Todos nós temos nossas origens de torcedor, ou seja, os motivos pelos quais nos levaram a torcer por determinado clube, em especial para o nosso Internacional.
Ouço amiúde os amigos dizerem: Já nasci colorado. Isto é apenas uma maneira simplista de dizer o porquê se tornou torcedor do INTER. No entanto, sempre há um momento ou impulso inicial que nos leva a tal escolha, quer por influência familiar, comunitária, regional, circunstancial ou por qualquer outro motivo.
De minha parte, sempre tive presente os motivos de minha opção e forte ligação com o INTER, em muito influenciados por contos ouvidos ainda quando guri em minha terra: Guaporé, cidade serrana do interior gaúcho, mormente por estarem relacionados à fundação e primeiros anos de existência do S. C. Internacional.
Presentemente, diante da aproximação de seu aniversário, entendo ser um momento propício em relatá-los. Foram frutos da convivência com antigos torcedores contemporâneos ao fato, dentre eles destaco meu pai Fiorello, conhecido por todos pelo apelido de Gildo, o qual possuía sua turma, sendo alguns já velhinhos, cujo ponto de encontro era o Café da Rodoviária ou a Praça Vespasiano Correa, a principal da cidade. Afora isso, os bate-papos ainda eram alimentados em sua fabriqueta de calçados com seus operários como também com os amigos que iam lá visitá-lo.
Ainda criança, eu apenas escutava as narrativas dos fatos que passavam a me envolver e contagiar, notadamente quando relacionados ao INTER, fazendo crescer toda esta minha imensa paixão colorada.
Lembro inclusive, de certas figuras como a do Dr. João Manoel, que jogou no INTER, nos anos 20, na época em que estudou Medicina em Porto Alegre. Algumas vezes ouvi suas histórias comentadas do tempo em que fora jogador colorado (anexo I). Esse mesmo Médico era muito querido em Guaporé e, em seus últimos anos de vida, foi o responsável pela construção do Cristo Redentor situado no mais alto morro da cidade, visto de todos os pontos e arredores da região, segundo foto do anexo II. Quem sabe no fundo, tal gesto tenha sido de gratidão a Deus por tê-lo feito colorado.
Lembro também de outro personagem, o idoso Irmão Antônio, oriundo da Alemanha, chegado ainda jovem à terrinha, mas logo despertando sua paixão pelo INTER. Nas aulas apresentava uma postura prussiana tão temida pelos alunos, mas fora delas convertia-se no maior bonachão e gozador, a ponto de sair pela praça e cafés da cidade após os jogos, portando sua batina da congregação marista, com o fim de tocar flauta aos rivais azuis. Com freqüência reunia-se com a turma. Ouviam-se histórias relativas aos seus tempos da Alemanha, bem como do Brasil, particularmente de Guaporé, incluindo as relacionadas ao seu grande afeto pelo colorado.
De tantos contos e histórias ouvidos, uma das que mais me impressionara era sobre um determinado grupo de jovens residentes em Porto Alegre, liderados por três irmãos da família Poppe, cujo intento era filiar-se ao então clube da Baixada (depois Azenha), mas que tiveram como resultado a não aceitação. Para nossa sorte diziam os colorados guaporenses, pois daí começava a nascer a idéia de um novo Clube, dando origem ao nosso querido S. C. Internacional. Esse mesmo grupo revoltado pela rejeição acabou reunindo-se no porão de uma casa situada na então Rua da Redenção, 141 (foto da época que compõe anexo III), hoje correspondendo à Av. João Pessoa, 1025 (anexo IV). Era o distante dia 04 de abril de 1909. Conseguiram reunir em torno de 40 pessoas, em sua maioria jovens estudantes e comerciários, na casa do citado endereço, onde residia João Leopoldo Seferin que acabou escolhido como o 1º Presidente Colorado.
O grupo provinha das mais variadas origens e etnias, dentre as quais alguns descendentes de italianos que levou a turma lá de Guaporé a tomar as dores da rejeição para si, eis que certas famílias conheciam ou tinham parentesco com alguns desses integrantes. Pelos dados oficiais históricos, a rejeição ao grupo fora atribuída a não ascendência germânica de seus integrantes, embora ficasse comprovado que no próprio grupo, houvesse descendentes alemães que não aceitavam tamanha discriminação, a exemplo de Wetternich, Kluwe, Müller e Möeller, tendo alguns até participado da formação dos primeiros times colorados.
Pelos relatos ouvidos, dizia-se que a rejeição também estaria vinculada a aspectos sócio-econômicos dos personagens que compunham o grupo. Neste particular havia uma conotação aos rivais azuis como sendo “grupo de almofadinhas”. Se examinados os elementos históricos, verificar-se-á que tal designação fora herdada ainda de décadas anteriores, atribuída ao legendário Antenor Lemos, jogador e fanático torcedor, depois dirigente colorado e da Federação Gaúcha de Futebol.
Também aprendi que o nome Internacional fora influenciado por homônimo de São Paulo e simbolizava o agrupamento de todas as nacionalidades e povos. A cor vermelha era inspirada no bloco popular carnavalesco da época (Venezianos) que, cá entre nós, não podia ter sido mais feliz, por representar a cor do sangue de todos e constituir o símbolo do amor e da paixão. E como o rival representava um grupo segregacionista de elite, os fundadores colorados deram uma conotação contrária a isso, trazendo em seu símbolo o entrelaçamento das letras S, C e I, configurando a integração de todos, sem distinção de raças, credos e costumes (anexo V). Aí já estava caracterizada a origem popular e o nascedouro daquele que depois veio a ser consagrado como “O Clube do Povo”. Todas estas idéias mexiam comigo e me fascinavam, fazendo com que, cada vez mais, me ligasse ao colorado.
Lá pelos meus 8, 9 anos já discutia com colegas de aula sobre esses contos ouvidos que, embora alguns parecessem fantasiosos, constatei depois com pequenas nuances e variações sua combinação com a própria história oficial do Clube.
Além das histórias e contos escutados, sempre buscava mais informações pela leitura do então Diário de Notícias ou Correio do Povo, indo diretamente à seção de futebol e fazendo recortes de tudo que se relacionava ao colorado. Como meu pai sabia que estavam dirigidas a este propósito, deixava passar ao ver seu jornal em retalhos. Extraia tudo sobre a biografia de atletas e escalações, jamais esquecendo da primeira que passou a fazer parte do meu time de botão (futebol de mesa): La paz, Florindo e Oreco; Mossoró, Odorico e Lindoberto; Luizinho, Bodinho, Larry, Jerônimo e Chinesinho. Meu irmão e demais colorados não tinham vez porque dessa escolha não abria mão nos jogos e competições que realizávamos.
A curiosidade era tamanha que fazia buscas e comparações, a ponto de constatar que o INTER continha em suas cores, aquelas dos dois maiores movimentos políticos da história gaúcha: Maragatos (vermelha) e Ximangos (branca). Sempre brincava com os rivais azuis, dizendo que o símbolo maior do gaúcho era o lenço colorado. E para maior felicidade, a bandeira de nosso Estado não continha a cor azul.
Em relação a cores, lembro que meu pai era tão ligado ao colorado que, sendo um dos fundadores de um time local, de nome Independente, rival do Juventude, que possuía a cor azul, foi um dos responsáveis para que a camiseta mantivesse a predominância vermelha, com algum retoque verde, mas jamais o azul.
Vejam meus amigos, não tinha como não trazer de berço a paixão colorada.
Muitas vezes me vejo na lembrança daquele piá ouvindo a turma de velhos senhores, entre eles meu pai com todo seu entusiasmo a contar casos de futebol, com ênfase no seu colorado.
Os tempos lá se foram e os integrantes daquela turma há muito não se encontram mais em nosso meio. Meu pai faleceu em 1999, acompanhou toda a história do INTER até então, de vez que nasceu dois anos antes de sua fundação. Não chegou a assistir às grandes conquistar coloradas no âmbito internacional, especialmente a Libertadores e MUNDIAL FIFA. Entrementes, deixou o legado para que seus filhos e netos as vivenciassem, vibrando pelo INTER. Quem sabe, continua a torcer com sua turma pelo colorado num outro plano ou dimensão.
Enfim, todos os fatos narrados e outros pormenores que dispenso relatar para não tornar interminável o comentário, criaram robustos alicerces em minha pessoa sempre voltada para a cor vermelha. A mais bela por sinal.
Cada um de nós tem lá suas lembranças e motivos de paixão.
Eu tenho os meus e, portanto, salve o S. C. INTERNACIONAL.
Heleno Costi – Porto Alegre/RIO GRANDE DO SUL
Colorado é a minha paixão!
Paupério,
Lembro do Ezequiel. Não cheguei a vê-lo jogar, mas numa excursão do colégio a POA (morava ainda em Guaporé) visitamos o Olímpico (o Ortunho fez as honras da casa) e na visita aos Eucaliptos quem nos recepcionou foi o Ezequiel. Na época não existia esse negócio de Comunicação Social, com visitas programadas e coisas assim. Também recordo do jogo contra o Botafogo (2×2 lá e 2×2 aqui) e depois no 3º jogo fomos eliminados.Pudera, o Botafogo era uma verdadeira seleção (Didi, Zagalo, Garrincha, Nilton Santos etc…).
Falaste em dois mitos: Falcão e Figueroa. Que jogadores!
Olha, só em pensar no jogo de hoje fico nervoso. Mas estarei lá.
Abraço
Simone,
Lembro desse time que citaste. É da década de 80. Bom time, mas, infelizmente, não chegou a grandes conquistas.
O que fazer, eu na minha idade pude assistir todas as maiores glórias do INTER.
Abraço
Heleno, foi muito interessante ler a tua inteligente e apaixonada postagem. Meu primeiro time de botão, por incrível que pareça, também era o mesmo que o teu, mas não sei porque, acredito que por ter ido ao jogo, meu lateral esquerdo (Lindoberto) era substuído pelo Ezequiel, aquele que parou o Garrincha (é parou, pois não eixou o “saudoso e maravilhoso pernas tortas jogar”), no campo dos nossos maiores secadores (infelizmente fomos obrigados a jogar aquela partida contra o Botafogo lá). Quando vejo hoje esse temor demonstrado por alguns “pavões” e arautos da falsa superioridade alheia, tenho certeza que nunca viram nosso INTERNACIONAL jogar na dificuldade. Hoje não temos um Falcão (que botava a bola debaixo do braço e só parava após reverter o resultado), Figueroa (a área era dele e não tinha nada para ninguém), Caçapava (dono total do meio de campo e de todos os rebotes possíveis) e outros grandes jogadores que envergaram o MANTO COLORADOS, mas poderão aprender um pouco da nossa tradição, durante o jogo de amanhã. COLORADOS, preparem seus corações, que vem “chumbo grosso” para deleite de nossos corações e para fixar para sempre em nossas excelentes lembranças.
Em tempo:
Melo,
Nunca esquecendo que daquela equipe citada 7 (sete) integraram a Seleção Brasileira, Campeã do Panamericano, sob o comando do também técnico colorado: Teté.
Sou colorada por causa de meu pai. Meu marido também é. Segundo ele, aqui no meu ouvido, ganhou um broche do Dalegrave quando o Inter foi a Taquara RS e era a cidade onde ele morava. O time: Benitez, Edevaldo, Mauros (Pastor e Galvão),André Luiz, Ademir, Cleo,Ruben Paz,Silvinho (Valdomiro),Geraldão e Silvinho. Tec: Ernesto Guedes…. eu, bem..sou novinha (rsrsrsrs) sou bem depois disso…
Melo,
Lembro do goleiro Guaporé, da família Casagrande. Ele pintou bem nos aspirantes (na época não chamavam categorias de base), mas não jogou muito pelos profissionais. Pelo que me consta terminou a carreira cedo.
Quanto a Casemiro, do Grenal do Século, não dá para esquecer, porque com sua expulsão o INTER acabou o 1º tempo com 10 jogadores e estávamos perdendo por 1×0. No 2º tempo com os 2 gols de Nilson veio a sensacional virada.
Quanto a Serafina Correa, foi distrito de Guaporé por muito tempo. Era chamada de Linha 11 e até conhecida por “Rosário de Guaporé”. Emancipou-se nos anos 60, mas como Casemiro nasceu antes, o mesmo pode ser considerado filho da terra. Pena que antes tenha jogado na Azenha.
Abraço
Alô você Heleno!
Que leitura agradável, especialmente no período em que se avizinha o aniversário do “Campeão de Tudo”. Te saber oriundo de Guaporé, me faz lembrar que dali, dessa cidade surgiu um goleiro que atuou no Inter nos anosn 60 e que trazia como idenficação o nome do muúnicipio. Todos o chamavam de “Guaporé”. Ali ao lado outro município também contribuiu par os nossos feitos relevantes. Falo de Serafina Correa que nos deu Cassemiro Mior, atleta integrante daquela equipe que venceu o greNAL do Século. A Equipe que referes como a primeira que te marcou é a da minha lembrança especialmente pela dupla de atacantes que protagonizaram as famosas tabelinhas: Larry e Bodinho. Bonito Heleno, bonito!