Dentre as inúmeras viagens por esse mundo afora, a ida ao Japão para acompanhar o INTER na disputa do MUNDIAL FIFA 2006, sem qualquer sombra de dúvidas, foi a mais sensacional. Não poderia ser diferente, porque ir ao outro lado do planeta para assistir a maior conquista do time de coração é algo indescritível. E, além do mais, o ambiente tão agradável e descontraído, junto a um grupo de abnegados colorados, na busca de um mesmo objetivo, não tem preço que pague.
E tudo começou com a conquista da Libertadores.
Confesso que não tinha projetado minha ida ao mundial interclubes, mas devido a um compromisso assumido a meus filhos de que se o INTER vencesse a América, o acompanharia na trajetória seguinte no Japão. E nessas condições fui incentivado nos seguintes termos: “Agora não tem volta, tens que ir”.
De início, um tanto receoso, comprei o pacote e embarquei rumo a Tóquio. De cara, no próprio avião, inúmeros colorados já criavam um ambiente amistoso e familiar. Com uma parada em Pretória – África do Sul e um tour lá programado, o pessoal passou a se conhecer melhor. Até o trajeto final, parecia que o grupo já estava junto há bastante tempo.
Após 26 horas de viagem, num ambiente descontraído e favorável, chegamos em Tóquio, conforme pode-se vislumbrar na foto anexa, postada em ZH pela Operadora S7, em edição extra do dia da grande conquista.
Nos primeiros dias praticamente não se dormiu. Logo na chegada ao Keio Hotel foi feito o chek in e deixadas as bagagens, partindo-se para um passeio já programado pela cidade. E em qualquer lugar que se ia viam-se colorados vestindo o manto vermelho, oriundos das mais variadas cidades gaúchas e brasileiras e até do exterior. O total anunciado era de 1.500 torcedores, ou até mais, a perambular pelos pontos turísticos de Tóquio.
Os nipônicos, de educação oriental bastante fechada, não se furtavam ao entusiasmo dos colorados. Até procuravam posar juntos para fotografias. Em anexo, apresenta-se uma foto de japoneses com nosso grupo e ainda se pode vislumbrfar os encantos das folhagens douradas de ginko biloba espalhadas por toda a cidade, próprias daquela época do ano (dezembro). E à noite viam-se letreiros luminosos por toda parte, com uma infraestrutura impecável de serviços, transportes e comunicações. O problema para nós era que as ruas não continham nome, cuja localização lá é feita pela designação de prédios, monumentos e praças de destaque. Aquela escrita cheia de traçados, ininteligível para os ocidentais, era salva pelo inglês que também acompanhava os nomes das estações de metrô e pontos turísticos da cidade.
Embora todo o entusiasmo comentado, era o Barcelona o grande protagonista da disputa, ficando o INTER e demais como meros coajuvantes. Tanto a mídia européia como a asiática badalavam o time espanhol, dando como certa a conquista do mundial pelo mesmo. O espaço dedicado ao INTER com os demais participantes juntos era em quantidade bastante inferior àquele ocupado unicamente pelo time europeu. As lojas de material esportivo pareciam de propriedade espanhola. Ronaldinho Gaúcho, o melhor do mundo na época, era a bola da vez. É claro que se viam cartazes espalhados pela cidade, alusivos também ao INTER, mas em escala menor. Fernandão, era o nosso astro maior, com sua foto segurando a taça de Campeão da Libertadores.
Iniciado o mundial, após passarmos com dificuldades pelo Al Ahly, parecia que nosso destino estava traçado, enquanto o Barcelona simplesmente passeava pelo América do México, com show de Ronaldinho, Deco, Iniesta, Xavi, Puyol e outros craques, que formavam uma verdadeira seleção de futebol, tendo 10 de seus integrantes pertencentes ou de passagem pelos escretes de seus respectivos países.
A vitória do Barça era tida como certa e a festa parecia preparada para eles. Até e-mails foram recebidos de torcedores adversários do rival daqui, recomendando que aproveitássemos o turismo, porque no domingo o Barcelona nos daria um passeio.
Depois do show visto do adversário frente ao América do México, a questão passava a ser de como iríamos enfrentar e vencer aquele poderoso Barcelona no domingo. Naquela altura criava-se um ambiente de desalento e preocupação. E percebendo esse clima de torcedores acabrunhados, dentro do ônibus que se dirigia à estação ferroviária, da qual tomaríamos o trem-bala rumo a Kioto, surge a figura de Leo Iolovitch que, utilizando o microfone da guia, fez um flamante discurso. Com sua oratória espetacular, conseguiu dar uma guinada no moral e ânimo do grupo. Tudo mudou a partir daquele momento. O otimismo voltara no seio do torcedor, que passou a cantar como nunca: “Colorado, colorado, nada vai nos separar…” ou “Vamo, vamo INTER…” E ainda o refrão: “Ronaldinho amarelão, o melhor do mundo é o Fernandão”. Esses colorados muito contribuíram para contagiar outros torcedores. Tanto no Keio Hotel como adjacências, tudo era vibração no aguardo da grande final em Yokohama.
Mas era necessário algo mais e a solução encontrada pelo grupo para enfrentar a batalha que se aproximava, seria de fazer bastante barulho durante o jogo, com o fim de neutralizar o adversário, que certamente teria a grande maioria da torcida no estádio, propensa a torcer a seu favor, já que era tido como a estrela da festa.
Os instrumentos de percussão que os colorados possuiam não eram muitos. Era preciso reforçá-los com a aquisição de mais um tambor, mas de escassa existência naquela região, haja vista o seu pouco uso na cultura local. Desta feita, houve muita procura pelas lojas de Tóquio, até finalmente aparecer um tambor, porém bastante diferenciado dos conhecidos por aqui. Tinha um formato cônico, de custo não tão acessível aos padrões brasileiros. E para adquiri-lo fez-se um rateio no grupo. Podia-se contribuir com ienes, dólares ou euros, segundo o dispor de cada um. Esse mesmo tambor teve seu destino posterior levado à sala da Presidência do INTER.
E assim, o grupo colorado ficou preparado para sobrepor a vibração adversária e incentivar nossos atletas, num estádio repleto de torcedores, principalmente japoneses. E durante o jogo, o que mais se ouvia era justamente o barulho dos 1.500 colorados, posicionados em pequenos blocos no estádio de Yokohama. Sobressaia o nosso grito diante de uma torcida de comportamento silencioso como a oriental, que se limitava a aplaudir educadamente a cada bela jogada e finalização, especialmente adversária.
E assim veio o resultado gratificante do esforço colorado, através da tão sonhada conquista. Afinal, o adversário não era um time qualquer e sim o temível Barcelona, que vencera a todos até então, nas mais variadas competições.
Desnecessário comentar o jogo em si, bem como o mágico gol de Gabiru, selando a conquista, tendo em vista ser de pleno conhecimento de todos os colorados.
Pelo que se pode ver, ativemo-nos mais a alguns aspectos marcantes da viagem e estada no solo japonês, que sempre estarão presentes em nossa memória. É claro que a vibração após a vitória foi imensurável, durando horas e horas a fio.
No dia após a apoteótica façanha, como era de se esperar, apareceram pelos jornais do mundo inteiro manchetes alusivas ao INTER e sua memorável conquista. A partir de então, em lugar das camisas do Barcelona, as lojas esportivas japonesas passaram a mostrar em suas vitrines, mais os uniformes colorados.
E de simples torcedores anônimos até autógrafos passamos a conceder a japoneses, admirados por torcermos pelo audacioso time brasileiro, que ousou desafiar e dobrar o poderoso Barcelona.
Era a glória total, tendo em vista que o S.C. INTERNACIONAL chegara ao topo do mundo, através da conquista do CAMPEONATO MUNDIAL FIFA.
E, finalmente, podemos dizer: Arrigatô Colorados! Pela inesquecível viagem e frutos dela colhidos na terra do sol nascente.
Saudações Coloradas
Heleno Costi
Simone,
Realmente o barulho feito foi demais. Isso pode ser comprovado pelos vídeos e gravações da partida.
SC
Adorei que você ter contado essa experiência Heleno. Fiquei imaginando como deve ter sido os dias de nervosismo antes da final, em um país tão diferente e tudo sendo tão novo para o Inter! E o barulho que a torcida fez chamou muito a atenção até para quem assitia pela TV, como eu!
Adriana,
Foi realmente um momento mágico como disseste.
Não te preocupes, não, que ainda terás oportunidade de vivenciar o momento pelo qual passamos lá no Japão. Quem sabe eu ainda possa repeti-lo. Seria demais e não sei se meu coração aguentaria.
SC
Heleno vou escrever de novo. Tua narrativa me transportou para aquele dia novamente. Quase infartei. Ficavamos sabendo dos movimentos de vcs lá no Japão em defesa da nossa camisa, por poucos emails que chegavam demonstrando todo o nervosismo. Deu certo. Foi mágico e eu gostaria de ter vivido o que vc hoje conta com tanta maestria. Aproveite sua memória.
Melo,
Infelizmente, é o procedimento que os dirigentes fazem, conforme disseste.
Menos mal que, hoje, o grande dia da conquista e agora também do torcedor colorado (oficializado na Assembléia – estávamos lá) será inaugurada a estátua do grande e inesquecível líder Fernandão, erguendo a taça de CAMPEÃO MUNDIAL FIFA, que nos remete mais uma vez àquele momento de glória.
SC
Alô você Heleno!
Tem momentos na vida que retratam ou rememoram a história do cavalo encilhado. Passou, não montou, tchau! Comigo foi assim, não fui ao Japão. Acompanhei nossos irmãos, entre eles tu, nos representando na Terra do Sol Nascente. Um dia pra não esquecer. Fui recompensado pela festa em Porto Alegre, foi demais. Hoje ´seria o dia pra se fazer um enorme barulho em Porto Alegre, mas lamentavelmente nossos dirigentes não pensam nisso. Cabe a nós não permitir que isso numa progressão se torne um fato a mais. ESSE É O FATO DE NOSSA VIDA COLORADA.
Se Deus quiser. Quem sabe já no ano que vem na Austrália.
SC
Show Heleno.
Ainda estarei numa Final do Mundial com o INTER, e espero que como bom pé quente, estejas junto.
Abraço.