O futuro do futebol brasileiro

Desde que a Lei Pelé foi bombardeada houve um retrocesso visível no tratamento e desproporcionalidade na relação clubes/jogadores qualificados, fixando de maneira crescente essa relação somente a interesses financeiros de terceiros. A maior prova disso é que não existe mais nenhuma expectativa de honrar a camisa do clube que formou o jogador, a não ser para usá-la como vitrine para uma futura negociação com clubes do exterior. Isso é externado hoje sem pudor algum. Nessa relação atual, o futuro do clube não existe e as consequências sobre os objetivos dos clubes, nas negociações em plenas competições em andamento, não são consideradas e não tem valor algum, frustrando as torcidas, ano após ano. O que vale é o que eu vou ganhar com essa negociação, o resto, é o resto.

Tenho pensado muito nisso, mas como “estancar” essa “sangria” dos melhores jogadores que migram para clubes europeus ou asiáticos em busca de melhores condições de vida. Na atual situação de nosso País (sem entrar na seara política e moral), não são só nossos melhores jogadores que estão deixando o Brasil, mas também muita gente qualificada que busca no exterior a sua valorização como profissionais, cidadãos ou como gente. Nossas categorias de base já são “contaminadas” por diversos interesses  e na grande maioria (se não a totalidade) já pertencem a investidores, que buscam somente o lucro com suas negociações futuras. Condenar, não podemos, pois a regra do jogo hoje é essa. As dificuldades atuais fazem a grande maioria dos jogadores jovens ou até experientes (ou a totalidade deles) “esquecer” valores maiores, ficando, devido a essas necessidades, presos e atados a um comportamento egoísta de sobrevivência pessoal. e atendimento de interesse de terceiros.  O clube que o formou não existe ou não é considerado. Reafirmo, não dá para condenar, apesar de ser lastimável.

Sinceramente, gostaria que fosse iniciado um estudo no futebol brasileiro, para criar uma modalidade nacional de tratamento de jogadores das categorias de base e de jogadores do elenco principal dos clubes em plenas competições, de forma a que esses clubes não fossem prejudicados com a negociação obrigatória de seus melhores jogadores, principalmente no elenco considerado titular ou em fase de formação. O mesmo tratamento deveria se estender a treinadores em atividade em clubes participantes das competições durante o ano de contrato. Basicamente e resumidamente, jogador em formação ou jogador, considerado como parte do elenco principal e treinador em atividade, não deveriam ter a oportunidade de serem negociados até o final das competições em andamento. Com certeza absoluta, uma sugestão semelhante a essa, enfrentaria grande resistência do “status quo” e não tenho certeza que sobreviria. São muitos os  interesses em jogo…

Alguém pode imaginar erroneamente que estou sugerindo uma “escravidão”, mas estão redondamente enganados, apenas minha sugestão é para que a formação dos jogadores jovens seja completada e que os interesses envolvendo jogadores/clubes/torcedores/investidores sejam analisados em conjunto, respeitados e rentáveis para todos. Hoje, os principais prejudicados são os objetivos dos clubes e os seus torcedores são desconsiderados.

Acredito que uma modalidade que poderia ser uma solução para o futuro é “amarrar” e garantir ao jogador, durante um tempo razoável, a posse crescente de partes (%) do seu passe, ao tempo (ano) de sua permanência no clube. Lógico, só seriam aceitos no clube e em sua base jogadores que aceitassem essa “regra” de convivência e crescimento. O clube poderia aproveitar durante mais tempo as suas qualidades e e os jogadores ficariam cada vez mais de posse da totalidade de seu passe.  Com certeza, não teríamos jogadores jovens, promissores, ainda em formação, muitas vezes menores de idade, sendo negociados como frutas em uma feira. Por outro lado, evitando a evasão dos melhores jogadores do clube e treinadores durante o ano e em plenas competições, traria maior tranquilidade e maior segurança a todos, assim como os objetivos planejados pelo clube para o ano poderiam ser cumpridos e seriam evitadas as frustrações às torcidas. No caso de treinadores, os clubes durante o ano não poderiam demiti-los e os mesmos estariam impedidos de sair por interesses financeiros, honrando seus compromissos até o fim e tendo o tempo necessário para uma criteriosa avaliação da qualidade de seus trabalhos.

Uma coisa eu tenho certeza, do jeito que está não pode continuar.

4 thoughts on “O futuro do futebol brasileiro

  1. Beleza de texto, Pauperio. O que acontece na minha visão, os clubes pagam demais aos jogadores, altos salários, mordomias aos montes, não vou entrar no mérito se merecem ou não. Mas daí o que acontece?? Temos que vender pra cobrir estes gastos, o clube entra numa semi falência ou faz negócios antecipados já esperando o quê?? A janela de transferencia, se não vender não tem como pagar as despesas que são astronomicas. O que deveria ter na minha opinião, ou que a fifa implantasse um teto salarial mundial, até pra jogadores de lá de fora, assim o mercado se tornaria igual, claro isso jamais iria acontecer ou irá acontecer. Mas outro assunto que me preocupa, de novo nosso amado salve salve internacional está contratando veteranos, mas pra que, pra impedir o crescimento dos guris da base??? E o pior que tem torcedores apoiando, mas se o uruguaio não deu certo em lugar algum vai dar aqui??? Tomara que eu esteja errado, mesmo que seja só pelo salario que não deve ser menor que 300 pila acho que não foi um bom negócio, digo pelo lado de termos em casa jovens pedindo passagem.

    1. Vanderlei, o que falta como você percebe é visão, gestão e inteligência, alimentando um círculo vicioso em torno só da questão financeira, “esquecendo” a moral e a responsabilidade sobre os rumos do presente em relação ao futuro. Onde iremos parar? Não sei se estou errado, mas acredito que sem um planejamento criterioso não há saída, nem para nosso clube, nem para o futebol brasileiro ou mundial. Todo mundo só pensa egoisticamente em si próprio e em seus benefícios esquecendo valores fundamentais para a sobrevivência sadia de todos. É o mais forte esmagando o menos forte. Os meios justificando os fins. Pior que os fins, são em benefício próprio e não da grande maioria. Se observarmos o que está acontecendo, hoje, é o fortalecimento desmedido e concentração de recursos em poucos clubes e em um mínimo de jogadores, em detrimento de todos os demais. Essa estratégia absurda e burra de tratamento do futebol acaba encarecendo qualquer “cabeça de bagre”, inviabilizando as finanças dos clubes e tirando a magia do futebol. Pode não mudar agora, mas um dia mudará e será muito mais sofrido.

  2. Alô você Pauperio!
    Meu Deus, tens total razão em teu posicionamento, entretanto um passo em qualquer das direções precisa que os dirigentes se conscientizem de que é preciso tratar tudo isso com seriedade, alguns as tem, muita competência (está em falta) assim como uma razoável dose de criatividade. Como mexer em tudo isso? As medidas deveriam ser verticais, de cima pra baixo, óbvio, em nosso caso via CBF. Mas como realizar isso se o presidente não pode dar um passo fora do Brasil pois corre o risco de ser preso. Como fazer isso se as vésperas de eleição, quando era hora de “limpar a casa” os dirigente de Clubes e de Federação até então queixosos de maus tratos pela entidadade Mãe, na figura de seu dirigente máximo, unem-se votam e, por unanimidade elegem o Sr Caboclo, indicado pelo Sr Del Nero o presidente atual. Não houve sequer oposição. Aqueles que eram frontalmente contra, caso de nosso presidente da FGF, ganharam cargo de vice-presidente. Os presidentes dos grandes clubes brasileiros, incluindo aí obviamente os nossos gauchos, também. Como mudar meu amigo, como mudar? Isso não tem cara de politica partidária brasileira?
    Ah, mas não muda mesmo!
    Coloradamente,
    Melo

    1. Melo, caro amigo, é uma triste realidade que enfrentamos atualmente em nosso País, pois os valores são esquecidos e a hipocrisia e a farsa tomaram conta em quase todas as atividades. No futebol nossa situação é muito triste e preocupante, a mercê do comportamento, passivo e adormecido da grande maioria, perante tudo que está acontecendo e que aceita a impunidade dos desmandos e desvios. Nosso País e nosso povo são maravilhosos e a qualidade de nosso futebol e de nossos jogadores são admirados há muitas décadas. Poderia afirmar, são invejados e admirados no mundo todo, apesar de todas as agruras que estamos vivendo. A realidade e o futuro, não só no futebol, exigem mudanças profundas e que devem ser iniciadas logo, com a tomada de consciência de sua necessidade, pois precisamos retomar ao caminho da vivência e valorização de valores, importantes para a convivência pacífica, da paz, da igualdade e do respeito mútuo, não só daqueles que tem a missão de conduzir nossas Instituições, mas de todo o povo brasileiro.

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