadores. O dinheiro não é tudo e isso eu aprendi dentro do Internacional. Muitos encontraram espaço em suas profissões, seus trabalhos, perderam dinheiro, tempo e sonhos lutando para manter esses esportes amadores. No basquete, por exemplo, quando a memória me ajudar, vou reportar minhas experiências vividas com alguns desses Colorados. Era gente que tirava dinheiro do bolso e repartia o que tinha. Era gente Colorada de verdade, que vivia o clube e se doava sem receber nada em troca. Na minha postagem coloquei o Espingarda e o Maçarico, que como disse infelizmente não recordo dos seus nomes, eram COLORADOS verdadeiros. A dedicação deles ao nosso Internacional e o desinteresse por qualquer tipo de retorno era uma coisa indescritível e, hoje, seria exemplo pra muita gente que coloca o manto colorado, mas não o veste. Algumas lágrimas rolaram… Tenho certeza, que como foi para mim e muitos de nós Colorados, a conquista do Mundial de Clubes FIFA (detalhe importante FIFA), deve ter sido para eles a realização do maior sonho de suas vidas. Sinto muito não ter presenciada a cena da vitória na companhia deles… Para encerrar, ao meu modo de ver, é uma baita injustiça não haver referências, nem no site oficial do clube, sobre esses colorados que trouxeram tanta alegria à nossa massa Colorada.