À beira da verdade, não é bem assim aquele clichê de torcedor que se dirige enfurecido a um boleiro qualquer e diz: “Sou eu quem paga teu salário!”. A consolidação dos planos de sócios vem rendendo fortunas a alguns clubes do país, bancando boa parte das despesas gastas com o futebol. O canal de esportes Sportv fez uma reportagem sobre as finanças dos grandes clubes do Brasil.
A Sportv apontou que o Inter lidera o ranking de clubes com maior patrimônio utilizando o cálculo de estabelecer o patrimônio como por igual aos ativos e suas dívidas (www.zerohora.clicrbs.com.br/rs/esportes/brasileirao/noticia/inter-aparece-em-primeiro-em-ranking-patrimonial-de-clubes-do-brasil). O Benfica lidera o ranking mundial. O Internacional é o líder o ranking brasileiro. O interessante é que este número do quadro social sempre se altera em momentos de crise do time nos gramados. Aqui em Criciúma, com o time na série A, penaram, mas conseguiram 10 mil sócios. Com o rebaixamento, o número voltou a menos de 3 mil. Mas isso não vem acontecendo (felizmente) no clube vermelho.
E quando o Inter não jogou no Beira-Rio mediantes às obras da Copa, isso não afetou, significativamente, a fidelidade dos sócios. A inadimplência só cresce quando o time está em crise. É normal. Mas no caso do Inter, essa crise tem que ser das grandes. O exemplo da torcida do Inter leva a uma tentação: concluir que são os resultados de campo que determinam o sucesso de um quadro social é ilusório. O clube viveu um ‘boom’ de associações entre 2004 e 2009, quando conquistou a Libertadores (2006), o Mundial (2006), a Recopa (2007) e a Sul-Americana (2008). Mas o investimento no conceito de torcedores sendo a principal fonte de renda é anterior: em 2003, com o lançamento de seu planejamento estratégico, o clube traçou como meta pular de menos de 10 mil sócios para 100 mil até 2010. Em 2009, ano de seu centenário, a marca foi alcançada. E o quadro associativo seguiu crescendo nos últimos anos, sem estar atrelado a grandes conquistas.
Entendo que o associado é uma mina de ouro que, de tão óbvia, demorou a ser descoberta. O panorama nacional é discrepante a ponto de o Inter, com torcida menos numerosa, ter oito vezes mais sócios do que o Vasco, por exemplo. A razão é bastante simples: capacidade administrativa. Atualmente, o Palmeiras é o clube do momento em associações: são 18 mil apenas em janeiro de 2015, mais do que todo o quadro social de clubes como Vasco e Botafogo. O Palmeiras só tem menos associado que o Inter.
Juntamente com uma reestruturação financeira, o crescimento do quadro associativo é a principal razão do clube ter condições de ampliar os investimentos no departamento de futebol. Quanto mais sócios tivermos, mais forte será o Inter. O tamanho do investimento dos clubes em esforço, criatividade e dinheiro com o plano de sócios também ajuda a determinar o sucesso dele. Quanto mais variadas e firmes forem às ações de marketing com os sócios, mais eles terão motivos para seguir no clube.
O Inter precisa dar ‘graças a Deus’ pela torcida que tem. Nas conversas com o Melo, Reche e Débora em Porto Alegre, comecei a conceituar que fanatismo ajuda, mas não basta: é preciso entregar um produto funcional, bem elaborado e vantajoso, sob pena de o torcedor deixar de ser sócio no primeiro insucesso do time. Na prática, o associado é fisgado como torcedor, mas precisa ser mantido como cliente: revista chegando em dia, descontos efetivamente aplicados, tecnologia funcionando na hora de comprar o ingresso, facilidade para pagar a mensalidade.
Veja um exemplo de como não se faz. Se não fosse o torcedor comum, a estrutura do clube se apresentaria falha. Realizei semana passada uma visita à Porto Alegre a fim de conhecer o novo Beira Rio, que ainda não tinha tido oportunidade, e me felicitar com outros membros do BAC. Fui ao estádio, onde assisti ao jogo contra o Shakhtar com meu marido (Alex) e filhos (Raul, 5 anos, e Bia, 3 anos). Conversei com o Melo, a Ju, a Débora, Tiago, o Reche e me senti em casa e bem à vontade em solo gaucho. Timidamente o Melo quis me bandear pro lado do Salgueiro também. Ai, que fofo!
Na arquibancada do Beira Rio fiquei encantada como a remodelagem do estádio. Na chegada pegamos “um certo trânsito”, porque meu marido se confundiu com o sentido da via pós Copa (pelo menos foi isso que ele justificou). Mas sempre há uma Kombi para nos salvar (deixa isso como piada interna). Lembro depois do Melo comentando que a graça da vida é ter coisas pra contar depois… e rir delas.
Mas o estádio é impressionante. O estádio é maravilhoso. Surpreendi-me com a grande fila para acesso. Mas ela andava depressa, todos contentes e felizes por ver o Inter de novo, já em 2015. Lá dentro adorei tudo. O povo colorado é maravilhoso: os gaúchos têm tradições muito fortes para compartilhar. Além do chimarrão e do churrasco, tem a amabilidade de todos e a simpatia.
Terminei meu passeio pós jogo no dia seguinte visitando o estádio na visita guiada pelo clube. Nota 3. O guia só se preocupava em falar do rival. Chegou até mesmo a citar seus títulos. Nem entramos no vestiário, sala mista etc.. (alegaram falta de energia), passamos pela arquibancada, lateral do gramado e só. Foi decepcionante neste sentido. O setor de comunicação social do clube deixou a desejar. Recebi muito mais informações da Débora e do Melo do que qualquer outro no clube. O vice presidente de comunicação afirmou que o estádio é do torcedor, que ele depende do torcedor, que o estádio só tem vida com o torcedor. Mas saímos de lá muito frustrados com a pouca receptividade que nos proporcionaram. Havia gente na comitiva que visitava o estádio de todas as partes do Brasil que devem ter saído de lá com o mesmo sentimento.
O sócio-torcedor é um produto entre vários produtos do clube. E precisa ser trabalhado assim. O programa precisa ter qualidade, o torcedor precisa perceber valor nele. É uma visão que pode até parecer fria, do futebol como negócio, mas em cima de algo apaixonante. É preciso que você consiga fazer a entrega de um produto de qualidade. Aí o torcedor vai consumir o produto. São consumidores da paixão. Precisa dar tratamento de produto a isso.
Ao entregar um produto de qualidade, os clubes dão um passo importante para minimizar o efeito sazonal dos planos de sócios: a adesão em massa em momentos de decisão de títulos, por exemplo, e a baixa fidelidade depois disso. Para esses projetos, mais desafiador do que alcançar um número expressivo de associados é mantê-los ligados ao clube. É essa a grande missão do Palmeiras no momento e algo que o Inter precisa vencer.
Enquanto o Grêmio, sem time, investe em hambúrgueres e picolés mexicanos, o Inter, em 2014, rodou vários quilômetros pelo interior do Brasil para angariar novos sócios. Em sua pré-temporada, em 2015, levou para Bento Gonçalves máquinas que fazem carteirinhas de sócio instantaneamente. Ponto pro clube.
Vamos comparar o Inter com os clubes do Rio pra finalizar o assunto. A soma dos sócios dos quatro maiores clubes do Rio de Janeiro, por exemplo, dá 101 mil associados: menor que o Inter, sozinho. Esses quatro maiores clubes, somados seus quadros sociais, não alcançam os calcanhares do Inter: a somatória dá 28 mil a menos do que os filiados ao Inter. Outro dado interessante é o elemento lar. Os clubes do Rio não têm casa. É aquele negócio: é minha hoje, mas amanhã pode ser do Vasco, depois do Flamengo. Assim como o Grêmio que não tem casa e não pode investir em um programa de sócios. O Inter trabalha com essa ideia da casa. O torcedor sabe que quando vai ao Beira-Rio, que seus familiares também iam ali. Sabe o lugar onde seu pai e seus tios sentavam e isso é muito importante para um torcedor identificado emocionalmente com o clube.
Um levantamento feito pela Pluri consultoria mostra o tamanho do caminho a ser percorrido. O cálculo está na relação entre número de torcedores e número de associados. No Inter, para cada 100 colorados, 2,6 seriam sócios do clube. No Flamengo, o índice é de uma inferioridade impressionante: 0,16. O Inter se orgulha de seus sócios. Afinal, isso mostra a força da torcida. Garante cofres mais saudáveis. E assegura que o Beira-Rio esteja sempre lotado, certo?
Absolutamente errado. O Inter tem mais de 100 mil sócios e não consegue lotar seu estádio. O erro estratégico para este programa no Brasil é que os clubes não criaram o conceito de lotar estádio. Vivem da mensalidade do sócio. Dá bom dinheiro, mas esse sócio pode deixar mais para o clube. O Palmeiras está comemorando porque está aumentando, isso é fantástico, mas não é o ideal. O Inter tem mais de 100 mil sócios e não consegue lotar seu estádio. Ele está só assegurando que o torcedor vá a grande parte dos jogos e deve se preocupar mais em valorizar seu associado para tê-lo sempre. É um desafio para que os filhos da Bia e do Raul continuem frequentando o clube.
Beijocas…
Simone li teu texto e me surpriendi com todo estes vamos dizer assim despreparo da visita colorada o interessante seria tu encaminhar este texto para a vice presidencia de relacionamento social, passa para o Alexandre p ele ter conhecimento do ocorrido e poder tomar as devidas providencias.
Oi Simone, minha fase de torcedora no estádio depende muito, agora, do dia dos meus velhos pais.Só por isso não estive contigo no Beira Rio.Mas fiquei torcendo que você ao sair estivesse ainda mais apaixonada pelo clube. Sobre a visita ao estádio, sim é uma decepção….Mas não vamos desistir. Nossa missão é ajudar e melhorar sempre mais!
Alô você Simone!
O convite pra ti e o Alex, continua de pé. Ainda é tempo, ou quem sabe montar a estrutura para o proximo carná no RJ.Parafrasiando o poeta: ” as outras que me perdoem mas Salgueirar é fundamental”.
Bem acho de fundamental importância que relates a frustração que não deve ser só tua referente a visita. Comentei contigo que estive em alguns estádios da copa, mas fiquei muito impressionado com a visita na Fonte Nova. Além de um estádio belíssimo dispóes de profissionais,muito bem treinados para acompanhar os visitantes e prestar todo o tipo de infomações. Saí de lá com a sensação de que não fiou um cantinho sequer sem que tivéssemos acesso . Vamos dar um crédito a direção que está entrando para que repaginem e repensem essa visita, e por falar em visita, a de voces nos encheu de satisfação. Voltem sempre, mas voltem mesmo. É sempre muito bom receber irmãos colorados, e ainda mais pessoas extremamente simpáticas como voces.
Coloradamente,
Melo